O desperdício de água potável no Brasil subiu de 36,7% em 2015 para 38,5% em 2018. Isso significa que para cada 100 litros de água produzida no país, quase 40 foram desperdiçados, o que equivale a cerca de 7.000 piscinas olímpicas perdidas por dia. Os dados são do relatório “Perdas de Água 2020 (ano base 2018) – Desafios à Disponibilidade Hídrica e Necessidade de Avanço na Eficiência do Saneamento”, lançado pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a Water.org e GO Associados.
“Estamos no país com a maior reserva hídrica do planeta, mas muito é desperdiçado. Não damos à água a importância que ela merece”, argumenta Wagner Carvalho, CEO da W-Energy, empresa brasileira que investe na implantação de programas de economia de água e energia. No caso da água potável, 40% do desperdício é causado por vazamentos nas tubulações, mau uso ou fraudes em equipamentos, segundo dados de 2017 do Instituto Trata Brasil.
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Diante desse contexto, a alternativa foi fazer da tecnologia uma aliada. É o caso da Sigfox, sistema da empresa francesa de mesmo nome que usa IoT (Internet das Coisas) para promover uma comunicação sem fio, baseada em software e gerenciamento de nuvem, que contribui para o serviço de rastreamento de objetos.
Oriunda do sonar de submarinos, a rede também pode ser aplicada para gestão e monitoramento do consumo de água em empresas e até mesmo condomínios. O sistema é capaz de analisar, em tempo real, a quantidade de água que um local consome 24 horas por dia. O equipamento funciona submerso, por meio de uma bateria de lítio que dura de três a cinco anos sem colocar na tomada.
“Embora recente, é uma rede que já está disponível no Brasil e opera em empresas como Santander e Grupo Pão de Açúcar”, afirma Carvalho. Em caso de vazamento, a tecnologia emite alertas instantâneos para o email cadastrado na instalação e fecha o registro de água automaticamente. O sistema também é capaz de localizar, com precisão de centímetros, em que lugar da tubulação está o vazamento, além de emitir relatórios virtuais sobre a regularidade do consumo.
“Com o apoio da tecnologia de monitoramento de água detectamos e corrigimos vazamentos na hora em que eles acontecem. Também encontramos oportunidades de melhoria através das análises, mantendo assim o sucesso do nosso projeto de sustentabilidade”, afirma Gustavo Henrique Positelli, executivo de manutenção e missão crítica predial do Santander Brasil.
No Pão de Açúcar, a W-Energy selecionou 155 unidades para fazer a gestão do consumo de água no que seria uma espécie de teste. Segundo a W-Energy, a economia média de água foi de 38%. “Percebemos que muitas unidades registravam consumo durante a madrugada, quando os supermercados estavam fechados – ou seja, havia vazamentos. Com a economia alcançada, abriu-se espaço no orçamento.”
Outro caso de sucesso é o da rede DASA, anteriormente conhecida como Laboratório Clínico Delboni Auriemo. Com a tecnologia de monitoramento, a rede de laboratórios conseguiu reduzir a conta de água – que antes variava entre R$ 38 mil e R$ 71 mil – para R$ 10 mil em apenas dois meses.
O sistema ainda é capaz de estimar qual será o valor da conta de água antes do fechamento da fatura. “Isso permite o provisionamento financeiro. É como se reportasse que vai haver um incêndio antes de pegar fogo. O gestor já pode tomar as providências necessárias e reduzir as despesas”, diz Carvalho.
No Brasil, a tecnologia já foi homologada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), e os custos de implementação começam em R$ 200 por mês. No próximo ano, a W-Energy pretende lançar planos de assinatura para instalar o sistema de monitoramento em residências, a fim de fortalecer a cultura de economia de recursos naturais no país.
Para o executivo, a maior dificuldade para se democratizar o uso da tecnologia no Brasil ainda é a falta de informação sobre como adotar práticas sustentáveis pode trazer um retorno ambiental e financeiro para a sociedade como um todo. “Hoje, esse tipo de rede ainda está nas mãos das grandes empresas, que querem ser protagonistas e admiradas pelos seus consumidores. Precisamos despertar o senso de urgência em todas as pessoas e companhias.”
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