Existem muitos blogueiros que viajam pelo mundo e preenchem seus feeds nas redes sociais com fotos de destinos deslumbrantes. Entretanto, só alguns deles realmente inovaram e descobriram como conseguir dinheiro com isso. Alyssia Ramos é uma delas. Aos 29 anos, a jovem é a definição de uma história bem-sucedida de uma nômade digital: uma aventureira empreendedora que viaja sozinha em tempo integral, administra o site “My Life’s a Movie” e já conquistou mais de 125 mil seguidores no Instagram.
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Mas a vida de Alyssia nem sempre foi assim. Há três anos, ela mal pagava suas contas. “Eu sempre pensei que não teria dinheiro para viajar”, lembra ela, que foi criada por sua mãe junto a três irmãos e começou sua carreira profissional como garçonete aos 14 anos.
Alyssia conversou com FORBES, contou sua história e revelou o que acha que foi responsável pelo seu sucesso.
FORBES: Como foi sua trajetória?
Alyssa Ramos: Eu sou uma cubano-americana nascida na Flórida e me mudei para Los Angeles por cinco anos antes de me tornar uma viajante em tempo integral. E assim tem sido minha vida nos últimos 14 meses. Estou muito orgulhosa de dizer que agora, sendo uma blogueira de viagens e influencer (ou, em termos técnicos, uma criadora de conteúdo, promoter de produtos e apresentadora de destinos), consigo uma renda maior do que consegui com qualquer outro trabalho ao longo da minha vida.
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FORBES: Como você decidiu seguir essa carreira?
Alyssa Ramos: Para ser sincera, a primeira vez que fui a Los Angeles, tudo o que eu queria era não passar o dia todo em um escritório. Minha solução foi descobrir como trabalhar para as pessoas a partir de um laptop, e eu fazia isso, em grande parte, graças aos sites de freelancers. E tenho que admitir: muitas vezes eu procurava no Google as habilidades que os trabalhos existiam. De uma forma geral, elas incluíam construir um blog, administrar mídias sociais e fazer publicidade para outras pessoas e empresas. Um dia, um grande amigo me perguntou por que eu trabalhava tanto para pessoas que não me pagavam nem para o aluguel. “Você tem uma vida interessante e escreve bem, deveria começar um blog”, ele disse. E foi exatamente isso que eu fiz. Entretanto, não era um blog de viagem até eu viajar para fora do país pela primeira vez, há três anos. Depois disso, eu sabia que tudo o que eu queria era escrever sobre o assunto.
FORBES: Como você financiou suas primeiras viagens se ainda não ganhava dinheiro com o blog?
Alyssa Ramos: Eu economizei cada centavo que consegui com meus trabalhos como freelancer. Todo dinheiro que sobrava depois de pagar meu aluguel e a comida era para financiar minha primeira viagem internacional. Era uma viagem solidária, então não foi muito cara, mas eu tive que voltar para casa mais cedo por falta de recursos. Depois disso, continuei economizando, mas não era o suficiente, então comecei a trabalhar no meu blog e nas mídias sociais para tentar convencer os hotéis a me hospedarem para que, então, eu pudesse escrever sobre eles. Eu ainda não era uma blogueira e influencer grande o suficiente, então precisava ser realmente convincente – algo no qual eu era muito boa. Eu também era eficiente em fornecer o conteúdo que eles estavam procurando, então usei isso e suas recomendações para crescer.
Em determinado momento eu contei com a sorte, quando a equipe de uma revista de turismo para a qual eu escrevia mencionou que queria ir a Cuba, mas não conseguia o visto (antes de o embargo ser suspenso). Pelo fato de ter parentes lá, me ofereci para levá-los (para que eles pudessem me levar), usando o visto de visita à família. Eles aceitaram minha oferta e me pagaram pelo artigo.
Quando meu avô morreu, há dois anos, um artigo escrito por mim (“Yes, I’m Pretty and I’m Traveling Alone”, ou “Sim, eu sou bonita e estou viajando sozinha”, em tradução livre) e publicado no “Huffington Post”, tornou-se viral e aumentou muito o meu número de seguidores, assim como o interesse de estações de TV, produtores e diversos veículos que queriam saber mais sobre mim e minha história. Foi uma época muito difícil, entretanto, porque aconteceu logo após a morte do meu avô e eu estava muito triste, afinal ele era minha única figura paterna. E isso foi algo impressionante: meu artigo era altamente controverso e eu estava preocupada que arruínasse minha carreira.
Além do trabalho como freelancer e da criação de conteúdo, eu comprei um apartamento de um quarto com a pequena quantia que meu avô me deixou e o aluguei no AirBnb. Minha ideia era garantir algum dinheiro enquanto estivesse viajando. Mas eu acabei investindo demais no apartamento e fui forçada a viajar – eu precisa fazer isso para poder alugá-lo. No fim, acabei aprendendo a viajar no limite, com orçamentos muito baixos, e a utilizar tudo que estivesse ao meu alcance para criar conteúdo.
FORBES: Uma vez você disse que, em vez de pagar aluguel, você pagava para vagar pelo mundo.
Alyssa Ramos: Sim, é verdade. A quantia que pago em hotéis e no aluguéis de locações do Airbnb no exterior é igual ou menor do que eu pagava para viver em West Hollywood. Essa foi minha motivação nos primeiros meses em que passei fora do país. E, em vez de voltar para casa, eu continuei reservando voos para o próximo destino. A propósito: muitas pessoas acreditam que viajar é algo caro, mas você ficaria surpreso com o quão acessível uma boa acomodação pode ser.
FORBES: Existem diversos blogueiros e usuários do Instagram que se dedicam a expor suas viagens. Qual é a chave para o sucesso?
