Resultados de pesquisa desenvolvida na Terra Indígena Poyanawa mostram que é possível promover serviços ambientais e garantir créditos de carbono por meio da relação harmoniosa que esse povo mantém com a floresta. O estudo “Desmatamento Evitado na Terra Indígena Poyanawa, Mâncio Lima, AC, Brasil”, realizado por pesquisadores da Embrapa do Acre, do Pará e outras instituições, indica caminhos para o alinhamento de estratégias para aproveitamento das emissões evitadas nesse território protegido pelo programa jurisdicional do estado Acre.
A análise da evolução do uso da terra no território Poyanawa, realizada com base em dados de referência de biomassa florestal e na série histórica de desmatamento de 1988 a 2017, revelou uma taxa média de desmatamento de 21,3 hectares/ano. Nos últimos cinco anos, porém, essa média baixou para 12,8 hectares, evidenciando uma redução no uso de florestas primárias em função de mudanças nas práticas de uso da terra nas aldeias.
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Homologada em 2001, a Terra Indígena Poyanawa possui uma área de 24.499 hectares e apenas 5,8% desse território foi alterado. Esse percentual corresponde a 1.422 hectares, que são utilizados com pequenas pastagens, roçados, capoeiras, quintais agroflorestais, casas, escolas, igrejas, galpões e arena cultural, entre outros usos.
Segundo a pesquisa, o povo Poyanawa tem priorizado as atividades agrícolas em áreas já alteradas e investido na recomposição de áreas degradadas e na implantação e fortalecimento de quintais agroflorestais. “São ações que reforçam a cultura local, aumentam e diversificam a produção agroflorestal e conservam o meio ambiente, gerando um ciclo de retroalimentação. Dessa forma, também contribuem para o alcance de metas estaduais de redução de gases de efeito estufa, uma vez que garantem a manutenção da floresta”, explica o pesquisador Eufran Amaral, coordenador do estudo e chefe-geral da Embrapa Acre. A pesquisa foi realizada por meio do projeto “Etnoconhecimento, Agrobiodiversidade e Serviços Ecossistêmicos entre os Puyanawa”, executado com o apoio da Funai (Fundação Nacional do Índio).
O projeto integra o Portfólio Amazônia, um conjunto de 75 iniciativas de pesquisa e inovação da Embrapa em parceria com uma rede de instituições públicas e privadas, que buscam desenvolver, ampliar e incentivar novos modelos de desenvolvimento por meio da integração da ciência, tecnologia e inovação com as políticas públicas, mercado e com a sociedade.
US$ 38 mil anuais em créditos de carbono
A estimativa do desmatamento evitado na Terra Indígena Poyanawa contempla um horizonte até 2025. Os resultados da pesquisa mostraram que, nesse período, a média de emissões evitadas será de 6.381 toneladas de gás carbônico (CO2) por ano. Com base em parâmetros de negociação do mercado mundial de créditos de carbono, os pesquisadores estimam que cada tonelada de CO2 evitada pode valer até US$ 6 ou alcançar valores mais elevados, dependendo do investidor interessado.
Esse cálculo equivale a US$ 38.286 que, convertido para a moeda nacional, corresponde a um ganho anual de, aproximadamente, R$ 200 mil. A partir desses valores, a remuneração pelo desmatamento evitado na Terra Indígena, estimada pela pesquisa para um período de 20 anos (2006 a 2025), seria de R$ 3,9 milhões.
De acordo com Amaral, os resultados do estudo apontam a possibilidade de elaboração por comunidades indígenas de projetos para Redução de Emissões Provenientes de Desmatamento e Degradação Florestal (REDD). Os dados científicos, aliados à formação de redes de apoio institucional e alinhados ao Sistema Estadual de Incentivo a Serviços Ambientais do Acre (Sisa), podem subsidiar estratégias eficientes para o aproveitamento do carbono social do local e gerar benefícios econômicos para o povo Puyanawa.
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