Nos últimos anos, tenho observado lançamentos de marcas de roupas e seus fundadores. É fascinante ver quem obteve sucesso e quem não teve tanta sorte. Ao revisitar algumas das minhas marcas favoritas, realizei, mais uma vez, uma entrevista com empresária Marion Parke, cuja marca homônima tem ganhado reconhecimento.
LEIA MAIS: Conheça a CEO que une marcas de luxo e mercado chinês
Faz mais de dois anos que entrevistei, pela primeira vez, a ex-podóloga que se tornou designer de calçados de luxo e que, com o seu nome, criou uma linha de última geração para mulheres e transformou a palmilha tradicional em ortopédica. Após inaugurar a marca, em 2015, Marion conseguiu fazer o impensável ao criar sapatos que são mais do que simplesmente bonitos, são uma revolução para o conforto dos pés.
Na época, Marion ainda não havia patenteado suas palmilhas, mas isso mudou recentemente. “A aquisição de uma patente é um processo longo e relativamente caro. Eu apresentei o requerimento em 2014, então, demoraram cerca de quatro anos e meio. Nesse período, houve uma quantidade razoável de idas e vindas do Escritório de Patentes dos EUA para explicar a maneira exclusiva como minha palmilha funciona, em comparação a invenções já existentes”, explica, na nova entrevista. “Ainda temos um segundo pedido pendente, que também é muito interessante. Afinal, quanto mais patentes uma empresa tem, melhor para seu valor e para sua singularidade no mercado.”
Com relação a tentativas de imitação, Marion conta uma história sobre a fundadora da marca de roupas íntimas SPANX, Sara Blakely. “Penso muito sobre Sara. No início de sua jornada, muitas pessoas a imitavam, não só seus produtos mas também sua imagem. Ela sabia que teria dois caminhos: gastar tempo e recursos processando os imitadores ou se concentrar em avançar com seus negócios. Sara escolheu a segunda opção”, afirma.
“Não dou tempo aos meus concorrentes. Antes de tudo, eles não têm a mesma base de conhecimento profissional que eu. Eles não conhecem a anatomia ou a biomecânica de como os sapatos afetam o pé e o tornozelo. Levamos essa marca de maneira muito elevada”, acrescenta Marion. “Essa marca dá voz para mulheres que são sofisticadas e entendem e reconhecem as diferenças na sociedade. Nossa base de clientes é composta por mulheres inteligentes que apreciam estética, artesanato e conforto. Vivemos um momento interessante para o empoderamento feminino. Consumidoras querem informações, querem aprender e estão interessados em se conectar com histórias, o que torna nossa empresa única. Mulheres que amam moda e arte podem apreciar esses sapatos.”
A maioria das marcas que tenta imitar a Marion Parke adiciona um simples enchimento à palmilha. “Enchimento adicional não é a mesma coisa e, na verdade, pode causar dor e fadiga”, define a ex-podóloga. “Pense nas atividades que realiza quando usa sapatos, como ficar de pé e andar, e as compare com as atividades de um tênis utilizado para andar de skate. Skatistas utilizam cerca de dezesseis vezes mais força quando praticam, e a mesma coisa vale para jogadores de basquete. São nesses casos que a absorção de choque e o enchimento adicional são importantes. Pode ser uma surpresa, mas, quando estamos em pé, precisamos de mais rigidez e suporte. Por isso, digo que podólogos e marcas de calçados não fizeram um bom trabalho ao educar o mercado. É preciso mudar as percepções das pessoas sobre calçados. Existem muitos fatores que fazem um sapato ser confortável, e o enchimento é um fator problemático”, comenta.
VEJA TAMBÉM: Barneys anuncia loja de cannabis de luxo
Outra novidade da Marion Parke é a parceria com um de seus investidores, que também trabalha com calçados. “Nossos investidores também vêm da indústria de calçados, o que foi um benefício enorme. Poderia ter arrecadado dinheiro com amigos e familiares, mas queria um ‘dinheiro inteligente’. A família Miller [responsável pela marca de calçados Minnetonka] fez um investimento na minha marca, após nos conhecermos por meio de um amigo em comum”, conta. “Jori Miller me apresentou ao pai dela, David, e à sua madrasta, Jennifer, que não conseguia acreditar em como os calçados são confortáveis. Com esse financiamento, pretendemos aumentar nossa equipe de vendas, aprimorar nosso website, aumentar nossa distribuição e nossa presença digital e elevar o reconhecimento de nossa marca. Temos esses investidores inteligentes ao nosso lado para garantir que tomemos as decisões certas à medida que crescemos.”
Sem dúvida, a marca de Marion tem crescido rapidamente e ganhado seguidores leais, o que não é nada surpreendente. Ela criou um produto premium que resolve um problema inegável, de forma fiel ao seu plano original de negócios. “Desde o início, tínhamos o mesmo modelo de negócios e isso é ter uma forte rede digital e de atacado. Estou muito feliz em dizer que agora estamos trabalhando com as marcas Neiman Marcus, Bergdorf Goodman e goop! Para mim, o mais importante é o reconhecimento de que somos uma marca diferenciada. Mantemos contato com parceiros em potencial, tanto lojas de departamentos quanto lojas independentes. Nossos clientes fazem compras em ambos os perfis, além do comércio eletrônico. Uma vez, um mentor incrível me disse que as empresas mais estáveis têm ‘um ecossistema’, ou seja, um forte relacionamento com parceiros e uma presença online. Assim como em um ecossistema da natureza, se uma companhia se equilibra em apenas um desses pilares, ela simplesmente não consegue se sustentar”, finaliza.