Milhares de turistas vão à Milão todos os anos para ver de perto a obra “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci”, mas poucos sabem que o artista italiano deixou outro tesouro a poucos passos do famoso afresco. O Vinhedo de Da Vinci, ou “La Vigna di Leonardo”, como é originalmente chamado em italiano, está localizado bem próximo aos jardins da Casa degli Atellani, uma residência particular que oferece uma oportunidade única para experimentar o renascimento milanês. E, às vésperas do 500º aniversário de morte de Leonardo da Vinci, 2019 é o momento perfeito para refazer os passos do artista na parte norte da cidade.
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Nascido em Vinci, comuna italiana da região da Toscana, em 1452, Leonardo di Ser Piero da Vinci foi um dos mentores vanguardistas mais produtivos que o mundo já conheceu. Renascentista, falava sobre astronomia, cartografia, engenharia, geologia e até botânica. Ele aperfeiçoou suas habilidades em Florença, antes de se mudar para o norte do país, em 1482, para trabalhar com Ludovico Sforza, visionário duque de Milão que logo se tornaria um dos patronos mais importantes de Da Vinci.
O artista fez seu tempo em Milão muito produtivo, trabalhando em numerosos projetos para o duque ao longo de duas décadas. Ele projetou o canal da cidade, desenhou milhares de esboços preservados em seu caderno Codex Atlanticus e pintou “A Última Ceia” (1495-1498), abrigada no refeitório do convento da Igreja Santa Maria delle Grazie. Para demonstrar sua gratidão, Ludovico Sforza presenteou Da Vinci com pequenos vinhedos, onde o artista se inspirava enquanto pintava sua mais famosa tela. O próprio pintor veio de uma família de vinicultores e, por isso, já havia tido experiências com vinhas.
Quando as tropas francesas invadiram Milão, em 1499, Da Vinci fugiu da cidade e, consequentemente, da Casa degli Atellani, abandonando seu vinhedo. O terreno passou por vários incêndios durante a Segunda Guerra Mundial e foi completamente bombardeado. Anos depois, foi comprado por Ettore Conti, engenheiro e magnata do segmento de energia na Itália, e restaurado na década de 1920 pelo renomado arquiteto milanês Piero Portaluppi. O restante do vinhedo ficou imerso na história até a Expo de Milão, em 2015, quando a revitalização cultural na cidade foi estimulada. Os netos de Portaluppi, atuais proprietários da Casa Atellani, decidiram recriar o vinhedo de Da Vinci séculos depois de sua morte. Para isso, trabalharam em conjunto com o enólogo Luca Maroni e a Universidade de Ciências Agrárias de Milão, com o objetivo de estudar a espécie original de uva, a Malvasia di Candia Aromatica, e de replantar a vinha do século 15.
Atualmente, os turistas podem experimentar a magia da vinhedo dos Atellani hospedando-se em um dos seis apartamentos boutique localizados no jardim de heras da propriedade. Repletos de história, as habitações foram remodeladas pelo neto de Portaluppi, Piero Castellini Baldissera, e seu bisneto, Filippo Taidelli, ressaltando os laços familiares que persistem na propriedade. Com comodidades contemporâneas e móveis sob medida feitos por artesãos locais – incluindo tecidos da C&C Milan (uma empresa têxtil de Piero Castellini) – as hospedagens são confortáveis, oferecem ótima localização para explorar a cidade e dão acesso particular às vinhas de Da Vinci. O jardim faz com que os turistas se sintam em uma viagem no tempo.
Também é possível provar um pouco do vinho de Da Vinci durante a hospedagem na propriedade. A última colheita foi no ano passado, em colaboração com o Castelo de Luzzano, um local de produção de vinho onde a família Atellani viveu. O Tasto Atellano, um vinho branco fresco feito de uvas Malvasia, tem um leve aroma floral e toques cítricos.
O Vinhedo de Da Vinci é aberto ao público diariamente. Os passeios duram cerca de meia hora e levam os turistas também à Casa dos Atellanis e aos jardins da propriedade.