No fim do milênio passado, ainda nos tempos do Banco de Investimentos Garantia, um brilhante estudante universitário brasileiro desejava completar seus estudos em uma universidade americana de primeira linha. Ele tinha toda a capacidade acadêmica, o problema eram os custos. Por meio de conhecidos comuns, ele se encontrou com Jorge Paulo Lemann, já então um dos brasileiros mais ricos, e pediu uma ajuda financiar seus estudos internacionais. Ele pagaria o empréstimo, sem problemas. Lemann analisou o histórico escolar do jovem e disse que pagaria o curso. “Só peço uma coisa em troca”, disse o então banqueiro. O estudante pensou que ele teria de trabalhar em alguma das empresas de Lemann. Nada disso. “Peço que, quando você estiver formado e ganhando dinheiro, você retribua o favor para algum outro jovem brilhante.”
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Essa história mostra o comprometimento de Lemann com a educação de ponta. O mais rico dos brasileiros segundo a Forbes, com uma fortuna estimada em R$ 72 bilhões, sempre foi um entusiasta da ampliação da presença de brasileiros nas universidades internacionais de primeira linha. Em 2002, fiel a seus princípios empresariais, ele instituiu a Fundação Lemann para estimular a melhoria da qualidade da educação brasileira. E um dos aspectos mais visíveis é a concessão de bolsas para universidades no exterior.
Os participantes desses programas já chegam a 700. Segundo a Fundação, até agora, cerca de 383 “Lemann Fellows”, como são chamados os bolsistas, concluíram seus cursos lá fora. Quase dois terços deles, 62,7%, dedicam-se à pesquisa ou a carreiras acadêmicas, ao serviço público ou ao terceiro setor.
Diversidade pequena
Porém, a diversidade ainda é pequena. “Fizemos uma pesquisa entre os bolsistas de Harvard, e descobrimos que apenas 8% dos nossos fellows são pretos, pardos ou indígenas”, diz Wellington Soares, coordenador de relações institucionais da Fundação. “Quando se pensa que 51% dos brasileiros não são brancos, notamos que há uma disparidade grande.”
Segundo Soares, os candidatos a “fellows” costumam ter um perfil parecido, e a meta é ampliar a diversidade. Para isso, o primeiro passo é a autodeclaração de raça entre os candidatos. “Buscamos aqueles que se declarem como pretos, pardos ou indígenas”, diz ele. A preferência é por pessoas que estejam interessadas em universidades de primeira linha e que pretendam desenvolver um trabalho de impacto social.
Um dos maiores entraves é a fluência no inglês, por isso a Fundação investe na preparação dos candidatos nesse aspecto. O programa, denominado Alcance, está em seu segundo ano, e terá o apoio do Instituto Four. Os selecionados terão bolsas de estudo por dois anos. Além do inglês, haverá orientação nos processos de seleção das universidades, incluindo o pagamento das taxas dos testes. “Isso vai democratizar o acesso e gerar oportunidades para pessoas com esse perfil racial”, diz Wellington Vitorino, fundador e CEO do Instituto Four.
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