Preocupado com a sustentabilidade do planeta, o cineasta Fernando Meirelles, conhecido por seu trabalho em importantes obras como “Cidade de Deus” (2002), “O Jardineiro Fiel” (2005) e “Dois Papas” (2019), tem ido além da sua vocação para a sétima arte e está reforçando o ativismo ambiental com investimentos em projetos e negócios alinhados ao meio ambiente. Em entrevista à Forbes, Meirelles é muito claro ao avaliar a longevidade de empresas que não se adequarem aos princípios do ESG: “Preparem-se para a insolvência”, diz.
O seu interesse mais recente foi na foodtech – nome dado às startups do setor alimentício – Olga Ri, que trabalha com o delivery de bowls de saladas, sopas e sobremesas. Com operação em São Paulo (SP), a empresa possui um raio de entrega de oito quilômetros em cada uma das suas quatro unidades, presentes nos bairros da Vila Olímpia, Mooca, Jardins e Lapa.
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A empresa, no entanto, destaca-se pelo seu foco sustentável, que passa por toda a operação. Um exemplo é a parceria com a #eureciclo – plataforma de investimento na cadeia de reciclagem -, que, a cada salada vendida, destina recursos para a retirada de duas embalagens de plástico do meio ambiente. Outra medida é contar com pequenos produtores como a maioria de seus fornecedores.
Por meio de um aporte, de valor não revelado, Meirelles tornou-se o mais novo integrante do quadro de investidores da foodtech. “Uma alimentação baseada em produtos vegetais, especialmente os cultivados localmente, é uma maneira simples de apoiar a manutenção desses recursos, uma vez que tais alimentos consomem muito menos energia e água para sua produção, além de serem, obviamente, mais saudáveis”, afirma o cineasta. “A ideia de Olga Ri é que mais brasileiros possam ter acesso a essa opção.”
A foodtech, porém, não é o único projeto de sustentabilidade para o qual Meirelles está dedicando seu tempo e dinheiro. Veja, a seguir, a entrevista que o cineasta concedeu à Forbes sobre as iniciativas que tem apoiado nessa área:
Forbes: Por que você decidiu apostar na Olga Ri? O que chamou sua atenção em um negócio que já conta com outros players parecidos?
Fernando Meirelles: A Olga Ri tem princípios de responsabilidade social e ambiental com os quais me identifico. Ganhar dinheiro deixando um passivo ambiental, ainda mais depois do último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, em português), não tem mais cabimento. Melhor ser parte da solução do que parte do problema. Também sou vegetariano e tenho uma empresa de palmito agroflorestal. Um negócio de salada faz sentido. Em segundo lugar, achei a equipe à frente do negócio [os fundadores Bruno Sindicic, Cristina Sindicic e Beatriz Bahmdouni] muito sintonizada e preparada. Este time não entrou nessa para brincar, são leves como uma folha de alface, mas agressivos ao mesmo tempo.
F: Já existe um próximo negócio do tipo no seu radar?
FM: Quero ir aos poucos ampliando e diversificando o plantio de árvores e espécies nas minhas fazendas. Já comecei com macadâmia, coco, caju, baru, pequi e maior diversidade de madeiras, não só mogno e guanandi. No momento, estou instalando sistemas de irrigação e placas solares para isso. Infelizmente não dá mais para acreditar que vai chover no verão como sempre choveu.
F: Que outros negócios você tem que envolvam sustentabilidade e ativismo ambiental?
FM: Sou sócio da Floresta Viva Alimentos, empresa que fica no Vale do Ribeira que planta e envasa pupunha. Temos uma marca chamada Taió. Fora isso, planto café, abacate, goiaba e madeira, em outro projeto agroflorestal, este no norte do estado de SP.
F: As novas gerações são mais preocupadas e envolvidas com questões ambientais. Na sua opinião, é possível reverter a mentalidade das pessoas mais velhas com vistas à preservação do planeta?
FM: Há mais resistência, mas é possível. O recorde de calor no Canadá, incêndios na Sibéria, Grécia e Califórnia, enchentes na Alemanha, seca no Pantanal, chuvas torrenciais na China, tudo no mesmo mês, deve ajudar a fazer a ficha cair. Nosso tempo de sermos relapsos com o planeta acabou definitivamente.
F: Se você tivesse que passar uma mensagem para os brasileiros – e para os negócios – que ainda não entraram na era da sustentabilidade, qual seria?
FM: Chame um bom contador para já ir preparando com calma a melhor maneira de lidar com a insolvência. Mas poderia ser pior: você poderia ser um executivo da indústria do petróleo. Aí estava lascado mesmo.
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