Poucas marcas no mundo conseguem se tornar ao mesmo tempo líderes em seus segmentos e sinônimo dos produtos que fabricam. A Montblanc, um dos raros exemplos desse seleto grupo e reconhecida como a maior fabricante de instrumentos de escrita de luxo do planeta, surpreende o observador mais desatento quando apresenta sua enorme lista de produtos que carregam a famosa estrela de seis pontas arredondadas. Muito mais do que instrumentos de escrita, a tradicional grife alemã – pertencente ao Grupo Richemont, dono de marcas como Cartier, Van Cleef & Arpels, Jaeger Le-Coultre, Panerai, entre outras – fabrica atualmente uma enorme gama de produtos como relógios, objetos em couro, óculos, fragrâncias e acessórios de moda. A convite da marca, FORBES Brasil foi conhecer de perto o lançamento que promete ser mais um sucesso de venda mundial.
O cenário ajuda bastante: ruelas estreitas, charmosas pontes sobre o rio Arno e impressionantes obras de arte espalhadas por igrejas, museus e praças. Florença, berço do renascimento italiano, é mesmo encantadora. Não é à toa que ouvimos com frequência o termo “museu a céu aberto” para se referir à cidade onde Leonardo Da Vinci pintou sua Mona Lisa (1503-1506) e na qual gênios como Michelangelo, Donatello e Botticelli deixaram suas marcas. Andar por suas ruas é relembrar uma época em que o mecenato ditava o ritmo, fazendo com que dinheiro e arte caminhassem juntos.
É
nesse cenário rico e inspirador que diversas grifes se estabeleceram para realizar outro tipo de arte: a do couro. Marcas como Gucci, Prada e Salvatore Ferragamo – só para citar algumas – mantêm por lá as manufaturas de suas cobiçadas bolsas e sapatos. O motivo? Os trabalhadores da região são verdadeiros mestres do couro. Tal habilidade foi aperfeiçoada ao longo dos séculos pelos italianos e resulta em objetos de qualidade incomparável. É por isso que as grandes marcas escolheram a região, mesmo que o custo de se produzir por lá seja mais alto do que em outras partes do mundo.
Ao cair de uma bela e ensolarada tarde de verão europeu, um grupo de sortudos convidados vindos de todas as partes do mundo foi recebido no interior do Palazzo Vecchio, uma das mais imponentes construções da Toscana e cartão-postal da Piazza della Signoria. Entrar no magistral Salone dei Cinquecento é uma viagem no tempo. Impossível não parar por um instante e imaginar quantas festas e banquetes já passaram por aquele espaço tão incrivelmente luxuoso e único. Ali, o jantar foi servido em mesas cuidadosamente dispostas em formato de “x” envoltas por telões de alta resolução (não só de imagem, mas também de som) que mostravam, alternadamente, os elementos terra, fogo, água e ar. E mais uma vez o “x” aparecia como peça central da apresentação.
Sentei ao lado do CEO mundial da marca, Jérôme Lambert, e do ator Hugh Jackman, que, acompanhado da sua esposa, era um dos mais simpáticos e comunicativos da nossa mesa. Coincidência ou não, o ator, que é o embaixador da Montblanc e personagem de suas campanhas publicitárias, é sempre lembrado pela atuação na franquia cinematográfica X-Men (olha o “x” novamente) sucesso mundial de bilheteria onde ele encarna o enigmático Wolverine.
Fui dormir com aquele “x” na cabeça, mas não demoraria muito até descobrir do que se tratava. Na manhã seguinte, fomos a Scandicci, nos arredores de Florença, para conhecer a Pelletteria Montblanc. Inaugurada em 2006, ela foi o divisor de águas da empresa como player global de artigos de couro de luxo. Embora a marca fabrique objetos em couro desde 1935, quando abriu sua primeira oficina em Offenbach, na Alemanha, sua ida para a Itália representou um grande passo para se posicionar entre os maiores do segmento.
Scandicci tem uma localização estratégica, pois permite fácil acesso às peles dos melhores curtumes do mundo, que vêm da cidade vizinha de Santa Croce. É lá também que a Montblanc montou um moderno centro de produção que reúne o melhor dos cenários: matéria-prima de qualidade mais artesões italianos e tecnologia de ponta alemã. O mais novo resultado da Pelletteria foi a criação de um couro de alta performance, resistente à abrasão e ao calor, além de repelente à água. Agora, estava explicado o “x”, de Extreme!
Este é o material presente na novíssima Extreme Collection, que apresenta pastas, bolsas, mochila, carteira, porta-passaporte e porta-cartão, além de capas para dispositivos móveis. É, em minha opinião, a mais atraente linha de couro já produzida pela marca. Fora a funcionalidade, ela traz um design moderno, arrojado e super fashion aliado a uma durabilidade que nunca tinha visto em artigos de couro. Presenciei os testes a que foram submetidos alguns produtos e posso atestar que se trata de algo inovador. A prova com maçarico não causou dano ou deformação no couro extreme; e após receber algumas gotas de água, o produto não ficou manchado. Com esse lançamento, a grife quer se aproximar de um público mais jovem e fashion. Afinal, os produtos da marca – desde seus writing instruments (como a Montblanc gosta de chamar as canetas), passando pelos relógios e linhas antigas de objetos em couro – são mais classudos e normalmente atraem um cliente maduro e bem-sucedido.
O respeito e o cuidado com os consumidores são outras características da marca que se destacaram na visita à Pelletteria. No departamento dedicado a reparos e reformas de produtos de couro encontrei uma valise enviada dos Estados Unidos por um cliente da marca. Ela parecia ter sido arrastada pelo asfalto quente por centenas de quilômetros e estava sendo totalmente reformada por uma equipe de artesãos que mais pareciam médicos. Ao ver aquela cena, perguntei a um deles se não sairia mais barato o cliente comprar uma valise nova e mais moderna. Ele me olhou e concordou, mas logo em seguida emendou: “Os clientes desenvolvem laços emotivos com alguns itens e isso não tem preço”. Agora que a Extreme Collection já está disponível nas butiques Montblanc mundo afora, acho que esse departamento da Pelletteria terá menos trabalho no futuro próximo.