Aos 52 anos, o incorporador imobiliário argentino Alan Faena já deixou sua marca na moda, na arte, na hotelaria e no urbanismo. Ao lado do parceiro criativo, o bilionário norte-americano Len Blavatnik, ele é responsável pela transformação da degradada zona portuária de Puerto Madero, em Buenos Aires, num destino altamente desejado – incluindo alguns dos imóveis mais caros da Argentina –, com uma incorporação que inclui o primeiro hotel Faena, inaugurado em 2004. Mas ele não se considera um empreendedor. Ele se apresenta como contador de histórias.
Agora Faena está escrevendo um novo capítulo sobre uma das áreas esquecidas de Miami, um corredor “de passagem” da avenida Collins entre North Beach e South Beach. Como em Buenos Aires, o plano é bem mais ambicioso do que construir um mero hotel. Essa utopia – ou “Futopia”, no linguajar do marketing – que Faena diz estar criando se estende por cinco quarteirões entre o oceano e um canal. Até 2017, ela incluirá o recém-aberto Faena Hotel Miami Beach; o Faena House, projetado pelo escritório de arquitetura Foster + Partners e cujos apartamentos milionários foram comprados por Lloyd Blankfein, CEO do Goldman Sachs, e por Kenneth Griffin, CEO da Citadel (que comprou a cobertura e uma unidade abaixo por US$ 60 milhões, em 2014, e as colocou de volta no mercado este ano por US$ 73 milhões); a organização cultural Faena Art; outra torre residencial nova ao lado do antigo hotel Versailles; uma pousada na praia; e um centro de artes cênicas e espaço comercial projetado pela Rem Koolhaas/OMA.
O investimento de Faena e Blavatnik na incorporação – conhecida como Bairro Faena – já passa de US$ 1,2 bilhão. É apenas a segunda vez na história que Miami permite que uma área geográfica receba um nome oficial, segundo Faena me conta com orgulho enquanto tomamos cappuccino no Mandarin Oriental New York (a primeira foi o Art Deco District.)
E ele está com a mão na massa, totalmente envolvido – construindo calçadões à beira-mar e jardins e fazendo benfeitorias em ruas laterais. Passa a maior parte do tempo em Miami, trabalhando num trailer no local, cheio de amostras de tecidos e desenhos arquitetônicos. Para quem tem uma visão tão ampla, ele está surpreendentemente envolvido nos detalhes, chegando ao ponto de saber os nomes de seus operários de construção.
Faena acredita que seu status de outsider ajudou-o a mergulhar no projeto – que, se ele conhecesse Miami de início, teria aceitado a ideia predominante de que a área não era promissora e de que um hotel de baixo orçamento seria uma ideia melhor. “Quando eu vi o oceano e, a dois quarteirões, o canal, achei que este era o centro de Miami Beach. Eu disse: ‘É um lugar fantástico’”, recorda Faena. “Foi o momento em que tivemos de fazer a aposta. Decidimos pelo melhor – pensar no melhor, oferecer o melhor. Se você oferece o melhor num ótimo ambiente com ótima arquitetura, ótimo atendimento e ótima cultura em volta, as pessoas vêm. Mas sempre há um momento de risco pelo qual você deve passar para ter sucesso em algo desse tipo.”
Blavatnik, que é o dono do projeto, tinha confiança em seu sócio e no local. “O coração e a alma da experiência Faena são a criatividade e a inovação”, diz ele. “Miami era o lugar natural para desenvolver esse tipo de projeto altamente criativo e inovador, já que ela está se tornando um epicentro de troca de ideias criativas em nível mundial. Eu pedi ao Alan para liderar a incorporação porque ele tem grandeza de visão e habilidades para levar as coisas ao próximo nível.”
Com 169 quartos, o hotel é o lugar onde se tem mais facilmente uma ideia da visão de Faena. Trata-se de um mundo de fantasia onde cada detalhe cinematográfico foi escolhido não só por seu valor estético, mas também por sua capacidade de continuar a narrativa da vida latina, o que inclui atividades ao ar livre e carne assada na brasa. (Faena observa que foi a primeira vez que uma marca de luxo migrou da América do Sul para a do Norte – geralmente, o percurso é o inverso.)
O Faena Hotel Miami Beach ocupa a estrutura do Saxony Hotel, de 1947 – já de propriedade de Blavatnik, que teve o primeiro contato com Faena por meio do magnata da moda Chris Burch –, e presta homenagem ao glamour da época de ouro de Miami, ao mesmo tempo que se mantém profundamente moderno.
O conceito e o design dos quartos (com diárias a partir de US$ 745), das áreas comuns e do próprio fluxo do hotel são resultado da colaboração entre Blavatnik, Faena e a descolada consultoria belga Studio Job, com obras encomendadas aos artistas Juan Gatti e Alberto Garutti, cujos dois grandiosos candelabros acendem cada vez que cai um raio nos pampas argentinos. A peça mais comentada, no entanto, é Gone but Not Forgotten, de Damien Hirst, um esqueleto dourado de mamute-lanoso que fica na saída para a praia.
O cineasta Baz Luhrmann e a esposa, a figurinista Catherine Martin, foram figuras centrais no design do Faena. O casal não foi uma escolha óbvia – nunca tinha trabalhado num hotel –, mas Faena queria contadores de histórias como ele, e não designers de hotéis, que seguiriam fórmulas. “Essas pessoas costumam trabalhar no cinema e não costumam se repetir. Para trazer nosso espírito de grandeza do sul, eu realmente gostei de trabalhar com Baz e Catherine, sempre fui um fã deles.”
A ideia de “levar o sul para o norte” se estende ao restaurante principal do hotel – concebido pelo chef-celebridade argentino Francis Mallmann –, onde tudo é preparado na brasa numa cozinha externa, ao auditório de 150 lugares, cuja primeira série de apresentações foi iniciada em abril com Caetano Veloso e Gilberto Gil, e ao spa, onde tratamentos especiais foram concebidos pelo xamã pessoal de Faena.
“Não gosto de fazer coisas pequenas”, ele conclui. “Gosto de fazer coisas que mudam uma cidade. Buenos Aires não é a mesma depois do Faena, e acredito que acontecerá o mesmo com Miami.”