Nova York: várias cidades dentro de uma só. Dependendo da região, você pode achar que está em outro município, país ou até mesmo outra época. Eu, que sempre fui um habitante temporário de Midtown e suas enormes hordas de turistas —‚ acho o SoHo, com seus lofts e ruazinhas charmosas de paralelepípedos, um oásis em meio ao frenesi nova-iorquino. E você já percebeu como todos os nomes de áreas de NYC têm um significado autoexplicativo? SoHo, por exemplo, indica a região que está localizada ao sul da Houston Street (ou South of Houston, em inglês). Mas atenção para a pronúncia dessa Houston, que seria algo como “ráuston”, em vez de “riuston” da cidade homônima do Texas.
Essa área, que é um grande polo de grifes de luxo, restaurantes badalados e gente fashion, deve muito de sua aura atual a um hotelier, André Balazs, que em 1997 fundou o primeiro hotel butique da região, o The Mercer Hotel. A iniciativa foi praticamente a precursora dessa invasão chique. O Mercer foi a segunda aquisição da rede André Balazs Properties, que conta com outros empreendimentos nos Estados Unidos como o badalado Chateau Marmont, em Hollywood, os icônicos The Standard Hotels do Meatpacking District e do Lower East Side, em Nova York, assim como seus irmãos da Califórnia e da Flórida, além do Sunset Beach, em Shelter Island Heights. Em Londres, a rede comanda o Chiltern Firehouse.
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O prédio construído em 1890 pelo bilionário John Jacob Astor — o nome dele e de sua família estão espalhados por vários pontos nobres da cidade como no Waldorf-Astoria e na Astor Place — , na esquina das ruas Mercer e Prince, foi por muitos anos endereço de estúdios de artistas. As propriedades de André Balazs se tornaram famosas pela arquitetura e design de seus projetos. A reforma do Mercer, por exemplo, foi assinada pelo designer francês Christian Liaigre e resultou em 75 acomodações, entre apartamentos e suítes, que oferecem aos hóspedes um pouco da experiência de se viver em um loft. A luz natural abundante invade cada suíte graças às generosas janelas que compõem a fachada romanesca — estilo arquitetônico visto na Europa entre os séculos 9 e 12 — do prédio de seis andares. A semelhança com os lofts também é percebida nos ambientes espaçosos de cada apartamento. Mesmo as unidades menores, de 23 metros quadrados, têm móveis muito bem distribuídos e o resultado é uma agradável e confortável sensação de amplitude.
Ao todo são 12 tipos de acomodações. A iluminação é indireta e as paredes branquíssimas. Perguntei quando havia sido realizada a última reforma geral, tamanha a aparência de hotel novo, e ouvi, entre sorrisos contentes do gerente geral e da diretora de comunicação, a resposta: “Nossa reforma é diária. Cuidamos de tudo, todos os dias, para que pareça novo assim!”. Pisos e móveis de madeira escura e tecidos de cores claras dão o tom da decoração contemporânea. Os banheiros, revestidos com mármore carrara, possuem banheiras projetadas sob medida por Liaigre. Completam o conforto camas queen ou king size com lençóis de algodão egípcio de 400 fios da marca italiana Fili D’Oro.
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A mais luxuosa das acomodações, chamada de Suíte SoHo, possui duas espaçosas salas de estar e dois banheiros distribuídos por 125 metros quadrados. Localizada na esquina do último andar, ela oferece a seus hóspedes uma exuberante vista da região. No hall do hotel, a proposta de loft continua. O ambiente de pé-direito duplo e paredes de tijolos aparentes pintados de branco ganha um toque especial com a enorme estante de livros da área da biblioteca. O ambiente é tão acolhedor que os hóspedes descem dos seus apartamentos e ficam ali, no lobby — chamado pelos habitués de living room —, trabalhando com seus laptops, falando ao celular ou apenas tomando um café ou drinque enquanto observam o entra e sai de hóspedes.
Foi numa dessas tardes no living room que conheci uma turma de simpáticos adolescentes — alguns deles vestidos com roupas que mais pareciam pijamas. Após uma agradável conversa, a gente se despediu e eles subiram para suas suítes. Na sequência descobri que acabara de conversar com Lily-Rose Melody Depp, filha do ator Johnny Depp, que é, assim como seu pai, habitué do Mercer. Por sinal, boa parte da clientela do local é formada por artistas, modelos e empresários ligados ao entretenimento e ao mercado de capitais.
Se o espírito consumista o assolar durante a estadia no Mercer, não se preocupe: a poucos passos do hotel estão instaladas Balenciaga, Vera Wang, Chanel e Ralph Lauren. Para comer bem também não é necessário ir longe, o hotel abriga o Mercer Kitchen, do francês Jean-Georges Vongerichten. Ambos — chef e restaurante — já se tornaram instituições da cidade. O Mercer Kitchen, de culinária americana moderna, foi inaugurado em 1998, um ano após a abertura do hotel. A salada de camarões cozidos no vapor e as saborosas pizzas no forno a lenha estão entre os pratos mais pedidos.
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Mas o estabelecimento não fez história em Nova York somente pela gastronomia de alto nível apresentada pelo chef Vongerichten. Ele foi um dos primeiros restaurantes de Manhattan a apresentar longas mesas comunitárias. As paredes de tijolos e a cozinha totalmente integrada ao salão completam o ar descontraído. O andar de cima, onde são servidos café da manhã e almoço, transforma-se à noite em um badalado bar. Não é à toa que o local seja a escolha de diversas celebridades. Recentemente, as ruas Mercer e Prince foram tomadas por paparazzi, que esperavam a cantora Rihanna deixar o restaurante. Continuarei indo bastante a Midtown, mas o SoHo e o hotel The Mercer me conquistaram, definitivamente.