No dia 11 de setembro de 2001, o empresário francês Alexandre Allard fazia uma reunião rotineira de negócios em seu escritório de Londres. Já muito atualizado em relação à tecnologia, falava com a equipe de Nova York por chamada de vídeo – algo avançado para a realidade de 20 anos atrás. “Enquanto falava, eu conseguia enxergar, através da tela, a janela do escritório norte-americano e a vista para as torres gêmeas. Durante a conferência, o ataque aconteceu.” Da capital inglesa, Allard ficou em choque quando percebeu que não existiam mais torres no horizonte nova-iorquino. “Eu enxergava o prédio como se fosse uma linha cinza. De repente, não existia mais linha nenhuma. Só o céu.”
Uma visão como essa, como se pode imaginar, gera terror e trauma. “Foi um sentimento muito ruim. Mas foi naquele momento, quando percebi a barbárie da humanidade, que me comprometi a lutar.” Depois do atentado terrorista, o empresário deixou para trás todos os investimentos que tinha e decidiu empreender com propósito. Amanhã, 11 de setembro de 2021, duas décadas após a tragédia que marcou o mundo, ele dará início a uma fase importante em sua vida de empreendedor social: o início da plantação de árvores na Torre Mata Atlântica, que vai contar com mais de 200 árvores em sua estrutura.
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Para começar, 11 árvores serão plantadas em homenagem às quase três mil vítimas do atentado às torres gêmeas. “Aguardei essa data porque ela é significativa. Foi quando tudo mudou para mim e para a humanidade. O século 21 começou com essa tragédia”, diz o empresário. Até 11 de novembro, todas as 200 árvores serão plantadas e a Torre Mata Atlântica será revelada no COP26 – a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 – como o novo símbolo da inestimável riqueza verde do Brasil.
O edifício faz parte do projeto Cidade Matarazzo, um espaço de cerca de 45 mil metros quadrados no bairro de Bela Vista, em São Paulo, que conta com uma longa lista de equipamentos: hotel Rosewood; centro de convenções; centro cultural com teatro e auditório; estúdio de música; área gastronômica; mercado de produtos orgânicos; campus para negócios de tecnologia criativa; centro de compras; estacionamento para 1.500 vagas e, finalmente, a Torre Mata Atlântica.
Com investimento de R$ 2,7 bilhões e parceria com a holding Chow Tai Fook Enterprises Ltd, o empreendimento nasce em um espaço que, um dia, foi realmente ocupado pela Mata Atlântica – e busca recompensar a natureza por isso. Allard diz que planeja replantar a mesma densidade que foi desmatada ao longo da história e resgatar a biodiversidade do local. A Cidade Matarazzo – como um todo – terá mais de 10 mil árvores em seu espaço. Mas, para fazer jus à forte iniciativa ambiental, a Torre Mata Atlântica ganhou forma. Com mais de 200 árvores em seus quase 100 metros de altura, o edifício é um marco para a capital paulista, que não está acostumada com florestas verticais.
“São árvores de 10 a 14 metros em cima de um prédio, então fizemos um investimento cuidadoso”, revela o empresário, que começou as obras seis anos atrás. “Não basta simplesmente plantar. As árvores precisam resistir e sobreviver. Tivemos que estudar a resistência delas às torções e aos efeitos da chuva, além de recriarmos a elasticidade natural do solo. Com isso, passamos cinco anos apenas selecionando cada árvore que seria plantada no edifício.”
Além da segurança para que nenhum galho quebre e caia de uma altura de quase 100 metros, a construção também precisou ser reforçada para aguentar o peso de tantas árvores. “Um prédio normal tem uma resistência de 350 kg por metro quadrado. Nós temos uma estrutura preparada para até cinco toneladas por metro quadrado.” Um trabalho caro, mas que visa um objetivo maior do que qualquer valor. “Vamos fazer 4 mil metros de floresta em cima de uma torre. Imagina se isso virar moda?”, pergunta o empreendedor.
No centro da capital financeira do país, Allard espera que a floresta vertical chame a atenção e vire um símbolo para a geração atual. “O ser humano é bárbaro. Ele destrói outras culturas e derruba a natureza. Precisamos mudar isso. A construção desse prédio é um símbolo de resistência e inspiração para que troquemos nossas torres cinzas por um espaço verde.”
Grande fã do Brasil desde os anos 1980, quando já visitava as ilhas de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, Allard quis investir na iniciativa em solo nacional por acreditar em um potencial estratégico. “Em 2002, eu comecei a desenhar alguns projetos e pensar em como fazer algo de impacto, até descobrir que o Brasil era o lugar perfeito para trabalhar sustentabilidade e mostrar para o mundo novos comportamentos. Esse é o país mais verde e valioso do mundo. Tinha que ser aqui.” Em contato com o famoso botânico francês Patrick Blanc – conhecido como “pai” dos jardins verticais -, as primeiras ideias para a Torre Mata Atlântica começaram a surgir.
Mas foi em um passeio de barco em Angra dos Reis que a ideia realmente saiu do papel para se transformar em algo mais próximo da realidade. De frente para a Ilha dos Porcos, que também é conhecida como Ilha do Pitanguy, por pertencer ao cirurgião plástico Ivo Pitanguy, Allard prestou atenção nas montanhas rochosas e na vegetação que saía de suas frestas. “Parece a nossa torre. Um morro onde a floresta cresce em meio às pedras.”
Assim, junto do arquiteto Jean Nouvel, o empresário começou um dos projetos mais importantes de sua vida. Com planos de abrir algumas partes da Cidade Matarazzo para o público até o início de 2022, ele se diz animado pela conquista e pela repercussão do empreendimento quando tudo finalmente estiver pronto. “Será uma nova imagem para São Paulo”, prevê.
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