A primeira volta ao mundo ninguém esquece. Ela começou em 10 de agosto de 1519, sob o comando do navegador português Fernão de Magalhães, patrocinado pela coroa espanhola.
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Pelo caminho, tempestades, motins, mortes (incluindo a decapitação de um capitão traidor), naufrágios, doenças e fome. O próprio Fernão morreu no meio da aventura, atingido pela lança envenenada de um habitante da ilha de Mactan, atual Filipinas. Das cinco caravelas que partiram de Sevilha com 237 homens, só uma retornou, em 8 de setembro de 1522 (mais de três anos depois!). No “check-out”, 18 esquálidos e cambaleantes sobreviventes. A epopeia provou que a Terra é redonda. E que nosso espírito de aventura não conhece fronteiras.
Os roteiros duram de 20 ou 25 dias (por avião) a vários meses (de navio). A experiência vai além do luxo e da exclusividadeCorta para o século 21. Como você prefere repetir o feito de Fernão de Magalhães? Em 25 dias, a bordo de um jato exclusivo? Ou de navio, durante meses de lazer e conforto? Enriquecendo seu conhecimento sobre os maiores impérios que floresceram no planeta ou deliciando-se com a gastronomia dos mais variados recantos do globo?
PELOS ARES
A Latitudes lançou, em 2016, um roteiro customizado, em português, para 50 pessoas. “O brasileiro gosta de ter um pouco mais de tempo, de não fazer tantas atividades durante o dia. À noite, gosta de um espaço para socializar”, diz Alexandre Cymbalista, sócio-diretor da empresa. A segunda expedição parte em março de 2018 e vai cumprir um roteiro que segue o tema “Grandes impérios da humanidade”. A bordo de um jato 757-200 remodelado, oito destinos serão explorados em 26 dias: Mérida (México), Big Island (Havaí), Kyoto (Japão), Lijiang (China), Jodhpur (Índia), Shiraz (Irã), Taormina (Itália) e Marrakesh (Marrocos). Serão três noites em cada destino, respeitando o ritmo menos frenético e mais contemplativo do brasileiro.
Os 50 viajantes serão acompanhados por especialistas em história e ficarão hospedados em hotéis de luxo. O preço por passageiro é de US$ 138.800. No início de abril, faltando quase um ano para a decolagem, metade dos lugares já estava reservada.
“Um dos pontos altos da primeira viagem foi a integração entre as pessoas. A idade média dos passageiros fica entre 55 e 75 anos, mas também tivemos gente mais jovem. O público foi supervariado, com diferentes estilos de profissionais. Tivemos casais e viajantes solos também”, diz Cymbalista.
Se sua fome por comida for maior que a fome por cultura, uma boa forma de explorar o mundo é seguindo roteiros gastronômicos. O Four Seasons Jet e o estrelado restaurante Noma elaboraram, em conjunto, um roteiro com nove destinos e 20 dias de duração. Os participantes decolam de Seul, depois de um jantar na casa do chef Jong Kuk. Seguem viagem para Tóquio, Hong Kong, Chiang Mai, Mumbai, Florença, Lisboa, Copenhague e Paris, onde se despedem da jornada com um jantar exclusivo no restaurante Le Cinq. Essa “meia volta ao mundo” custa a partir de US$ 135 mil por pessoa. Para Vince Parrotta, presidente de operações da rede hoteleira, a experiência vai além do luxo e da exclusividade: “Tem a ver com as pessoas que o passageiro vai conhecer, com os novos sabores, com as experiências visuais e sonoras nas quais vai mergulhar e as incríveis lembranças que ele vai trazer para casa”.
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PELOS MARES
Fazer a circum-navegação pelo mar demanda mais tempo. As empresas Regent Seven Seas e Crystal Cruises apostam em rotas marítimas diferenciadas – e longas.
A Crystal Cruises, segundo Thiago Vasconcelos, diretor da Pier 1 (responsável pela representação da Crystal no Brasil), nunca repete a mesma rota. A estratégia justifica-se pelo fato de muitos passageiros, ano após ano, procurarem viagens com o mesmo estilo.
O bancário aposentado Marco Pollo (bom nome para um viajante contumaz) é um exemplo disso. Ele já fez 58 viagens com a companhia: “Meu último destino foi a Antártida, e cada vez eu me apaixono mais: China, Japão, Polinésia Francesa e Austrália foram alguns dos que eu mais gostei”. A novidade da companhia para o próximo ano é o encontro entre os navios Crystal Serenity e Crystal Symphony. Cada embarcação parte de um local: o Serenity sai de Los Angeles e o Symphony parte da Cidade do Cabo. O encontro ocorrerá em Sydney, onde os passageiros podem fazer a troca de embarcação e, consequentemente, de rota.
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O navio da Regent que faz a volta ao mundo é o Navigator, que tem 245 suítes e capacidade para 490 pessoas. O roteiro passa por 31 países, explorando grandes e pequenos portos. A rota de 2018 realizará uma round-trip de 137 dias, Los Angeles-Los Angeles. Boa parte desse tempo será gasto na Ásia.
Para que os passageiros não sintam nem sombra do desconforto que afligiu os pioneiros de 500 anos atrás, o navio oferece cassino, teatro, cinco restaurantes, serviço de lavanderia, apoio médico e wi-fi. O valor dessas regalias começa em R$ 189.679 (para a suíte mais simples) e chega a R$ 598.729 (acomodação máster, com 130 m², dois quartos e serviço de mordomo exclusivo).
Quem achar que 137 dias é muito tempo, pode optar por comprar trechos do percurso ou por desembarcar pelo meio do caminho e esperar o navio retornar, no trajeto de volta. “Não precisa se preocupar com nada, tudo está incluso. O passageiro tem só que aproveitar”, diz Estela Farina, proprietária da marca Regent Seven Seas. “Quando você começa a conversar sobre esse tipo de viagem com as pessoas, os olhos delas até brilham.” Morra de inveja, Fernão de Magalhães.
* Matéria publicada na edição 50 de FORBES Brasil, de abril de 2017