Criado na França em 1946, até hoje se discute se a autoria do biquíni é de Jacques Heim ou de Louis Réard. Mas quem leva os méritos em escala global quando se fala em moda praia, sem discussão, é o Brasil.
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No passado, de tempos em tempos, os modelos brasileiros chamavam a atenção – e às vezes chocavam – pela originalidade e ousadia. Ficaram famosos os do tipo “cortininha”, popularizado nos anos 1970 pela atriz e modelo Rose di Primo, e o asa-delta, dos anos 1980. Poucas eram as estrangeiras que se aventuravam a usá-los em seus países. Fora do Brasil, eles eram quase uma excentricidade.
O país produz mais de 260 milhões de peças de moda praia por ano*Nos anos 1990, a moda praia começou a ganhar mais espaço e a conquistar novos territórios, graças à maior exposição em semanas de moda e ao surgimento de marcas que viriam transformar o mercado de forma mais consolidada – como a Rosa Chá, que desfilou no New York Fashion Week pela primeira vez em 2000.
E então, já no novo milênio, o mercado internacional começou a olhar para o biquíni brasileiro com outros olhos: havia algo ali, um estilo especial e elegante. As exportações pipocaram.
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Marcas como Lenny Niemeyer, que comercializa conjuntos de biquínis a partir de R$ 300, passaram a ocupar araras de lojas de departamento luxuosas, como a Bloomingdale’s. A Água de Coco tornou-se habitué das feiras de Miami, porta por onde entrou no mercado americano – está com uma loja temporária nos Hamptons (Nova York) e um espaço dentro da Bergdorf Goodman. A Vix decidiu encurtar essa distância e pensou “ao contrário”: foi criada especificamente para o mercado americano. A grife Adriana Degreas investiu no mercado europeu, e há cinco anos está presente na cobiçada Harrods, em Londres.
Todas essas marcas tornaram-se objeto de desejo mundo afora. É comum os preços chegarem aos quatro dígitos, não importa se estamos falando de reais, euros ou dólares.
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Getty Images Lenny Niemeyer
A estilista começou sua carreira em 1979, quando produzia biquínis para marcas como a italiana Fiorucci e a Richards. Só em 1991 criou sua própria marca, homônima, junto com a abertura do primeiro ponto de venda, no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro. Hoje tem 19 lojas próprias, 180 multimarcas e presença em pontos de venda espalhados pelo mundo.
Alinhada com a estratégia focada em exportação de outros fabricantes brasileiros, produzia para o mercado exterior e lançava as coleções no Hemisfério Norte enquanto estávamos no inverno brasileiro. Por muito tempo, vendeu peças para a Victoria’s Secret, que eram comercializadas com a etiqueta Lenny Niemeyer e com a da loja americana. Dez anos atrás, no entanto, Lenny resolveu concentrar esforços no high-end. “Lá fora o mercado é muito segmentado. Eu não conseguiria comercializar em uma loja de departamento luxuosa e na Victoria’s Secret ao mesmo tempo”, explica. “Optei por atuar no mercado de luxo globalmente.”
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Divulgação Lenny Niemeyer
Hoje a grife está presente em boa parte da Europa, incluindo Rússia e Ucrânia. Entre as lojas de departamento nas quais tem corners estão a Bergdorf Goodman e a Neiman Marcus, assim como os e-commerces Net-a-Porter e Moda Operandi, ambos focados em produtos de luxo. “O mercado interno sempre será importante para mim, pois representa quase 80% da minha produção, mas vejo que o mercado internacional nos oferece muito campo para expandir”, analisa a estilista.
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Divulgação Vix
A marca fez o movimento contrário da maioria das brasileiras: já começou focada no mercado internacional. A fundadora Paula Hermanny morava em San Diego, Califórnia, e tinha convicção de que levar a moda praia brasileira para lá seria um bom negócio. Foi o que fez em 1998.
Seu primeiro ponto de venda foi a Urban Outfitters, loja multimarcas americana focada em moda jovem. Quando decidiu investir no setor de luxo, conseguiu espaço na Saks Fifth Avenue, a primeira loja de departamentos a comercializar sua marca – hoje disponível também na Neiman Marcus, Nordstrom, Bloomingdale’s, Barneys e no e-commerce Net-a-Porter. Apesar da produção quase totalmente brasileira, exceto por algumas peças produzidas na Índia, foi apenas em 2007 que a Vix abriu seu primeiro ponto de venda no país, a Daslu. Em 2013, inaugurou a primeira loja própria, no Rio de Janeiro, momento que Paula considera fundamental na trajetória da grife: “Foi no Brasil que comecei o mercado de varejo. Foi aí que começamos a criar um lifestyle atrelado à Vix e a ousar mais nas criações. É preciso ter mais novidades quando lidamos com o consumidor diretamente”.
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Divulgação Vix
O momento atual é marcado por duas novas lojas próprias nos Estados Unidos, em Miami e na Califórnia. Elas se juntam aos mercados da Europa e do Oriente Médio no escoamento da produção – cerca de 40 mil biquínis por mês.
