Quando uma escultura de metal misteriosa apareceu em uma área remota de Utah no final de novembro, as pessoas começaram a especular há quanto tempo o objeto esteve lá sem ser notado. Investigações do Google Earth mostraram que a peça já estava lá há, pelo menos, quatro anos, mas esculturas de metal podem durar até uma década. Essa ideia é totalmente contrária ao trabalho da artista Andrea Ling. Ela usa biomateriais para criar peças que são projetadas para se decomporem ao longo do tempo e se tornaram parte do mundo ao redor delas.
Este ano, Andrea foi uma das vencedoras da categoria “Science In the Arts” na conferência Falling Walls. O evento anual realizado na Alemanha coincide com o aniversário da queda do Muro de Berlim e tem a missão de quebrar as barreiras entre a ciência e a sociedade.
O projeto “Design by Decay, Decay by Design”, um experimento com biomateriais como quitosana, celulose e pectina, venceu o prêmio “S+T+ARTS” da European Commission. A artista começou a trabalhar com esses materiais no grupo MIT Media Lab’s Mediated Matter e continuou durante sua passagem pela empresa de biotecnologia Gingko Bioworks. Lá, ela usou fungos, bactérias e enzimas para transformar sistematicamente segmentos de diferentes biomateriais.
Uma das técnicas exploradas por Andrea foi o uso de uma mistura de enzimas para pintar padrões em um material feito à base de pectina e quitosana, ao quebrar seletivamente algumas partes desse material. Em outro experimento, ela tratou blocos de madeira com moldes dos fungos Aspergillus niger e Trichoderma viride.
Por conta do processo de decomposição usado, as peças de Andrea não são estruturas permanentes. Mas isso nem é o mais interessante. “O projeto é mais sobre processo de design do que qualquer outra coisa”, afirma a artista. Ela explica que os designers normalmente procuram jeitos de padronizar os processos em uma produção comercial de peças feitas com biomateriais ou biologia sintética. “Mas qual o custo da padronização? Isso nos impede de fazer coisas que sejam prejudiciais ao planeta?”, pergunta. Em vez de focar no produto, Andrea está interessada nos processos circulares de decomposição e regeneração.
A inspiração para deixar organismos vivos dominarem o trabalho artístico veio de pinturas rupestres da Austrália Ocidental. Andrea conta o que mais a deixou fascinada: “Os pigmentos originais já não existem mais e essa comunidade de fungos e cianobactérias dominaram a pintura”. Esses organismos seguiram o mesmo padrão de pinceladas da pintura original e ela durou muito mais do que com os pigmentos tradicionais. “Estou interessada em decomposição, porque ela é parceira da renovação. E essa pintura mostra longevidade por se renovar constantemente”, diz.
Embora o trabalho que ela tenha criado em Gingko seja relativamente pequeno, o que é perfeito para explorar novos materiais e processos, a ambição de Andrea é usar essas técnicas em trabalhos maiores. Ela tem experiência com arquitetura e já criou grandes instalações externas para o “Burning Man” na Nuit Blanche em Nevada e Toronto. O próximo passo é desenvolver um grande trabalho externo e biodegradável que possa ser parte do ambiente ao mesmo tempo em que se decompõe gradualmente.
Ao contrário da escultura de metal em Utah, dificilmente as peças de Andrea serão encontradas no ambiente anos após a instalação. Assim como a pintura rupestre australiana, essa arte será degradada e incorporada ao mundo ao seu redor.
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