Vinte e sete anos atrás, uma mulher chamada Fern Mallis era diretora do Conselho de Designers de Moda dos EUA. Ela percebeu que a indústria precisava de uma abordagem unificada para que os compradores entendessem o futuro da moda e fosse possível uma apresentação coerente à mídia da moda. A possibilidade de ver vários desfiles de moda em um mesmo local permitiria melhores escolhas aos compradores, além de ser um impulso para Nova York, onde os desfiles de moda dos EUA estavam centralizados. O evento também permitiria uma produção mais eficiente, principalmente no processo de entrada na Ásia, onde eram necessários longos prazos de entrega. Mallis organizou a Fashion Week, coordenando a indústria da moda para mostrar suas coleções em uma semana. Criou um evento anual para a cidade de Nova York e ajudou a indústria a selecionar a moda da próxima temporada com mais eficiência.
Muita coisa mudou desde 1993. Mallis, que levou as fashion weeks para muitos lugares do mundo todo em sua própria empresa de consultoria, diz: “Agora é hora de agir e redefinir tudo”. O coronavírus é o mais recente motivo para questionar se uma semana de desfiles ainda funciona, mas esse é apenas o problema mais recente. Mais do que nunca, há muitos argumentos contra as semanas de moda.
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O calendário
Um grupo de designers de moda independentes criou recentemente uma proposta chamada “Rewiring Fashion”, algo como Reconectando a Moda. Eles explicam que o longo tempo de espera –entre os desfiles de moda e o momento em que seus produtos chegam nas lojas– torna a experiência menos emocionante para os consumidores que se acostumaram cada vez mais à gratificação instantânea. Além disso, os ciclos da moda estão fora de sincronia com as estações do mundo real. Por fim, há uma quantidade enorme de tempo e dinheiro gastos em viagens para as semanas da moda nos grandes centros do mundo que podem ser melhor utilizados de maneiras diferentes.
Os eventos
O Rewiring Fashion diz que as fashion weeks são muito rígidas. Ter desfiles como o único formato não é apenas entediante, é caro. Como os modelos de alta moda são muito caros, um show de nível médio pode custar US$ 500 mil ou mais.
Eles ainda complementam que o problema não é apenas o custo: o formato do desfile é muito restrito para pessoas criativas, como designers de moda. Eles querem ter eventos de forma mais livre, usando a estrutura de eventos para ajudar a definir marcas e criar empolgação para sua moda. Também querem aumentar a participação do consumidor, sem dúvida incluir pessoas que não são da indústria, especialmente micro influenciadores (menos de 100 mil seguidores) que são cada vez mais importantes porque têm mais autenticidade no mercado no momento.
E o que faremos?
A grande questão das semanas de moda no pós-pandemia é que ninguém realmente sabe o que vai acontecer. Uma maior aceitação de eventos em chamadas de vídeo como resultado do coronavírus abre a possibilidade de eventos físicos serem adaptados para participações remotas. Porém, também não pode ser muito parecido com assistir TV, que não é inovador o suficiente para atrair espectadores. Londres recentemente tentou um evento exclusivamente digital para moda masculina, mas não recebeu ótimas críticas ou participação; é preciso mais inovação do que apenas ver o evento na tela.
Mudanças na tecnologia de produção que permitem ações mais rápidas na fabricação e transporte aproximam o setor do estado de imediatismo do mundo, que os designers de moda aspiram há muito tempo. Isso também abriria oportunidades para os varejistas participarem de alguma forma e gerarem vendas ao consumidor diretamente de eventos de moda. Esse é exatamente o tipo de interesse e entusiasmo que as lojas precisam agora para atrair clientes. Mudar a relação das semanas de moda com o tempo pode causar entregas surpreendentes, em vez de todos os novos designs aparecerem nas lojas ao mesmo tempo. Isso dá aos consumidores mais razões para visitar estabelecimentos, algo excelente para os varejistas.
Esta é uma conversa que está apenas começando. Mas está acontecendo, e as mudanças virão.
Quais os sinais da mudança
Já estamos vendo grandes marcas, como Yves Saint Laurent e Michael Kors, expressarem sua insatisfação com as limitações das semanas de moda e encerrarem suas participações. Vai levar muito tempo para novos formatos serem criados. Mas os rumores estão ficando mais altos e a maneira pela qual a nova moda aparece nas lojas físicas e online vai mudar. Como tantas transformações, isso acontece lentamente a princípio e as forças do establishment resistem. Mas, se tudo der certo, as pessoas se juntarão e todos perguntarão: “por que não fizeram isso antes?”
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