Segundo uma pesquisa realizada em 2021 pela Rede Internacional de Proteção e Execução ao Consumidor, aproximadamente 42% das alegações de “sustentabilidade” realizadas por empresas na União Europeia são falsas, enganosas ou exageradas. O greenwashing, como é chamada a prática de fazer um produto parecer mais sustentável do que ele realmente é, é também uma das principais preocupações de investidores que querem entrar no mundo ESG (que preza aspectos ambientais, sociais e de governança).
Existem casos famosos de greenwashing ao redor do mundo. Um deles é o escândalo de emissões de poluentes da Volkswagen, ocorrido entre 2009 e 2015, em que a empresa instalou softwares na central eletrônica de seus carros movidos a diesel a fim de alterar o registro das emissões de poluentes nesses veículos apenas quando fossem submetidos a vistorias. As propagandas da marca, porém, prometiam carros com um “diesel realmente limpo”.
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No que se refere a investimentos ESG, os principais desafios são a falta de diretrizes sobre o que define um produto que segue esses princípios e a ausência de padronização na forma como as empresas divulgam seus resultados. “Há um esforço internacional de alinhar essas práticas, mas ainda não existe uma regulamentação específica”, afirma Nathalia Pereira, consultora da WayCarbon.
“Por isso, é mais comum encontrar informações mais robustas sobre ESG em relatórios voluntários como o CDP, que é frequentemente citado por investidores como a principal fonte de informações de desempenho climático”, explica ela. O CDP, anteriormente conhecido como Carbon Disclosure Program, elabora um questionário anual que busca coletar informações referentes a medidas de combate às mudanças climáticas das empresas listadas nas maiores bolsas de valores do mundo.
Ao todo, mais de 9.600 empresas, que correspondem a cerca de 50% da capitalização do mercado global, divulgaram dados ambientais por meio do CDP em 2020, sendo que 1.400 delas são da América Latina. Embora o relatório não inclua apenas companhias com boas práticas de sustentabilidade, todos esses dados podem ser analisados e utilizados como referência para investidores.
Também é possível consultar índices como o DJSI (Índice Dow Jones de Sustentabilidade, na sigla em inglês), criado em 1999, que busca espelhar o desempenho de grandes empresas líderes na adoção de práticas sustentáveis e que entregam bons resultados aos seus acionistas. Na sua seção global, é possível encontrar brasileiras como Bradesco, Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Renner, enquanto a seção de países emergentes inclui Natura, Klabin e Fleury.
Existem também iniciativas para padronizar a maneira como as empresas divulgam informações relacionadas a esses temas, de forma a facilitar a comparação entre elas. Uma delas é a GRI (Global Reporting Initiative), que disponibiliza normas que guiam os relatórios empresariais de sustentabilidade e exploram a fundo cada um dos aspectos ESG.
Outra é a TCFD (força-tarefa para divulgações financeiras relacionadas às mudanças climáticas, na sigla em inglês), que avalia de que maneira o modelo de negócios de uma empresa pode causar impactos ligados à mudança climática. “Existe um esforço de convergir essas diferentes iniciativas, porque são modelos diferentes. A tendência é que eles passem a conversar cada vez mais entre si, para favorecer justamente essa comparabilidade das informações e o acesso para os investidores”, afirma Nathalia.
No caso de fundos com foco em ESG, a consultora diz que o acompanhamento ocorre de maneira semelhante: por meio dos relatórios periódicos da gestora, bem como das divulgações voluntárias das empresas que recebem os investimentos. Assim como em investimentos tradicionais, é necessário pesquisar antes de fazer um aporte para entender a estratégia do fundo e por que aqueles ativos foram escolhidos.
Fabio Alperowitch, cofundador e gestor da Fama Investimentos, também recomenda acompanhar publicações sobre o setor, como as newsletters do Capital Reset, da Estratégia ESG e do Um Só Planeta, que é o maior movimento editorial brasileiro para promover práticas sustentáveis e encontrar formas de enfrentar a crise climática.
“Outra maneira é através de redes sociais”, diz ele. “Depende muito do assunto, então se a pessoa quer olhar mais a parte de clima, há uma série de pessoas de destaque que podem ser seguidas no Twitter e estão sempre publicando a esse respeito. Se é sobre questões sociais, tem outras. Então eu acho que ouvir especialistas é bastante interessante para acompanhar. E o mesmo vale para fundos, porque muitas vezes o investidor recorre ao seu assessor de investimento, mas ele não está muito atualizado em relação à agenda ESG.”
Por fim, também existem iniciativas para avaliar e validar títulos considerados “verdes”, como é o caso da CBI (Climate Bonds Initiative), embora essa rotulagem já siga parâmetros internacionalmente estabelecidos. “Para ser considerada verde, uma empresa precisa fazer um estudo e ter um diagnóstico para saber se esse rótulo realmente se encaixa,” explica Nathalia. “E é necessário, também, uma avaliação de segunda parte, para garantir uma verificação externa de que aquele documento faz sentido, que está de acordo com essas diretrizes internacionais. Uma certificação da CBI, por exemplo, teria essa finalidade.”
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