Sua foto para a capa da “National Geographic” “Garota Afegã” é uma das imagens mais reconhecidas do século 20, e o fotógrafo Steve McCurry vem capturando fotos impressionantes ao redor do mundo há mais de 30 anos.
Quando The Macallan quis comemorar o lançamento do Macallan Double Cask de 15 e 18 anos –feito a partir de um blend de barris de carvalho americano e europeus temperados com xerez–, chamaram McCurry, que então viajou pelas florestas da Espanha e dos EUA para capturar a habilidade do processo de fabricação do barril.
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A Forbes falou com McCurry por telefone, para discutir o que ele aprendeu sobre a fabricação de uísque e como a arte da fabricação de barris se compara à fotografia.
Veja a entrevista a seguir:
Forbes: Trabalhando com The Macallan, qual parte da fabricação de uísque você mais gostou?
Steve McCurry: Fazer os barris foi a atividade mais fascinante e visualmente interessante. Na Espanha, fotografei quatro ou cinco locais diferentes de produção de barris, e depois alguns em Ohio e Pensilvânia. Alguns dos lugares são altamente automatizados, mas houve um, na Espanha, onde o artesanato e os métodos pareciam uma volta ao tempo. Foi muito dramático, as aduelas sobre as fogueiras, os rostos das pessoas que lá trabalhavam. Foi incrível observar todo o processo, desde os carvalhos, até a forma como eles moldam a madeira nos componentes e, em seguida, como montam o barril.
F: Você vê alguma semelhança entre fotografia e fabricação de uísque?
SM: Para fazer uísques, é necessário ter uma certa experiência, mas também olfato e paladar naturais para reunir tudo em um equilíbrio certo. Na fotografia, você também está tentando reunir uma série de componentes, a composição da cena, a iluminação e, para encontrar o equilíbrio certo, há também um tipo de talento que ou você tem ou não.
Além disso, na confecção do barril, no método tradicional, você o coloca no fogo, e tem que ter a experiência e a sensação de acertar o tempo ideal para que fique bom. Como na fotografia, você consegue aquela única foto e, se o momento não estiver certo, tudo se torna inútil.
F: Você tem um The Macallan favorito?
SM: Quando eles estavam construindo a nova destilaria, eu a fotografei desde quando era um buraco no chão até o momento em que foi concluída. Algumas vezes, fiquei na propriedade, então, tivemos jantares maravilhosos e doses de The Macallan. Uma em especial tinha 30 anos, o que foi incrível. Trabalhar o dia todo e depois curtir, isso foi ótimo.
F: Algumas pessoas podem não conhecê-lo pelo nome, mas todos conhecem a sua famosa fotografia. Você se incomoda de ser conhecido principalmente por apenas uma foto, quando tem uma obra tão distinta e variada?
SM: Você não tem controle sobre isso, nem consegue pensar nesse assunto. Você vê o copo meio cheio, e o fato de seu trabalho ser reconhecido é uma coisa boa. Eu fiz uma série de livros, meu trabalho está por aí e é apreciado, apenas talvez não tão enraizado como aquela foto. A quantidade de fotos como essa, que existe na fotografia, é pequena. Dorothy Lange foi uma profissional brilhante, mas a maioria das pessoas poderia citar outra foto dela além de “Migrant Mother”? Isso não diminui o corpo de seu trabalho. É verdade, essa será a primeira linha do meu obituário –“ele fez aquela foto, viajou muito e deixou um legado”– e então eles terão de pensar em outra coisa para dizer. Sempre tive paixão por fotografia e viagens, e isso é recompensa o suficiente se você ama o que faz. Eu tive uma boa vida.
F: Muitas publicações pararam de usar fotógrafos e simplesmente tiram uma foto com seus iPhones. Ainda é possível alguém construir uma carreira como a sua?
SM: Eu acho que você recebe pelo que paga. Se você deseja que alguém faça um ensaio visual sobre algum assunto importante –como Aids ou coronavírus– precisa de alguém que saiba contar histórias de maneira visual. Eu não acho que você pode simplesmente enviar alguém sem experiência e esperar algo esclarecedor. É preciso alguém com experiência, ética e habilidades. Se não podemos ver as coisas, então, não podemos aprender sobre elas. Então, como saberemos quais são os problemas? Através do governo? Sabemos que não é a melhor maneira. Precisamos de pessoas objetivas e profissionais contando histórias.
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F: A Kodak deu a você a honra de usar o último rolo de Kodachrome. Você sente falta de alguma coisa no filme que não consegue suprir com fotografias digitais?
SM: Havia uma boa qualidade no Kodachrome. Para mim, porém, o que adoro na fotografia é a história e o componente emocional da imagem. Não é a impressão, a nitidez ou a cor –o que me chama a atenção é o conteúdo. Além da beleza, não há nada sobre filmagens que eu sinta saudade. Com filmes, eu estaria filmando com pouca luz e ficaria animado por ter a melhor foto da minha vida. Então, eu a pegaria de volta e veria que estava fora de foco. Tentar entrar na Índia com 300 rolos e eles pensarem que você está contrabandeando, ou tentar sair de algum lugar e pedir que eles os inspecionem manualmente e não usem a máquina de raio-X foi um pesadelo completo.
No entanto, provavelmente tirei 800 mil fotos com Kodachrome e foi de partir o coração perceber que eles iriam descontinuá-lo. Até hoje, guardo alguns rolos na geladeira, só para homenagear a memória. Não consigo suportar a ideia de que nunca mais vai voltar.
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