Alyssa Ramos: O segredo para o meu sucesso foi formar uma marca reconhecida, criando o melhor conteúdo na minha área, me esforçando e apresentando viagens de uma maneira com a qual as pessoas se identificassem e pudessem copiar. A maioria do meu público sabe que eu viajo sozinha e fui crescendo aos poucos. Sabem que eu não tenho pais ricos ou um namorado abastado. Aliás, não tenho nem quem tire as fotos para mim. Eles sabem que eu que tive de descobrir uma maneira de viajar pelo mundo com pouco dinheiro, o que mostra que qualquer um pode fazer isso sem a ajuda de uma terceira pessoa. Eu também acho que tiro fotos muito boas.
Outro ponto é que eu precisei criar minha própria forma de fazer isso tudo dar certo, o que significa que eu sou realmente boa como blogueira e estou extremamente comprometida em fazer todas as minhas campanhas o mais bem-sucedidas possível, o que me leva a mais projetos.
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FORBES: Como você ganha dinheiro atualmente?
Alyssa Ramos: Por ser uma blogueira e influencer, também sou fotógrafa, modelo, escritora, faço vídeos, sou editora e diretora de criação, E vou a ótimas localidades para tirar fotos e gravar vídeos. Também tenho forte influência sobre meu público, pois eles respeitam e confiam nas minhas recomendações, o que me torna valiosa para as marcas. Portanto, eu sou paga pelos hotéis, empresas que operam passeios turísticos ou vendem produtos e outros negócios que querem ser divulgados para o meu público.
Este ano, eu também inaugurei grupos de viagens que eu chamo de “#mylifesatravelTRIBE”, para que meus seguidores viagem comigo. A próxima será meu maior desafio até então: uma viagem em grupo para a Antártica.
FORBES: Qual o seu conselho para outras mulheres que querem fazer algo semelhante?
Alyssa Ramos: Meu conselho é que se essa é a sua verdadeira paixão e você está disposta a se esforçar muito, faça. Estamos em uma era em que o marketing das mídias sociais é uma indústria altamente valorizada. Se você conseguir fazer isso da maneira correta, também conseguirá receber para viajar pelo mundo. Eu ofereço um curso, gratuitamente, que eu chamo de “The Wanderlust Workers: Travel Savings and Makings Program”, para pessoas que trabalham em outras áreas e querem aprender a como economizar melhor e fazer trabalhos como freelancers para complementar a renda e ter dinheiro para viajar.
FORBES: Qual o melhor conselho que você já recebeu?
Alyssa Ramos: Eu sou muito ruim em ouvir as pessoas e, quando comecei, não tinha muita gente torcendo por mim… Mas alguns se destacaram. “Então vá” foi a resposta final da minha mãe quando eu admiti que queria viajar por conta própria para ser voluntária na África do Sul. Mas eu sei que ela ficou preocupada por eu estar indo sozinha e com pouco dinheiro.
“Isso é o que você faz que eu mais amo: viajar.” Essas foram as últimas palavras de meu avô depois de uma longa conversa em que ele me perguntou quando eu iria casar e ter filhos.
“Vão existir muitas pessoas tentando fazer o que você faz. Aconteceu comigo quando escrever sobre viagem se tornou algo importante. Mas continue, pois você está fazendo um bom trabalho”, disse Patricia Schultz, autora de “1000 Lugares para Conhecer Antes de Morrer” e alguém que admiro muito.
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FORBES: E qual foi o pior conselho?
Alyssa Ramos: “Não vá para determinado lugar.” Eu sempre escutei muito isso antes de passar por vários países e sempre acabei me apaixonando por eles. Alguns exemplos são a Índia, o Egito e a Jordânia.
FORBES: Você enfrentou algum desafio pelo caminho? E como se saiu?
Alyssa Ramos: Todo o caminho foi um desafio. Desde o começo, quando eu não tinha ideia do que estava fazendo ou dinheiro para investir no meu sonho até a constante competição e o crescimento irritante dos hackers. Sem contar as perguntas – as pessoas queriam, o tempo todo, saber como eu iria pagar pelas viagens – e a implicância com a maneira como eu me vestia. Para resolver tudo, eu tive de trabalhar duas vezes mais para ter sucesso, continuar lutando e não deixar as pessoas me atingirem. Eu sempre lembro a mim mesma que sou minha maior fã e torcedora. Cabe a mim ser tão bem-sucedida quanto eu quero ser.
FORBES: O seu slogan é: “seus sonhos não se concretizarão a menos que você se esforce”. Como outras pessoas poderiam utilizar esse conselho?
Alyssa Ramos: Esse slogan tem sido o mantra da minha vida desde que eu era pequena, pois eu nunca quis depender de ninguém para ter dinheiro, especialmente vendo o quão difícil foi para a minha mãe criar quatro filhos com o que ela ganhava.
Eu era e ainda sou o tipo de pessoa que prefere gastar horas pesquisando no Google em vez de pedir ajuda, pois, para mim, é melhor aprender sozinha do que esperar alguém me dar as respostas. Eu sabia que era a única pessoa no controle de tornar ou não realidade a minha ideia maluca de ganhar a vida viajando. E sabia que meu sonho não se concretizaria, a menos que eu me esforçasse muito.
Então esse é o conselho que eu dou: você não pode depender dos outros para fazer seus sonhos se realizarem. Ninguém nunca vai se esforçar tanto quanto você em prol dos seus objetivos. E se você não fizer isso, eles não irão se concretizar. Haverá dias em que você estará exausto, com medo dos emails que precisa mandar para convencer os outros ou das madrugadas em que precisará pular da cama para tirar fotos do amanhecer. Se você não se esforçar, seus sonhos não se tornarão realidade.