Passear por Londres é uma experiência muito prazerosa. É uma cidade cheia de riqueza e história por todos os lados, casa da monarquia britânica e um dos maiores melting pots da civilização moderna. Muitos leitores de FORBES Brasil já devem ter cruzado as ruas dessa magnífica cidade a bordo dos seus tradicionais London Taxi Cabs. Se você acha que essa experiência já foi legal, imagine ao volante de um Rolls-Royce Ghost Series II? Pois bem, é nesse momento que você percebe o quão imponente é essa marca britânica.
Quem conhece a metrópole britânica sabe que ela talvez seja a cidade com o maior número per capita de carros exóticos e de luxo do mundo. Natural, portanto, seria que seus transeuntes não se importassem muito com mais uma aparição da tradicional Spirit of Ecstasy, a bela estatueta com formas femininas que adorna o capô de cada Rolls-Royce. Com os braços estendidos para trás, o tecido das suas vestimentas fica parecendo asas. Depois de me adaptar a dirigir com o volante no lado direito – subi no meio-fio nos primeiros instantes até acostumar meu golpe de vista com as dimensões desse imponente veículo – percebi pessoas apontando e algumas tantas fotografando quando eu passava ou parava no farol de trânsito.
O Ghost Series II foi apresentado ao mercado em março de 2014 durante o New York International Auto Show. O modelo é uma atualização do Ghost lançado pela Rolls-Royce em 2009 e responsável por quatro anos consecutivos de recordes de venda para a companhia.
As mudanças foram discretas. Segundo as equipes de design e engenharia, uma premissa definiu o processo de criação do sedã: “Nada deveria distrair o motorista ou o prazer do passageiro”. Estive no Reino Unido para conhecer esse lançamento de perto e posso atestar que se trata de uma joia sobre quatro rodas.
Existe uma ideia – completamente equivocada – de que o Rolls- Royce é um carro antigo, muito grande, pouco ágil e para senhores de idade conduzidos pelos seus choferes. Talvez isso possa ter sido uma meia verdade antes de a marca ser adquirida pela alemã BMW, no ano de 2002. Em 12 anos de gestão alemã, o que se vê é a manutenção do espírito da marca – alto luxo e cuidado aos detalhes – com uma enorme adição de tecnologia de ponta. O “motto” predileto do cofundador da marca, sir. Henry Royce, de que “tudo o que é feito com razão, por mais humilde, é nobre” continua vivo no DNA da empresa.
Com um motor V12 de 6.6 litros, o Ghost Series II vem pela primeira vez com transmissão via satélite, que reconhece o caminho logo à frente e escolhe a marcha ideal para percorrê-lo. Você não acredita que está dirigindo um carro que pesa 2 toneladas! A agilidade, a força e a dirigibilidade lembram as características de um carro esportivo. Devo ter cometido algumas infrações à lei de trânsito britânica no trajeto que percorri. Naquele belo domingo ensolarado dirigi pelas rodovias da rainha e por lindas estradas vicinais do countryside britânico, superando, inadvertidamente e com sobras, o limite de velocidade.
Na parte externa, os faróis foram redesenhados e contam com leds. Eletronicamente controlados, eles se movem de acordo com o giro do volante para dar uma maior profundidade de visão nas curvas. A luz mais branca e brilhante garante uma condução segura nas estradas, além de minimizar o cansaço do motorista. Sem contar que, quando um carro se aproxima, a luz do farol é desviada para não atrapalhar o motorista que vem na direção contrária. Gentileza made in U.K.!
Guiar o Ghost Series II é se impressionar com tamanho conforto. Os assentos possuem três níveis de aquecimento. Na opção lounge seat, eles são levemente inclinados para facilitar a comunicação entre os passageiros e criar um ambiente mais íntimo. A função de massagem é opcional. A nova aposta da Rolls-Royce também chama atenção pela tecnologia. Com wi-fi e assistente de navegação, basta dizer “Go to Savile Row” e ele guiará você até o seu próximo terno sob medida. As informações do sistema multimídia são exibidas em uma nova tela de alta definição de 10,2 polegadas. E para saber a velocidade e o nível de combustível não é necessário desviar o olhar, já que esses dados são refletidos no para-brisa.
Quem dirige essa máquina também não precisa se preocupar com ligações telefônicas. É só dizer “Call William” e a chamada será automaticamente realizada e atendida pelo herdeiro da coroa, caso você tenha o número do celular dele. Depois, peça “Play radio” para voltar a ouvir música. Uma das mais fortes características da marca é a quase absoluta ausência de barulho exterior que os passageiros experimentam. Em um português mais direto isso significa silêncio! Era exatamente o que teríamos a bordo não fosse o fenomenal sistema de entretenimento embarcado. Para quem gosta de música e suas nuances de notas e acordes, ficar dentro de um Rolls Royce soa, literalmente, como música aos ouvidos. O disco-rígido on-board possui capacidade de armazenamento de 20,5 GB, sendo possível guardar cerca de 5.700 músicas baixadas por meio da entrada USB que pode estar localizada no console central ou no porta-luvas.