“Quando pensamos no beachwear de luxo, pensamos em peças trabalhadas, com tecidos sofisticados. As pessoas querem estar despojadas e ao mesmo tempo elegantes”, diz a estilista.
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Divulgação Água de Coco
A Água de Coco surgiu há 32 anos. Na época, a fundadora Liana Thomaz estava com 17 anos e grávida. Sua entrada no mercado de biquínis começou com um esquema de revenda – ela ia para o Rio de Janeiro, comprava as peças e as comercializava no Ceará. Logo enxergou a oportunidade de criar uma linha própria diferenciada, produzida na sala de sua casa.
As conquistas vieram, e em 1989 ela participou da primeira feira de moda praia. No ano seguinte, abriu a primeira loja própria. Sua estreia na Fashion Week aconteceu em 2002. E a investida no mercado internacional aconteceu em 2004: “Na mesma época fechamos uma colaboração com a Victoria’s Secret, onde vendemos peças com a etiqueta Água de Coco”, lembra Renato Thomaz, filho da fundadora e diretor de marketing e exportações – ele também está no comando criativo da grife.
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Divulgação Água de Coco
A Flórida foi o ponto inicial da internacionalização. A partir daí, ampliou para feiras em Nova York, Paris e Las Vegas. Em 2017, estabeleceu estratégias agressivas para o mercado internacional, como o corner na Bergdorf Goodman. Na sequência, o luxuoso balneário de Hamptons, em Nova York. “A princípio, o ponto é temporário e fica aberto até o começo de outubro. Mas muitas marcas que foram para lá com esse intuito acabaram ficando, como a Ralph Lauren e Elie Tahari”, diz Thomaz. “Escolhemos o Hamptons porque ele é frequentado por pessoas do mundo inteiro – e porque queremos crescer no mercado norte-americano.”
Hoje são 86 pontos de venda espalhados por lugares como Reino Unido, França, Canadá, Espanha, Chile, Turquia, Israel, Angola e África do Sul, além dos EUA. E a empresa quer explorar ainda mais o potencial do mercado de beachwear de luxo brasileiro: “Sempre fomos observados. Com o cenário globalizado, tudo se tornou mais fácil. Quando olho as coleções internacionais, vejo marcas do DNA brasileiro, como no último desfile da Louis Vuitton, que tinha muitas estampas de palmeiras, assim como a Dolce & Gabbana, que também apostou em uma coleção tropicalizada”.
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Divulgação Adriana Degreas
Adriana formou-se em desenho industrial e logo começou a trabalhar na indústria têxtil de seu sogro, a Beira Mar, que produzia peças para a Pierre Cardin e para a italiana Gucci. Trabalhou também desenvolvendo coleções de moda praia para 23 marcas antes de abrir sua própria grife em 2001, o que fez de forma “intuitiva”, sem um business plan definido.
Na época, resolveu nadar contra a maré: “As marcas brasileiras de beachwear estavam apostando em mostrar um DNA bem brasileiro, com estampas. Eu nunca quis seguir essa tendência, olhei muito para o mercado internacional e importei tendências de fora”, conta.
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Divulgação Adriana Degreas
Há seis anos, a empresa começou a se posicionar no mercado internacional, expondo em showrooms exclusivos para lojistas. As multimarcas e lojas de departamento se seguiram. A estilista afirma que o “encaixe” com o mercado europeu foi o mais produtivo – entrou na inglesa Harrods e na parisiense Le Bon Marché. Em 2017, abriu o primeiro ponto de venda próprio internacional, no Shopping Merrick Park, em Miami. Em junho fez um evento de lançamento na Bergdorf Goodman, como “prêmio” pelas boas vendas da última coleção comercializada lá. São, no total, 80 lojas estrangeiras. A produção made in Brazil, no entanto, não será substituída: “O país tem um know-how muito forte no segmento. Tenho uma equipe qualificada e a matéria-prima brasileira é muito boa.”
Lenny Niemeyer
A estilista começou sua carreira em 1979, quando produzia biquínis para marcas como a italiana Fiorucci e a Richards. Só em 1991 criou sua própria marca, homônima, junto com a abertura do primeiro ponto de venda, no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro. Hoje tem 19 lojas próprias, 180 multimarcas e presença em pontos de venda espalhados pelo mundo.
Alinhada com a estratégia focada em exportação de outros fabricantes brasileiros, produzia para o mercado exterior e lançava as coleções no Hemisfério Norte enquanto estávamos no inverno brasileiro. Por muito tempo, vendeu peças para a Victoria’s Secret, que eram comercializadas com a etiqueta Lenny Niemeyer e com a da loja americana. Dez anos atrás, no entanto, Lenny resolveu concentrar esforços no high-end. “Lá fora o mercado é muito segmentado. Eu não conseguiria comercializar em uma loja de departamento luxuosa e na Victoria’s Secret ao mesmo tempo”, explica. “Optei por atuar no mercado de luxo globalmente.”
*Fonte: Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção