Setembro de 2014. Eu estava em Londres para o lançamento do Rolls-Royce Ghost Series II. Uma noite, saindo para jantar, o CEO mundial da Rolls-Royce, Torsten Müller-Ötvös, um simpático e sorridente alemão, ofereceu-me carona para ir com ele a bordo do Rolls-Royce Phantom que ele usa na Inglaterra. Entre vários assuntos, falamos sobre o Brasil, sobre a FORBES e sobre carros. Lembro-me especificamente de quando ele perguntou que carro eu dirigia no Brasil. Ao responder que era um SUV, ele imediatamente perguntou qual era minha opinião sobre um eventual SUV da marca. Naquele instante, a conversa era tão informal e a pergunta soou tão despretensiosa que eu jamais imaginaria que àquela altura os designers e engenheiros em Goodwood, a casa da montadora no countryside britânico, estavam debruçados sobre o projeto daquele que viria a ser o mais impressionante veículo já produzido pela icônica marca inglesa, o Rolls-Royce Cullinan.
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Tudo o que envolve o projeto do Cullinan é grandioso, revolucionário e inédito – a começar pelo nome. Em vez de um nome “assombrado”, como os de seus irmãos Phantom, Ghost e Wraith, a ocasião pedia algo superlativo, à altura do acontecimento. Cullinan é o nome do diamante de 621 gramas – o maior do mundo – encontrado em 1905, em uma mina de propriedade de Thomas Cullinan, na África do Sul. Imagine o espanto dos mineiros e do dono da mina diante de tamanho tesouro.
O diamante gigante
Um pouquinho mais da história do Cullinan. O governo da província de Transvaal resolveu presentear o rei Eduardo VII, da Inglaterra, com a pedra preciosa encontrada na mina sul-africana. O rei, certamente, perdeu o fôlego ao receber o presente. Era tão grande que foi então enviada para ser dividida em vários pedaços por especialistas, em Amsterdã. Da divisão, surgiram um espetacular diamante lapidado batizado de Cullinan I, de 530 quilates (106 gramas), que foi instalado no cetro real, e o Cullinan II, de 317 quilates (63 gramas), montado na coroa. Em 1953, a rainha Elizabeth II usou essas joias na cerimônia de coroação – provocando novos olhares de espanto, suspiros e queixos caídos.
Mais de um século depois da incrível descoberta no subsolo africano, era a minha vez de experimentar sensações semelhantes diante de outra maravilha lapidada à perfeição: o Rolls-Royce Cullinan, indiscutivelmente o SUV mais luxuoso do mundo (sim, a preferência global pelos SUVs chegou ao topo da pirâmide).
No papel, as especificações não deixavam dúvidas de que o primeiro all-wheel drive da RR era um supercarro, mas precisávamos comprovar isso em condições normais de uso. Assim, tive a felicidade de ir a um dos paraísos da vida selvagem: Jackson Hole, no estado americano do Wyoming, tendo a imponente cadeia Grand Teton como pano de fundo, para, finalmente, sentar-me ao volante dessa joia da indústria automotiva.
Eu não sabia o que esperar. Já tinha ouvido comentários de que o carro era enorme. Nem tanto. O Cullinan segue a linha Architecture of Luxury, que explicita seu parentesco com os sedãs Phantom e Ghost em detalhes como
grade, faróis e portas suicidas. Apesar de um pouco mais curto que o Phantom, famílias grandes e com muita bagagem não terão do que reclamar: seu porta-malas chega a 1.930 litros conforme a configuração – e ainda oferece gavetas extensíveis para guardar objetos e equipamentos. Além do mais, ser “um pouco mais curto que o Phantom” significa um entre-eixos de 3,29 metros! Ok, o Cullinan é grande, mas é também bastante ágil, tanto no asfalto como em terrenos acidentados.
