A Heineken anunciou nesta quarta-feira (26) a criação de uma nova unidade de negócio no Brasil a fim de rentabilizar ações de sustentabilidade, em uma estratégia que conta com parceiros e investimentos iniciais combinados de aproximadamente US$ 150 milhões.
A Heineken Spin terá quatro pilares fundamentais voltados para energia renovável, agricultura regenerativa, reciclagem de embalagens e parcerias com marcas de impacto em ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança, que representa o equilíbrio desses temas na gestão dos negócios).
“Se quisermos suportar o crescimento sustentável, temos que fazer um negócio que gere resultado financeiro”, afirmou o presidente-executivo da segunda maior cervejaria do país, Mauricio Giamelaro, à Reuters, destacando que a nova divisão “é um ecossistema que vai extrapolar a produção de cerveja”.
Ele acrescentou que a sustentabilidade sempre esteve na agenda da companhia, e que agora a Heineken Spin é um meio de “continuar fazendo a roda (do negócio) girar, mas de uma maneira diferente”, inclusive realizando um trabalho de colaboração com outras empresas.
“A Heineken no Brasil tem consciência de que é muito boa em construir marcas, respeitar o consumidor e seus parceiros e em produzir cerveja com qualidade. Só que há outras coisas que precisamos fazer com competência… Em vez de verticalizar, trouxemos as pessoas para dentro desse ecossistema”, afirmou.
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Ele acrescentou que a Spin “nasce para dar resultados”. “Todos os negócios têm o objetivo, já esse ano, de ter ‘payback’ positivo”, reforçou, acrescentando que a expectativa para Spin é de crescimento de duplo dígito ao ano para a receita.
Para cada um dos quatro pilares que fundamentam a Spin há um ou mais parceiros e empresas já envolvidos ou chegando.
Uma dessas frentes, a de energia renovável, conta com um acordo desde 2021 com Ultragaz, do Grupo Ultra, e Raízen, que busca alavancar o uso de fontes limpas de energia entre consumidores e estabelecimentos.
O Energia Verde tem atualmente quarenta mil contratos ativos, e, de acordo com o vice-presidente de Sustentabilidade da Heineken no Brasil, Mauro Homem, deve crescer conforme o programa consiga viabilizar a disponibilidade da geração distribuída.
O executivo ressaltou que esse é o único projeto da Heineken Spin que a empresa já está desenvolvendo, enquanto as outras três frentes que a cervejaria irá focar são novidades.
Uma delas trata da agricultura regenerativa, com a plantação de limão orgânico em uma área de mais de 800 hectares da empresa próxima da cervejaria do grupo em Itu (SP). É algo que “vai proteger uma área super importante para nós do ponto de vista de resiliência hídrica, mas também será apta a sequestrar carbono”.
“Nós enxergamos que poderia ser um belo modelo e que pode ser escalável também pra outras localidades, mostrando que você consegue preservar, você consegue gerar carbono e ao mesmo tempo você consegue ter um retorno em receita mesmo”, acrescentou.
Os frutos serão comercializados e o lucro obtido reinvestido na expansão do modelo de negócio para outras regiões do país.
Tal iniciativa ocorre em parceria com a empresa de desenvolvimento de sistemas agroflorestais e produção de grãos regenerativos orgânicos Rizoma, que tem como sócio fundador Pedro Paulo Diniz.
Reciclagem
Um terceiro pilar é a circularidade de materiais e embalagens a fim de reduzir as emissões de carbono ao ampliar a reciclagem dos vidros. E nessa frente a companhia terá uma parceria com a Ambipar, que atua com gestão ambiental.
De acordo com o vice-presidente de Sustentabilidade da Heineken no Brasil, a empresa está estruturando um sistema para cobrir áreas onde hoje não há coleta de vidro.
Ele disse que o grupo começará essa ação por três Estados, sendo um deles na região Sudeste e outro no Nordeste, enquanto o local do terceiro ainda não teve o “martelo batido”. A perspectiva do grupo é de que essas três operações estejam funcionando até o final do ano.
“Nós vamos pegar as zonas onde não há cobertura e colocar recursos para que esse vidro volte para a cadeia de valor e consigamos remunerar todo o contexto, que é catador, que é quem faz o transporte e até quem faz a transformação desse vidro”, afirmou o executivo.
Em comunicado ao mercado também nesta quarta-feira, a Ambipar disse que, a partir do fechamento da operação, passará a fazer parte dos bids estratégicos para atender outras demandas de serviços ambientais da cervejaria no Brasil.
O quarto alicerce na estratégia da Heineken é trabalhar com chamadas marcas de impacto, em que o grupo busca propósitos em marcas novas para enfrentar desafios envolvendo inovação, principalmente no relacionamento com os consumidores.
Com esse propósito, a Heineken acertou uma parceria com a Better Drinks, dona das marcas Mamba Waters e Cerveja Praya, que afirma adotar como pilar fundamental desde sua fundação o ESG.
“Eles conseguem trazer essa conexão mais próxima com o nosso consumidor e ao mesmo tempo conseguem trazer uma perspectiva de inovação que hoje não tem escala, com produtos que vão além do nosso portfólio tradicional”, disse Homem. “Não conseguimos inovar na mesma velocidade sem um modelo pensado pra isso.”
Outra parceria envolve a Central Única das Favelas (Cufa). “Nós entendemos que precisamos estar mais próximo das comunidades para essas inovações serem mais efetivas também”, disse o executivo.
Ele explicou que a Cufa faz um trabalho de curadoria para buscar empreendedores nas favelas para que a empresa consiga trazer para o pipeline de inovação algo que às vezes não está vendo porque não está tão próxima desse público consumidor.
De acordo com o CEO da Heineken no Brasil, o desenvolvimento da nova unidade de negócio está alinhado globalmente, principalmente a parte de reflorestamento, devido à administração dos créditos de carbono, mas inicialmente é um plataforma apenas no Brasil.
Ele destacou, contudo, que se o país conseguir fazer tudo o que está nos planos conseguirá entregar boa parte do resultado global da empresa sediada na Holanda, dada a relevância da operação brasileira da marca. Globalmente, a Heineken tem a meta da neutralizar as emissões de carbono em toda a sua cadeia de valor até 2040.