Não há sustentabilidade onde a integração de ações não se faz presente. O que antes era denominado única e exclusivamente para o segmento de investimentos, agora o termo ESG (Environmental, Social and Governance, em português Ambiental, Social e Governança) está fazendo parte das áreas de pessoas, gestão e inovação dentro do ecossistema de startups e de grandes empresas. No entanto, como todo termo que é muito utilizado, há grandes chances de não ser usado em toda a sua essência.
Uma coisa é certa: é preciso repensar o conceito de responsabilidade empresarial do lugar de acessório para essencial nas práticas dos negócios porque a fatura de uma gestão centrada no lucro já bate à porta com cenas como a de vilas inteiras debaixo d’água na Alemanha e na Bélgica, chuvas extremas na Holanda e Luxemburgo, deslizamento de terra no Japão, Iraque decretando feriado pois a temperatura estava acima de 50°C, impossibilitando estudo e trabalho, e queimadas na Grécia, Turquia, Espanha e Itália, além de todo impacto ambiental no continente africano e americano.
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Mas como pensar negócios sustentáveis para além dos resultados financeiros, integrando pessoas e meio ambiente? Esse é o desafio que eu assumi ao aceitar o convite de ser conselheira consultiva da Conservação Internacional (CI-Brasil), uma organização que há 30 anos atua promovendo o desenvolvimento sustentável e justo em nosso país, utilizando ciência, políticas e parcerias com a iniciativa pública e privada para conservar ecossistemas críticos, apontando caminhos de equilíbrio entre pessoas, empresas e meio ambiente, diante dos desafios globais de sustentabilidade.
Aqui no Brasil e em âmbito mundial, a Conservação Internacional está envolvida em iniciativas de soluções baseadas na natureza, cujo objetivo é mitigar os efeitos negativos da crise climática. As soluções baseadas na natureza têm capacidade de fornecer mais de um terço do total global necessário para atingir emissões líquidas zero até 2050 e manter o aumento médio da temperatura global em até 2°C, mas, mesmo com um impacto tão expressivo, recebeu menos de 3% do valor investido para reduzir os impactos da crise climática. Precisamos virar esse jogo pela sobrevivência da humanidade.
Outra iniciativa com atuação da Conservação Internacional que envolve desenvolvimento econômico e sustentabilidade é o projeto ‘Nossas Futuras Florestas – Amazônia Verde’, que tem como parceiro o Governo da França e apoiará 24 mulheres indígenas da Bacia Amazônica, região que integra Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname, líderes de iniciativas de proteção e restauração florestal da região amazônica. A iniciativa visa fomentar a igualdade de gênero na região, além de fortalecer seus conhecimentos e meios financeiros para que possibilitem mais autonomia e a liderança de seus próprios projetos, o que contribui para garantir a segurança e a conservação dos territórios e florestas onde moram.
Essas ações vão ao encontro tanto das necessidades do mercado quanto da sociedade, colocando em prática o Tripé da Sustentabilidade, integrando de forma harmônica pessoas, planeta e lucro, com iniciativas de impacto real e verdadeiro compromisso com a mudança.
E as pessoas estão preparadas para isso. Segundo estudo realizado pela agência de pesquisa norte-americana, Union + Webster, 87% da população brasileira prefere comprar de empresas sustentáveis e 70% não se importa em pagar um pouco mais por isso. A pesquisa também identificou que estes negócios são mais bem vistos por seus colaboradores e parceiros, e passam mais credibilidade para seus clientes.
No mercado, nós também temos essa nova percepção com ações como a da B3, que anunciou no início deste ano mudanças na metodologia no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), tornando mais rígidas as regras sobre práticas trabalhistas, diversidade e inclusão, políticas de gestão ambiental, práticas de gestão corporativa e segurança de dados. Com isso, será avaliado, por exemplo, a proporção da remuneração de pessoas negras e mulheres em relação ao grupo de maioria na empresa, e eventos como o rompimento da barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho (MG) serão motivos de exclusão do índice.
E quem não se adaptar aos novos tempos irá sentir no lucro (ou perda dele), com ações como as barreiras comerciais que as commodities brasileiras têm enfrentado, com a recusa de produtos oriundos de áreas de desmatamento ilegal. Se atualizar e se mobilizar para gerar ações efetivas no âmbito de responsabilidade social, governança e ambiental se faz urgente e mais do que nunca existem agentes preparados para auxiliar nessas mudanças.
E você, está preparado?
Maitê Lourenço é fundadora e CEO da BlackRocks Startups, que incentiva os negros a acessarem ecossistemas inovadores e de tecnologia.
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