Vinte pessoas morreram no primeiro fim de semana de outubro quando uma limusine, a caminho de uma festa surpresa de 30 anos em uma cervejaria em Cooperstown, Nova York, perdeu o controle na pacata cidade de Schoharie. Entre os mortos, estão dois casais recém-casados, quatro irmãs de uma mesma família e seus maridos, além de dois irmãos de outra família. O National Transportation Safety Board já o considera o acidente em trânsito mais letal em quase uma década.
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O filho do proprietário e operador da Prestige Limousines, a empresa que alugou o Ford Excursion 2001 usado na tragédia, foi preso logo depois, acusado de homicídio por negligência criminosa. A ABC News informou que Nauman Hussain foi denunciado por ter alugado um carro que ele sabia ter defeito, com um motorista ele também sabia não ter a licença necessária.
Evidências contra a operadora vêm aumentando desde o início da investigação. O governador de Nova York, Andrew Cuomo, disse aos repórteres na parada de Columbus Day (Dia de Colombo, 8 de outubro) em Manhattan que a limusine havia falhado em uma inspeção em 6 de setembro e, por isso, nem deveria estar na estrada. As violações citadas incluíram mau funcionamento do freio e limpadores de pára-brisa inoperantes, de acordo com a agência de notícias Reuters. Além disso, os registros mostram que o veículo, na verdade, falhou em múltiplas inspeções pelo Departamento de Transporte do Estado de Nova York e que todos os três veículos da empresa tiveram problemas quando foram inspecionados no mês passado.
O advogado da Prestige Limousines, Lee Kindlon, subestimou as infrações em entrevista ao programa Good Morning America. Disse que eram “problemas menores” e que “foram corrigidos”.
Um porta-voz do New York State Department of Transportation (NYSDOT) contestou a fala de Lee Kindlon. “A declaração de que a limusine foi liberada para tráfego depois da inspeção de setembro é categoricamente falsa”, disse à ABC News. “O proprietário foi alertado para não operar o veículo e tirá-lo de serviço.”
Além das falhas mecânicas, a viagem fatal ignorou outro problema. O motorista do acidente, Scott Lisinicchia, havia sido citado em agosto por operar a mesma limusine sem a devida licença, segundo a Polícia do Estado de Nova York. Em resumo: contra todas as indicações, o veículo foi para a estrada duas vezes em poucas semanas. Agora, a empresa está com operações suspensas pela justiça até que as investigações sejam concluídas.
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Especialistas em veículos modificados não se mostram surpresos com a notícia de que um carro enorme esteja envolvido em um acidente fatal. Não é incomum, a maioria observa, que esse tipo de automóvel tenha falhas sérias e perigosas. As técnicas usadas para alongar um veículo fazem dele um Frankenstein, o que compromete significativamente sua integridade estrutural e seus recursos de segurança, na medida em que o carro é cortado e remontado com peças que não foram projetadas para ele. Tudo muda com a adaptação do veículo: a capacidade de manobrá-lo e de estacioná-lo, por exemplo.
Isso sem falar na quantidade de plástico, estofo e chapas metálicas adicionados ao automóvel. A menos que os freios, a suspensão e o motor sejam incrementados para dar conta desse peso adicional – assim como o peso de mais ou menos uma dúzia de passageiros – o veículo pode se converter numa receita para o desastre.
“A limusine é um carro que não foi projetado para ser do tamanho de um ônibus”, diz Deborah Hersman, presidente do grupo de defesa do Conselho Nacional de Segurança e ex-presidente do NTSB (sigla para National Transportation Safety Board, ou Conselho Nacional de Segurança no Transporte, em tradução livre). “Também não foi testado contra colisões no formato que adquiriu.”
A limusine em questão, segundo reportagens publicadas nos últimos dias, foi modificada várias vezes ao longo dos anos para acomodar mais e mais pessoas. E não possuía a certificação adequada, garantindo que atendesse aos padrões de segurança federais. “Isso levanta uma questão: quem está avaliando a capacidade de circulação desses veículos?”, diz Hersman. “Isso varia de estado para estado. Alguns têm inspeções de segurança. Outros não.”
Em comunicado emitido por seu advogado, a companhia de frete de limusines expressou suas condolências aos parentes dos mortos. “Estamos realizando uma investigação interna detalhada para determinar a causa do acidente”, dizia o texto. “Já nos reunimos com investigadores estaduais e federais e pretendemos fazê-lo novamente.”
“Esta é uma tragédia muito incomum”, diz Deborah Hersman, do NTSB. “Não apenas pelo número de mortos, mas porque as vítimas foram cuidadosas. Todos os anos, dez mil pessoas morrem em acidentes de trânsito relacionados ao consumo de álcool. Essas pessoas contrataram um motorista sóbrio e profissional para transportá-las enquanto festejavam. Elas não pretendiam se tornar uma estatística. Elas foram enganadas.”
Aprenda quatro precauções para evitar uma tragédia semelhante:
1. Verifique se o motorista tem licença para guiar o veículo
2. Peça para ver se o carro foi devidamente certificado pelo governo federal, se as modificações são asseguradas pelas autoridades oficiais
3. Inspecione o veículo para quaisquer problemas mecânicos óbvios
4. Certifique-se de que a cabine tenha cintos de segurança suficientes para todos os passageiros