Ver o produto acabado deslizando por ruas e estradas já é suficientemente impressionante, mas visitar a manufatura da marca – sim, ma-nu-fa-tu-ra, que significa feito à mão – em Goodwood, Reino Unido, é a constatação de que cada centavo investido na compra de um dos 4.000 veículos que são vendidos por ano (quatro mil, grafados por extenso para não deixar margem de dúvidas quanto à exclusivíssima quantidade) é um ótimo investimento. Impressiona ver uma linha de montagem tão limpa, organizada e com ausência de… robôs. Fora alguns macacos hidráulicos – já imaginou quantos homens seriam necessários para carregar um propulsor de 12 cilindros? – tudo ali é feito à mão.
O grau de customização disponível a cada comprador é faraônico. Uma cliente chegou a Goodwood e tirou da bolsa o seu batom predileto (ato recorrente) entregou o artefato a um dos consultores da fábrica e disse: “Quero meu carro nesta cor”. Alguns meses depois, a feliz compradora dirigia um Rolls-Royce no tom do seu batom predileto. Ou usava um batom que combinava com a cor do seu Rolls estacionado na garagem.
Cada carro utiliza em seus assentos e suportes de braços o couro da marca alemã Hewa, proveniente de 11 bois (eles não têm as marcas de estrias que geralmente acometem as vacas) cortados em 450 peças individuais e com mais de 24 mil pontos de costura. O trabalho de marchetaria é totalmente artesanal e o resultado são verdadeiras obras de arte em madeiras nobres selecionadas de fontes certificadas. No quesito atenção aos mínimos detalhes, uma das coisas que mais me chamam atenção nos RR é o fato de, independentemente de eles estarem parados ou em movimento, as rodas sempre mostrarão a insígnia da marca perfeitamente alinhadas na posição vertical e apontadas para cima. Pode parecer apenas um detalhe. Mas é uma senhora minúcia quando estamos falando de branding, ou você vai dizer que gostaria de ver a marca da sua empresa de cabeça para baixo?
Eu poderia me estender por páginas e mais páginas para tentar descrever, em termos técnicos, o que é um Rolls Royce Ghost Series II e seus irmãos, o grandioso Phantom e o mais esportivo Wraith, e por que eles são alguns dos mais desejados objetos de consumo de homens – e mulheres, por que não? – mundo a fora. Mas a minha sugestão é que, se você for um entusiasta por carros (confesso que fico titubeante enquanto digito este texto e chega a hora de escrever “carro”… acho que estou sendo infiel as fatos, pois um Rolls-Royce é muito mais que isso), pelo menos uma vez em sua vida, precisa sentar atrás do volante de um dos modelos da marca. Garanto que você lembrará das minhas palavras. Além do prazer de dirigir uma das mais sofisticadas máquinas já criadas pelo homem, você estará a bordo de uma importante parte da história da indústria automotiva mundial.
Mas não é somente o Ghost que segue fazendo história. Recentemente, o Phantom ganhou as páginas dos jornais. O burburinho foi por causa da compra realizada pelo empresário chinês Stephen Hung. Ele simplesmente adquiriu a maior frota de Phantom de todos os tempos. As 30 unidades desse emblemático Rolls-Royce serão colocadas à disposição dos hóspedes do hotel Louis XIII, que Hung está construindo em Macau. O empreendimento de luxo será aberto no primeiro semestre de 2016 e pretende oferecer a suíte mais cara do mundo: US$ 130 mil a diária.
A transação de US$ 20 milhões representa a maior encomenda de Rolls-Royce já feita no mundo. O acordo foi formalizado em setembro de 2014 em uma cerimônia na sede da companhia e contou com a presença do CEO da Rolls-Royce, Torsten Mueller-Oetvoes. Um simpático e gentil alemão de Munique que está no quadro da BMW desde os 18 anos e que antes de assumir a Rolls-Royce foi responsável pelo estrondoso sucesso do relançamento da Mini, marca também britânica sob os domínios do conglomerado alemão, e que transformou os diminutos bólidos britânicos em itens obrigatórios de qualquer hipster.
Cada um dos 30 automóveis está sendo personalizado pela Rolls-Royce. Dois Phantoms dessa frota, com detalhes internos e externos em ouro, estão entre os mais caros já fabricados. A Rolls- Royce também ajudou a projetar o estacionamento para abrigar os automóveis. Minha sugestão para uma resolução de ano novo: corra e vá checar o saldo da sua conta bancária! Muito provavelmente você terá os recursos suficientes para fazer um dos melhores investimentos da sua vida: comprar um Rolls-Royce.