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Para mover os seus quase 3 mil quilos, debaixo do capô repousa um V12 twin-turbo de 6,75 litros que entrega nada menos que 571 cv de potência (a velocidade máxima anunciada é de 250 km/h) e que acelera de 0 a 97 km/h em 5 segundos. As oito marchas, combinadas com a suspensão inteligente, colaboram decisivamente para as respostas rápidas, entregando força e potência sempre que exigidas. Não que isso signifique menos conforto. A sensação de “passeio no tapete mágico” está sempre presente, principalmente no modo off-road. Basta apertar o botão e seus computadores se encarregarão do resto. Talvez fosse nisso que a Rolls-Royce estivesse pensando quando cunhou a
tagline “Sem Esforço em Todos os Lugares”.
O sistema de suspensão ativa usa informações de aceleração, inclinação (da carroceria e das rodas) e dados da direção e da câmera de bordo para ajustar o amortecimento (são mais de mil cálculos por segundo) e garantir uma direção suave, rápida e segura. No modo off-road, o sistema de suspensão empurra ativamente as rodas para baixo, se necessário, para maximizar a aderência; os sistemas de freios e tração trabalham de forma inteligente, controlando a ação de cada roda. Quando a câmera detecta um buraco na pista, a suspensão distribui o peso do carro nas rodas opostas, para fazer um contrapeso e diminuir o impacto. Tudo em milissegundos.
Já voltei de Wyoming faz algum tempo, mas não esqueci a sensação de “escalar” a Snow King Mountain, onde fica a pista de esqui mais íngreme dos Estados Unidos, dirigindo o Cullinan. O torque do motor, aliado ao conforto e ao silêncio interno (são 110 quilos de isolantes acústicos) fazem essa tarefa parecer muito simples.
Quando eu olhava para o horizonte e via a Spirit of Ecstasy enfeitando graciosamente o capô, o feito tomava proporções ainda maiores: eu estava fazendo tudo aquilo a bordo de um Rolls-Royce, “calçado” com pneus Continental ContiSportContact 5 de 22 polegadas – os maiores já utilizados por um Rolls-Royce – desenhados para uso no asfalto. Enfrentar as trilhas que enfrentamos já seria um desafio e tanto para um off-road convencional, mas chegar ao cume da Snow King Mountain com o nível de conforto que experimentamos, só mesmo num Cullinan.
São incontáveis os detalhes que fazem você se sentir um rei nesse carro magnífico – nem preciso dizer que o couro, a madeira, os metais e até o (pouco) plástico usados são da melhor qualidade. Ao embarcar, um mecanismo da suspensão rebaixa o carro em até 40 mm para facilitar o acesso. Em dias frios (como era o caso no dia do meu test drive), volante, assentos e apoios de braço são aquecidos.
No quesito segurança, impressionam os faróis a laser, com seus 600 metros de alcance, e uma profusão de recursos tecnológicos – como alerta de sono, sistema multicâmeras, visão noturna, alerta de animais e pedestres na pista, wi-fi, sistemas de navegação e de entretenimento de última geração e head-up display de alta resolução (que projeta informações no para-brisa sem comprometer a atenção do motorista).
Uma das atrações mais aguardadas no Salão do Automóvel, em São Paulo, o modelo pode ser encomendado no Brasil por um preço estimado em R$ 3 milhões – ou mais, conforme a personalização (um conselho: caso você compre um, alimente-o com gasolina premium de 91 octanas).
Eu tinha dúvidas sobre qual Rolls-Royce era meu predileto, mas o Cullinan veio para acabar com todas as minhas dúvidas. SUV e off-road sim, mas sem perder a elegância jamais…
Veja, na galeria de fotos abaixo, detalhes do Rolls-Royce Cullinan:
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Divulgação O Cullinan atinge a velocidade máxima de 250 km/h
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Divulgação As rodas de 22 polegadas no novo carro da Rolls-Royce
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Divulgação O farol a laser de longo alcance (600 m)
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Divulgação Cabine espaçosa com display central touchscreen do SUV
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Divulgação As portas suicidas do novo modelo Cullinan
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Divulgação Controles centrais do display, do computador de bordo e da função off-road
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Divulgação O painel analógico clássico do Cullinan
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Divulgação Símbolo Spirit of Ecstasy: presença marcante no capô
O Cullinan atinge a velocidade máxima de 250 km/h
Reportagem publicada na edição 63, lançada em novembro de 2018
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