Resumo:
- O Sheik Al-Thani está colocando mais de 300 itens de sua coleção à venda em um leilão altamente esperado na Christie’s, em 19 de junho;
- O que distingue a coleção é sua escala, qualidade dos artigos e a variedade. São quase 400 lotes à venda que variam de US$ 10 mil a US$ 10 milhões;
- Espera-se que o leilão acumule dezenas de milhões de dólares, podendo chegar a nove algarismos, batendo o recorde como a maior venda de joias de todos os tempos.
Shah Jahan, o quinto imperador mongol, vivia todos os aspectos de sua vida com requintes excessivos e extravagantes. No início do século 17, ele governava um reino que se estendia pelo que hoje é a Índia e o Paquistão sentado no Trono do Pavão, um assento incrustado de diamantes, rubis, esmeraldas, safiras e uma pérola de 50 quilates. O imperador foi pai de mais de uma dúzia de filhos e teve 11 esposas.
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Quando sua noiva preferida, Mumtaz Mahal, morreu, em 1631, ele encomendou um mausoléu de mármore branco para ela. Levou 22 anos e mais de 20 mil trabalhadores para construir seu local de descanso final: o mundialmente famoso Taj Mahal.
Nos séculos que se seguiram, os objetos de Shah Jahan e de outros marajás do Império Mogol estavam entre as joias e artefatos mais cobiçados e preciosos do mundo. E nenhum caçador de tesouros acumulou uma coleção mais impressionante do que o Sheikh Hamad bin Abdullah Al-Thani, um príncipe catariano cujas peças vão desde armas mongóis do século 17 até joias Cartier do século 21. Agora, o Sheik Al-Thani está colocando mais de 300 itens à venda em um leilão altamente aguardado na Christie’s em 19 de junho.
“O que distingue este leilão de muitas outras vendas que organizamos com objetos indianos é a escala, a qualidade das obras em oferta e a variedade. Temos quase 400 lotes à venda, e eles variam de US$ 10 mil a US$ 10 milhões”, diz Rahul Kadakia, responsável pela área de joias da casa de leilões. “Tudo é o melhor de seu tipo. Os melhores rubis, os melhores diamantes.”
Entre os lotes mais valorizados do Maharajas and Mughal Magnificence está um punhal de aço do século 17 feito para Shah Jahan – e possuído por Samuel Morse – envolto em um punho de jade enfeitado com um redemoinho de roteiro islâmico e coberto por um busto ricamente detalhado de um querubim, um floreio provavelmente influenciado pelo comércio florescente dos mongóis com a Europa Renascentista. “O punhal é um dos pontos altos do leilão”, diz William Robinson, diretor de arte islâmica da Christie’s. “E também um dos mais discretos.”
Muitos outros artigos são exatamente o oposto. Há, por exemplo, um jogo de xadrez cujas peças são decoradas com esmeraldas e rubis; o Diamond Golconda Pink (de 10,5 quilates), extraído das antigas minas do leste da Índia e o diamante Arcot II, uma pedra de 17,2 quilates dada à rainha da Inglaterra, Charlotte, em 1777, por Nawab de Arcot (governante da região dominada pelo império mongol). Há, ainda, uma série de pingentes deslumbrantes, broches, abotoaduras, colares, pinturas, anéis, pulseiras, brincos, relógios de bolso, espadas, polvorinhos (objeto usado para guardar pólvora, feito de chifre de animais) e, claro, um narguilé bejeweled (com pedras preciosas).
Espera-se que o leilão arrecade dezenas de milhões de dólares, podendo chegar a nove algarismos, de modo a alcançar possivelmente a maior venda de joias de todos os tempos. Kadakia só pode descrever a enorme estimativa projetada para o leilão de uma maneira: “Como o de Elizabeth Taylor”, diz ele.
Ele está se referindo ao evento realizado em dezembro de 2011, quando a família da estrela do cinema vendeu suas joias pelo valor recorde de US$ 115,9 milhões. Uma das peças centrais era uma corrente Cartier de ouro e rubi contendo o Taj Mahal Diamond, um presente de aniversário de 40 anos do quarto (e quinto) marido da atriz, Richard Burton. Vendido por US$ 8,9 milhões, o Taj Mahal Diamond é a joia indiana mais cara já vendida em leilão.
