O Brasil vai passar da marca de R$ 1 trilhão em VBP (valor bruto da produção) agropecuária em 2021, resultado que se deve a dois fatores: atualização do dólar e recorde de produção. “Ano após ano estamos conseguindo aumentar a nossa produção, sem ocupar novas áreas e com sustentabilidade. Um exemplo disso é o trigo, que aumenta anualmente o volume de produção”, disse Celso Moretti, presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) na quinta-feira (8), em audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal.
Moretti, que é engenheiro agrônomo, mestre e doutor em produção vegetal e especialista em engenharia de produção com ênfase em gestão empresarial, afirma, também, que Brasil está descarbonizando a agricultura, tema que será palco de debates na COP-26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) que começa no final do mês de outubro, em Glasgow, na Escócia. “Risco climático é risco de investimento, nesse sentido é muito importante que países, empresas e o agro estejam conectados às necessidades de descarbonização e redução de gases de efeito estufa”, disse. “Temos tecnologias e conhecimento para descarbonizar a nossa agricultura. Produtores que adotam melhores tecnologias fazem a produção sustentável. Precisamos mostrar não só para os brasileiros, mas para o exterior, todo o trabalho que é feito aqui que impacta efetivamente na descarbonização da agricultura e nas mudanças do clima.”
O presidente da Embrapa apresentou as pesquisas em andamento, as mais recentes entregas da instituição, os resultados e as perspectivas para o futuro, mostrando como o investimento público tem trazido resultados concretos para o bem-estar social. Destacou, ainda, a importância das parcerias público-privadas e fundos de investimento privados para maior aporte de recursos para as pesquisas da Embrapa. O orçamento da entidade tem encolhido nos últimos dez anos, de acordo com um levantamento realizado pelo Sinpaf (Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário), apresentado no início deste ano. Exemplos recentes são os de 2019, de R$ 3,87 bilhões, caindo para R$ 3,57 bilhões em 2020 e neste ano para R$ 3,35 bilhões, enquanto o Balanço Social 2020, o mais recente, mostra que para cada real investido pelo Governo Federal na Embrapa, a entidade devolveu à sociedade R$ 17,77 reais, obtendo um lucro social de R$ 61,85 bilhões.
“O mundo precisa saber que o Brasil pode dobrar a sua produção de alimentos sem cortar uma árvore, sem entrar na Floresta Amazônica, na Mata Atlântica, incorporando áreas degradadas e posteriormente recuperadas”, anunciou o presidente, lembrando que o país também está avançando em áreas de ILPF (integração lavoura pecuária floresta), com 17 milhões de hectares, e com meta para 2030 de incorporar mais 10 milhões. “O agro brasileiro está preparado, temos tecnologia e conhecimento para apoiar o compromisso das nações de descarbonizar suas agriculturas. Os produtores que adotam as melhores tecnologias fazem a produção sustentável, não tenho dúvidas.”
Sobre o sucesso na produção do trigo ele dá detalhes do ocorrido. Atualmente, a demanda interna pelo cereal é de 11,5 milhões de toneladas, mas o país produz 5 milhões de toneladas, importando mais de 50%. “Com tecnologia e adaptação estamos trazendo o trigo para o Cerrado. Os primeiros resultados já podem ser conferidos”, disse. Moretti apresentou a experiência do produtor rural de Cristalina (DF), que bateu recorde de produção utilizando a cultivar da Embrapa, BRS 264. A expansão do trigo no Cerrado está acontecendo sem ocupação de áreas novas, somente com o uso de cultivares desenvolvidas para plantio em áreas tropicais e irrigação. “Já temos trigo no cerrado goiano, mineiro e no entorno do DF. Temos 2 milhões de áreas consolidadas, ou seja, específicas para este plantio, para aumentar a produtividade do trigo no Cerrado.”
Moretti mostrou outros resultados, como a Carne Carbono Neutro, o bioinsumo Biomaphos, a Fixação Biológica do Nitrogênio que somente em 2020 gerou uma economia de R$ 28 bilhões com importação de fertilizantes e sobre a inclusão produtiva de pequenos produtores. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 85% dos estabelecimentos rurais são compostos por pequenas propriedades. O país tem cerca de 5 milhões de propriedades rurais. A inclusão produtiva dessa parcela social do campo é um dos objetivos estratégicos da Embrapa. “Desenvolvemos tecnologias para, junto com órgãos de extensão rural, levar tecnologia para esse produtor. Temos realizado parcerias com o Sistema “S”, Senar e Sebrae, as secretarias estaduais de agricultura e o Programa Agronordeste”, afirma Moretti.