Eu sei, muita gente leu o título desta matéria e pensou: “ué, ainda existia essa locadora?” Daí que eu vou viajar e dizer que, tal e qual o gato de Schrodinger, a 2001 Vídeo estava e não estava viva ao mesmo tempo. Desde 2015, quando sucumbiu à inexorável extinção das videolocadoras e fechou suas duas últimas lojas, sobrevivia (ou tentava) no digital. Por meio de seu site, vendia títulos em blu-ray e DVD. A edição mais recente da newsletter enviada aos ainda remanescentes fãs da marca – eu aqui, entre eles – informou que o fim definitivo está próximo. No dia 31 de março, a empresa encerra de vez suas atividades.
LEIA TAMBÉM: Yalitza Aparicio, de “Roma”, se torna queridinha da Prada
Quem se animar de adquirir algo pode escolher entre opções como uma lata especial com o blu-ray do filme “Tubarão” por R$ 109,90, DVDs de clássicos como “Gilda” por R$ 19,90 e lançamentos como “Pantera Negra” (R$ 34,90 o DVD. R$ 44,90 o blu-ray).
Com o diferencial de oferecer filmes que faziam a cabeça e o coração de amantes de cinema de arte e independente, a 2001 se tornou a locadora de vídeo paulistana mais tradicional. Chegou a ter sete lojas, das quais a mais marcante era a matriz da Avenida Paulista. Até hoje passo pela frente e me lembro de quantas vezes entrei ali, nem que fosse apenas para ver as novidades. Passava horas e horas escolhendo o que assistir, e por mais que houvesse o empecilho de às vezes o filme que queria já estar alugado, acabava achando outro. E nisso descobria títulos que, sobretudo em tempos pré-internet, talvez jamais visse.
A 2001 nasceu em 1982, com um acervo de 200 títulos. Chegou a ter cerca de 20 mil filmes em DVD blu-ray, além de comercializar livros sobre cinema e produtos relacionados à indústria. O número de sócios passava de 170 mil pessoas, e a maior parte (60%) do faturamento milionário – em 2010, quando a ameaça era a pirataria, não o streaming, foi de R$ 12,5 milhões – vinha de locação. Eram mais de 60 mil locações por mês.
TAMBÉM EM FORBESLIFE: Joalheria cria coleção inspirada em Frida Kahlo
Costumo dizer que, para a geração nascida no fim dos anos 1970 e primeira metade dos 80, é uma bênção e uma maldição termos vivido os últimos momentos da vida analógica e os primeiros da digital. Seria mais fácil nunca ter criado vínculos emocionais com modelos de negócio que marcaram nossa infância do que vê-los deixar de existir. Quando moleque, eu tinha o sonho de abrir uma locadora depois de adulto. Parecia que aquilo ia durar para sempre!
Ao mesmo tempo, é maravilhoso termos fluido da mídia física para o streaming com tanta naturalidade. Por mais que eu chore o fim das locadoras, reconheço que não me lembro qual havia sido a última vez que estive em uma (antes de quase todas fecharem, obviamente. Não é curioso como a gente lamenta que alguns produtos e serviços cheguem ao fim, mas a bem da verdade nem sequer os consumíamos? Sei lá, memória afetiva, creio.
A única coisa que continua igual é a demora para escolher que filme a gente vai ver. Acredito que você tenha passado por isso: abrir a Netflix (ou Hulu, Amazon, Globo Play…) e, depois de tanto pesquisar, acabar desistindo porque passou TANTO tempo olhando que dá a hora de dormir ou de ir pra rua. Algumas coisas nunca mudam, afinal.
Forbes no Facebook: http://fb.com/forbesbrasil
Forbes no Twitter: http://twitter.com/forbesbr