Naturalmente, há muito na coleção Al-Thani para rivalizar com Elizabeth Taylor, incluindo outra criação Cartier: um broche devant-de-corsage rodeado por quatro grandes diamantes – dois deles com mais de 20 quilates – e uma série de outros (ligeiramente) menores. Foi feito para o diretor da De Beers, Solomon “Solly” Barnato Joel, que apareceu na porta da Cartier em 1912 com as melhores pedras de suas minas sul-africanas e pediu ao joalheiro para transformá-las em algo bonito. O broche, exibido no Museu Victoria and Albert, em 2017, e no Museu do Palácio de Pequim, um ano depois, deve custar entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões, a maior estimativa pré-venda no leilão de Al-Thani.
A amplitude da coleção do sheik é ainda mais impressionante quando você considera a rapidez com que ele a acumulou: ele começou a reunir as peças há apenas uma década.
Em outubro de 2009, um curador do London’s Victoria and Albert Museum, Amin Jaffer, convidou Al-Thani para uma exibição montada por ele, “Maharaja: Esplendor das Cortes Reais da Índia”. Al-Thani, primo do emir do Catar, nunca havia estado na Índia, mas ele aceitou o convite de Jaffer e viu-se extasiado pela opulência e pela arte em exposição.
Ouro, rubis, esmeraldas e diamantes rodeavam Al-Thani, mas uma coisa se destacou. “Sem dúvida, a peça que mais me impressionou foi o ornamento safira do turbante Mongol dado ao Almirante Charles Watson por Nawab Mir Jafar”, disse a alteza à Forbes em 2014. Era um item fabuloso, uma lágrima de esmeraldas e rubis disposta em torno de uma safira azul-oceano e outra de clara procedência. (Após a morte do almirante em 1757, sua família a manteve até sua sua venda para a V&A, em 1981.) Al-Thani logo recrutou Jaffer para ajudá-lo a encontrar outras criações singulares com linhagens indiscutíveis.
Para isso, o sheik gastou milhões comprando raridades em todo o mundo, cerca de 6 mil itens. Placas de marfim da antiga Mesopotâmia, porcelana da dinastia Ming, prata italiana, uma máscara maia de jade. “É uma coleção enciclopédica”, diz Jaffer.
Algumas das posses de Al-Thani foram mostradas publicamente, incluindo uma exposição bem recebida no Metropolitan Museum of Art em New York, cinco anos atrás. O mostra foi relativamente pequena, com apenas 63 itens, mas deixou a curadora, Navina Haidar, com uma impressão clara do que Al-Thani havia montado. “Está entre as melhores coleções particulares do mundo”, disse ela em 2014.
A partir do ano que vem, Al-Thani planeja abrigar uma exposição itinerante em um espaço permanente no Hotel de la Marine, em Paris. Por que vender uma parte da coleção antes que ela tenha, finalmente, um casa de verdade? Parte disso é, sem dúvida, uma maneira de conseguir fundos para expandir e diversificar ainda mais suas posses. A outra parte, que não foi dita publicamente, mas se faz clara entre as colheres de ouro e os anéis de rubis, está relacionada a uma outra coisa. Com Paris imersa em uma onda populista, não seria o momento mais oportuno para um nobre estrangeiro estabelecer um novo museu em um espaço histórico francês.
“Eu acho que a diversidade da coleção será uma revelação para muitas pessoas”, diz Jaffer. “Nos últimos anos, emprestamos e publicamos algumas das mais importantes obras de arte históricas. Mas, além das joias indianas, exibimos outras peças apenas na Cidade Proibida em Pequim e no Château de Fontainebleau. O espaço em Paris vai nos permitir mostrar a profundidade e a amplitude da Coleção Al-Thani.”
Mesmo aqueles que nunca poderão fazer uma oferta podem entrar na caverna de tesouros de Aladim em Nova York nesta semana. Antes da venda, a Christie’s está exibindo os itens em sua sede, no Rockefeller Center.
Tudo isso lhe dará um pouco de tempo para encontrar uma lâmpada com um gênio que ajude a financiar uma oferta.