Fazia tempo que eu não ia à Argentina… quase uma década. Coincidência ou não, bastou o fim da era Kirchner para que meu interesse pelo país vizinho voltasse a aparecer. Não que os índices da economia argentina neste primeiro ano de governo Macri sejam os mais animadores – as previsões são de recuo de 1,5% no PIB, inflação na casa dos 45% e alto índice de desemprego. Mas, assim como no Brasil pós-PT, os ares em Buenos Aires já são outros, e a bela capital portenha continua pronta para receber até o mais exigente dos viajantes internacionais.
Uma coisa eu já tinha quase esquecido: como Buenos Aires é linda! Bairrismos e rivalidades futebolísticas à parte, não há como negar que aquela é a mais europeia das cidades da América do Sul. Basta uma caminhada pelo tradicional bairro da Recoleta para reforçar essa percepção. Dependendo da esquina, a sensação é de estarmos em Milão, Lisboa ou Barcelona. E é ali, na Recoleta, que está o hotel que escolhemos para esse reencontro com Baires, apelido carinhoso da cidade (algo como Sampa para São Paulo): o elegante Palacio Duhau Park Hyatt.
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O palácio de traços neoclássicos, erguido em 1934 na famosa avenida Alvear, foi projetado pelo arquiteto francês León Dourge e é uma herança da aristocracia portenha: por muitos anos, foi residência da família Duhau, tradicional clã de estancieiros do país. Desde 2006, abriga o exclusivo e luxuoso Park Hyatt – a maior categoria na classificação das propriedades da rede americana (o Brasil não possui nenhum). No mesmo quarteirão, vizinhos “de muro”, estão o edifício Fernández Anchorena Palace (de 1909), onde funciona a sede da Nunciatura Apostólica, e a Residência Maguire (1890), uma construção neogótica declarada monumento histórico nacional em 2002 – e que também pertenceu à família Duhau.
A região abriga outros edifícios históricos e o famoso Cemitério da Recoleta, com estátuas feitas por artistas de renome, além do Patio Bullrich Shopping, que é um dos mais badalados da cidade. Tudo isso e mais o fato de estar próxima de pontos turísticos como Palermo, Puerto Madero e San Telmo.
O complexo do Park Hyatt inclui o Palacio Duhau e o edifício Posadas, este de estilo contemporâneo, erguido para acomodar a maior parte dos hóspedes. No prédio antigo, os visitantes são recepcionados pela tela La Ronda, do pintor argentino Guillermo Roux, e pela escultura de bronze Torso, do espanhol Guerrero Medina. No lobby do prédio novo, o mural Imágenes del Barrio, do espanhol Juan Battle Planas, recebe a companhia de uma escultura do argentino Alberto Bastón Díaz. A arte está por todos os lados da propriedade, até no subsolo, onde uma passagem subterrânea que liga o Palacio ao edifício Posadas, o Paseo de las Artes, é na verdade uma galeria de arte dedicada a trabalhos de artistas contemporâneos.
Feito o tour artístico, façamos um tour pelas instalações do complexo. São 165 acomodações – 11 apartamentos e 12 suítes no Palacio Duhau e 115 apartamentos e 27 suítes no Posadas. Uma das minhas primeiras dúvidas era em qual dos dois prédios ficar: no mais moderno, a vantagem é a vista privilegiada do belo Palacio e seu jardim como pano de fundo; no Palacio, a sensação de ficar numa construção histórica, que lembra alguns dos mais belos palácios da França. No último andar do edifício Posadas fica a suíte mais exclusiva, com 160 metros quadrados e uma privilegiada vista de 360 graus da cidade. Alguns detalhes, como as cortinas de seda azul e os lustres de cristal, nos lembram de que não estamos em um lugar qualquer, estamos em um pedaço da Europa no Novo Continente. Essa agradável sensação continua para além das cortinas, ao vislumbrarmos o jardim que cobre mais da metade da propriedade, de 4,4 mil metros quadrados. Nele, na primavera, o bar e os terraços para refeições ao ar livre ganham a perfumada companhia de rosas-francesas. No verão, a atração é a fonte com lírios-d’água. Durante o outono, exemplares de ginkgo biloba dominam a paisagem. No inverno, é a vez das azaleias.
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Agora, depois de alimentar os olhos com natureza e arte, é possível ter uma interessante experiência gastronômica sem deixar o Park Hyatt. O Duhau Restaurante & Vinoteca é especializado na cozinha argentina e oferece um acervo de 7 mil garrafas, de 500 rótulos diferentes – um dos focos é o Malbec argentino. Conectado ao jardim, o restaurante tem 56 lugares e conta com uma cheese room, com queijos artesanais argentinos selecionados pelo maître fromager do restaurante – olhar pela porta de vidros para aqueles queijos repousando é um convite certo ao prazer da gula. Para os fãs de culinária italiana, a opção é o restaurante Gioia, também com vista para o jardim – é lá também que os hóspedes podem tomar o café da manhã. Foi num desses cafés da manhã que encontrei o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que também estava hospedado no hotel. Ao cumprimentá-lo, agradeci pela entrevista de capa que ele nos concedeu em uma edição passada, e que se tornaria a edição mais vendida de nossa recente história no Brasil.
O confortável Piano Nobile serve café da manhã, aperitivos, comidas leves e chá da tarde. Mas o diferencial fica no salão ao lado, onde às sextas e sábados os hóspedes podem fazer aulas de tango. Se preferir relaxar, agende uma sessão no spa Ahín – o nome vem de uma cerimônia praticada pela tribo indígena Mapuche, do sul da Argentina, que era realizada para honrar um convidado. O spa, de generosos 750 metros quadrados, tem cinco salas de tratamento e uma piscina aquecida. Os cuidados com o corpo continuam na academia, que, além de bons aparelhos, conta com banheiras de hidromassagem e saunas.
Quem viaja a negócios encontra a seguinte estrutura: três salas de reunião, quatro salas de conferência com paredes à prova de som e equipamentos de apoio, especialistas em audiovisual e um salão de eventos.
O bar The Oak – na minha opinião, o ambiente mais bonito do hotel (em um lugar de tanta beleza, essa não é uma honraria qualquer) – é a sugestão ideal para um drink antes ou depois do jantar, com sua extensa carta de single malts, além de uma seleção de conhaques e armagnacs. Sua atmosfera acolhedora é reforçada pelos painéis de carvalho do século 17, que decoravam um castelo na Normandia. Se eu ainda fumasse, seria o lugar perfeito para encerrar o dia apreciando um bom charuto – afinal de contas, ali é o único local onde o fumo é permitido, e amplamente praticado, em toda a propriedade.
Veja mais detalhes do suntuoso na galeria de fotos Palacio Duhan Park Hyatt:
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O Paseo de las Artes é uma galeria dedicada a trabalhos contemporâneos
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Obra La Ronda em um dos lobbies
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A suíte mais luxuosa tem 160 m² e vista de 360 graus da cidade
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O bar The Oak: extensa carta de single malts
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Piano Nobile: café da manhã e chá da tarde
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O Duhau Restaurante & Vinoteca é especializado na cozinha argentina
O Paseo de las Artes é uma galeria dedicada a trabalhos contemporâneos