Tudo o que você consome no dia a dia impacta a saúde do planeta, liberando CO2 e intensificando o aquecimento global, certo? No caso das empresas, então, toda a atividade produtiva resulta em uma pegada de carbono deficitária. Segundo estudos recentes, emitimos 55 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa ao ano. Há apenas 14 anos, eram 25 bilhões de toneladas. Ou seja, o aumento é assustadoramente exponencial. Nos debates científicos, existe a previsão de que se continuarmos emitindo carbono nesse nível, as consequências para o planeta, em apenas 50 anos, serão drásticas: a temperatura do mundo aumentará 2,5 graus, em média, o que poderá acarretar um aumento do nível do mar, no qual muitas áreas litorâneas, como o Rio de Janeiro e Nova York, ficarão debaixo d’água.
Prevendo esse caos, Luis Felipe Adaime fundou, em março de 2020, a Moss (@moss_earthbr), uma plataforma especializada em compra e venda de créditos de carbono em blockchain. Funciona assim: eles fazem o cálculo da pegada de carbono de determinada atividade, chegando a um relatório com a quantidade de gases de efeito estufa emitidos durante o processo. Daí, propõem a compensação dessa pegada por meio de um incentivo financeiro em um dos projetos de crédito que apoiam, voltados à conservação da Amazônia. Os créditos estão em blockchain, por isso é possível rastreá-los facilmente. “Através da Moss, nossos clientes já enviaram mais de R$ 150 milhões para remunerar o trabalho de projetos de conservação da floresta”, diz Adaime, sócio-fundador e CEO da Moss, que hoje conta com mais de 200 clientes e parceiros, como Amaro, C6 Bank, Gol, Hering e iFood.
FORBES LIFE FASHION: Como a Moss promove a compensação de carbono?
Luis Felipe Adaime: A melhor maneira de promover a compensação é através de empresas parceiras como a Gol e a Hering, que compensam seus produtos. Quando vemos no nosso dia a dia que o custo de compensação é baixíssimo (compensar uma ponte aérea na Gol equivale a R$ 5 e compensar uma camiseta da Hering custa menos de R$ 1), desmistificamos a ideia de que ser sustentável seja caro ou complicado. É somente um hábito a ser incorporado na rotina. Em alguns anos, será tão bizarro não compensar emissões de nosso consumo como fumar em aviões ou não ter o serviço incluído na conta do restaurante. Fará parte de nossas vidas pagar o 1% ou menos pela poluição que causamos ao consumir.
FLF: As empresas brasileiras estão aderindo aos serviços ambientais da Moss?
LFA: Criamos uma calculadora automática que facilitou o acesso de empresas menores à pratica da compensação e temos observado uma aderência cada vez maior no Brasil. Dito isso, ainda estamos a uma década da adoção na Europa, por exemplo. O espaço para crescimento neste setor é imenso: a McKinsey estima que as transações no mercado de carbono global aumentarão de 15 a 100 vezes nos próximos dez anos.
FLF: Como garantir rastreabilidade e transparência através da tecnologia blockchain?
LFA: Ao registrarmos o crédito de carbono em blockchain, preservarmos as informações da origem do crédito e evitamos a dupla contagem: as informações desse crédito ficam disponíveis em sites públicos, como o Etherscan, e assim evita-se a venda de créditos em projetos inexistentes. As transações (volumes e preços) ficam registradas nestes sites e cria-se um parâmetro para o mercado – antes da Moss, as transações aconteciam ‘em balcão’, ou seja, de maneira opaca entre projetos e empresas. Quando as operações são feitas dessa forma, ninguém sabe ao certo qual o nível justo para a negociação e essa incerteza e falta de clareza levam os projetos de conservação a baixarem os preços, prejudicando a remuneração de seu trabalho na floresta.
FLF: Fale um pouco sobre a importância da compensação de carbono para o futuro do meio-ambiente?
LFA: Há uma escola de pensamento futurista, como a do Bill Gates, do Elon Musk e do Richard Branson, que acredita que através de mudanças tecnológicas, como a migração de energia a carvão para energia renovável ou de carros a combustão para carros elétricos, conseguiremos reduzir drasticamente nossas emissões de gás de efeito estufa. Há outra linha de pensamento, da qual a Moss faz parte, mais cética, que acha que não conseguiremos reduzir no tempo necessário para evitar a catástrofe global. Neste caso, estendermos o mercado de carbono ao máximo é essencial. Através dele, empresas que poluem a mais pagam por esse excesso, e o dinheiro flui para as que poluem menos, as que possuem tecnologias limpas ou para quem está protegendo a floresta. Quando dói no bolso dos poluidores, está comprovado que as emissões despencam. Mercados de carbono regulados há mais tempo, como o da Europa e o da Califórnia, tiveram reduções de suas emissões em 25% e 15% respectivamente, nos últimos 10 anos. É fundamental compensarmos CO2 para salvarmos o planeta.
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