A relojoaria suíça Audemars Piguet se destaca por ser um dos poucos players independentes da indústria, que permanece no controle das famílias fundadoras. A grife, fundada em 1875 por Jules Louis Audemars e Edward August Piguet no vilarejo Le Brassus, no Vallée de Joux (cerca de uma hora de carro de Genebra) mantém-se fiel às raízes, o que inclui nunca ter mudado sua sede.
Em junho – a previsão inicial era abril – foi inaugurado o Musée Atelier Audemars Piguet, projeto de autoria do escritório dinamarquês Bjarke Ingels Group, o BIG. A obra consistiu na ampliação e reforma da sede da empresa. O resultado é uma estrutura envidraçada em formato espiral, que brota do chão e que teve como inspiração a “circularidade do tempo”. O local está aberto ao público sob agendamento (pelo site do museu). O CEO da grife, François-Henry Bennahmias, falou sobre o belo museu e sobre que virá no pós-pandemia para a indústria de relógios de luxo.
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Forbes: Qual é o caminho para a indústria de relógios?
François-Henry Bennahmias: Eu não chamaria de novo caminho. O luxo tem uma forma própria, e é fundamental lidar com ela. Óbvio que o cliente é a chave, e devemos propiciar a melhor experiência para ele. Se
você se distanciar da exclusividade, do processo artesanal e da produção de pequenos volumes, não é mais luxo. É aí que a atenção deve estar. Nos últimos 20 anos, a palavra luxo foi muito usada e abusada. É hora de refletir o que o verdadeiro luxo representa e colocar esforços por trás desse foco.
Mas como manter esse foco em um mundo em completa mudança?
Mantenha-se fiel ao que você é. Isso não significa que é necessário fazer a mesma coisa para sempre, porque ajustes e adaptações são fundamentais. Já existiram outras crises, em 2001 e 2008, e o mundo atravessou todas elas de alguma forma.
Na crise, ser parte de um grupo seria um facilitador?
Não creio. O fato de sermos independentes nos ajuda a tomar decisões rápidas. Isto é que é necessário nos dias de hoje: velocidade. É fundamental adaptar-se muito mais rápido. Nossa primeira decisão, por exemplo, foi manter todos os funcionários e pagar 100% dos salários. Quando isso é a primeira decisão estratégica, fica nítido que se está trabalhando na empresa certa. Sim, nós fomos afetados, e a recuperação levará um tempo. Mas sinto que retornaremos mais fortes.
As vendas foram afetadas?
Nos últimos cinco anos, produzimos 40 mil relógios por ano. Para 2020 estavam previstos 45 mil. Produziremos 35 mil – esse era o volume em 2013. Nas vendas voltaremos aos números de 2017. Os resultados de 2019 não vão retornar antes de 2022 ou 2023.
O que pode nos dizer sobre o museu?
É um lugar lindo e foi construído como um compromisso. É de extrema importância que uma marca como a Audemars Piguet possa contar que começamos um negócio em 1875 e que pudemos tocá-lo desde então. Sempre olhamos para o amanhã, e isso significa que não podemos estagnar nos louros. É como uma ponte entre o ontem e o amanhã. Por isso colocamos o novo museu anexado ao antigo prédio, o que possibilita que essa mensagem seja passada de uma vez só, automaticamente.
Reportagem publicada na edição 79, lançada em agosto de 2020
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