
À medida que incêndios florestais devastadores, enchentes e surtos de doenças afetam tudo, da saúde dos animais de fazenda aos preços nos supermercados, grandes empresas do setor de alimentos estão agindo para proteger seus resultados financeiros e ajudar a criar uma indústria mais resiliente ao abordar a poluição por metano.
De fabricantes de chocolates a redes de restaurantes, empresas de toda a cadeia alimentar estão adotando medidas para reduzir suas emissões de metano e desbloquear uma série de benefícios empresariais que vão das operações mais eficientes à ampliação do alcance de mercado.
Um poluente potente, o metano representa a maior parte das emissões de gases de efeito estufa do setor provenientes de atividades agropecuárias, como a criação de gado e o armazenamento de esterco (no caso dos países com alto índice de uso de confinamento total de animais, como é caso de EUA e Europa).
É por isso que reduzir a poluição desse gás representa um leque de oportunidades para as empresas alimentícias, especialmente aquelas que dependem da produção de laticínios, carne bovina e suína.
Elas podem enfrentar rapidamente os riscos que afetam a indústria no curto prazo, ao mesmo tempo em que abrem caminhos para aumentar os lucros, desenvolver produtos inovadores e proteger suas cadeias de suprimentos a longo prazo.
Aproveitando essa oportunidade, empresas líderes do setor alimentício estão criando estratégias para engajar toda a cadeia de suprimentos – onde até 95% das emissões totais de uma empresa podem ocorrer – e implementar práticas comprovadas e soluções emergentes para a redução do metano. Elas estão seguindo três estratégias principais:
Engajamento direto com os produtores rurais
Tecnologias e práticas agrícolas já existentes têm o potencial de reduzir as emissões do gado em 15% a 20%. Isso inclui de aditivos na alimentação a biodigestores anaeróbicos, sistemas que degradam o esterco animal para evitar a poluição.
No entanto, será necessária mais inovação para reduzir o metano no nível necessário para evitar os impactos mais severos do aquecimento global extremo. Empresas que atuam na etapa inicial da produção de alimentos – como agricultura, pecuária e processamento de ingredientes brutos – estão incentivando os produtores de sua cadeia de suprimentos a adotar soluções já disponíveis para a redução do metano, além de investir no desenvolvimento de novas inovações.
O fabricante de chocolates Barry Callebaut, uma das maiores empresas do mundo na fabricação de chocolates e produtos de cacau, sediada na Suíça, lançou o programa VisionDairy para engajar fornecedores e parceiros ao longo de sua cadeia de leite, incentivando a adoção de práticas que ajudem a reduzir as emissões.
Isso inclui oferecer incentivos financeiros para produtores que reduzam o metano por meio de aditivos na alimentação ou que adotem práticas regenerativas, como o uso de culturas de cobertura. Segundo a empresa, essas práticas podem melhorar a saúde do solo, a qualidade da água, a rentabilidade dos produtores e reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Parcerias entre empresas
Nem todas as empresas podem trabalhar diretamente com os produtores rurais na mitigação do metano. Em vez disso, aquelas que atuam em etapas mais avançadas da cadeia de suprimentos estão encontrando formas inovadoras de envolver seus fornecedores, garantindo que todos os participantes do setor alimentício possam integrar estratégias de redução do gás.
Essas parcerias podem ajudar a financiar projetos de redução de metano nas fazendas ao distribuir os custos entre diferentes atores do setor. Além disso, podem incentivar a adoção dessas práticas ao estabelecer políticas de compra específicas para o metano, como limites de emissões para leite, carne bovina e suína, além da exigência de que fornecedores divulguem suas emissões.
As empresas dos EUA, Starbucks, Giant Food, uma rede de supermercados, e Turkey Hill, de produtos lácteos, se uniram a outras para formar parcerias com uma cooperativa de produtores de leite que atua nos estados de Maryland, Virgínia, Pensilvânia, Delaware, e a Alliance for the Chesapeake Bay, organização dedicada à proteção e restauração da bacia do rio Chesapeake, a maior dos EUA, para financiar projetos de sustentabilidade para produtores rurais.
Esses projetos são financiados por meio de compartilhamento de custos, investimentos diretos de clientes e subsídios de programas governamentais, com o objetivo de promover melhores práticas agrícolas que reduzam a pegada de carbono da produção de leite e melhorem a qualidade da água.
Sinalizar demanda
Como em qualquer novo empreendimento, há riscos para os produtores na adoção de novas tecnologias ou práticas – e aquelas voltadas para a redução da poluição por metano não são exceção.
Para facilitar essa transição, as empresas estão ajudando a reduzir os riscos para os produtores ao se comprometerem a comprar produtos feitos com ingredientes de baixa emissão de metano, oferecendo pagamento de prêmios de preço e assinando contratos de longo prazo para esses produtos.
A First Movers Coalition for Food, iniciativa global voltada para o setor alimentício para acelerar a transição para práticas agrícolas e de produção mais sustentáveis, busca usar a força coletiva da demanda de grandes corporações e parceiros de pesquisa para acelerar a adoção de práticas agrícolas sustentáveis.
Tyson Foods, General Mills e PepsiCo estão entre as dezenas de líderes do setor alimentício que integram o grupo, que juntos representam mais de US$ 900 bilhões (R$ 5,1 trilhões na cotação atual) em receitas globais.
Como esses exemplos ilustram, empresas alimentícias de toda a indústria estão incorporando cada vez mais a redução do metano em suas estratégias de cadeia de suprimentos, aproveitando essa oportunidade para garantir a sustentabilidade de seus negócios no longo prazo – beneficiando não apenas suas próprias operações, mas também suas comunidades, investidores e financiadores.
* Mindy Lubber é colaboradora da Forbes EUA, onde escreve sobre sustentabilidade.