“Nunca me peça filhos, nem que eu vá para a cozinha”, foi a frase dita por Liuba (1923-2005) ao marido, o industrial Ernesto Wolf, no momento em que a pediu em casamento. Isso em 1957, quando a emancipação feminina ainda não andava a passos largos e condições do tipo poderiam fazer o pretendente desanimar. A atitude diz muito sobre a postura à frente de seu tempo da artista, homenageada a partir de sexta (15) com uma exposição em São Paulo.
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De família búlgara, porém nascida numa viagem à Alemanha, radicou-se no Brasil no começo dos anos 50. Aqui, aproximou-se de nomes hoje consagrados, que naquela época ainda davam os passos iniciais da internacionalização do circuito artístico – basta lembrar que a primeira Bienal aconteceu em 1951.
Sua primeira exposição aconteceu na Galeria Domus, a mesma que exibia trabalhos de talentos como Tarsila do Amaral e Flávio de Carvalho. Suas esculturas, visões abstratas de animais e vegetais, participaram dos festejos do quarto centenário do Rio de Janeiro, em 1965. Ocupam não apenas salas de museus, reservas técnicas e espaços privados, mas também locais públicos, como o paulistano Jardim da Luz. Produziu até o fim de sua vida nos ateliês que mantinha em São Paulo e em Paris.
Foi na cidade francesa que Claudia Jaguaribe se familiarizou com o trabalho de Liuba. Brasileira, ela nasceu na década em que a búlgara desembarcou por aqui, e também vivia entre a capital paulista e a Europa. Na exposição, apresenta uma instalação formada por fotografias que fez nos ateliês de Liuba. As imagens são compostas por recortes, colagens e interferências serigráficas, propondo um diálogo entre duas artistas separadas no tempo e no espaço – ainda que, de certa forma, próximas uma da outra.
Liuba e Claudia, ou melhor, os trabalhos delas ficarão expostos na galeria Marcelo Guarnieri, no Jardim Paulista, até 11 de maio. Uma sala com a instalação de que falamos no parágrafo acima, outra com as esculturas.
Por último, mas definitivamente não menos importante: Ernesto e Liuba se casaram poucas semanas depois da noite em que ela impôs suas condições. Ficaram juntos até a morte dele, quase meio século mais tarde, e ele era tão apaixonado que mantinha um retrato da mulher na mesa de cabeceira. Dizia que era para ver seu rosto sempre que acordasse, não importava para qual lado estivesse virado. Ai, ai.
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