A Jaguar Land Rover (JLR) impressionou os investidores com a amplitude e a qualidade de sua visão de longo prazo na recente declaração “Reimagining the Future” (Reimaginando o futuro, em tradução livre). Mas ela ainda contém muitos planos questionáveis centrados no futuro da problemática Jaguar. Felizmente, a empresa deve acertar os detalhes hoje (26) em uma reunião de investidores.
Para a Jaguar, este pode ser o último grande lance da empresa.
VEJA TAMBÉM: Mercado de veículos elétricos começa a dar saltos de vendas no Brasil
JLR, o braço de veículos de luxo britânico da Tata Motors da Índia, anunciou que a Jaguar mudaria para ser totalmente elétrica em 2025 e não renovaria os sedãs XE e XF. O primeiro Land Rover elétrico a bateria aparecerá em 2024. 60% dos Land Rovers serão totalmente elétricos em 2030 e 100% em 2035. A grande limusine Jaguar XJ, que seria elétrica, foi colocada em segundo plano e pode reaparecer como um modelo de célula de combustível. A Land Rover também descartaria o diesel em breve.
O plano foi descrito como “ambicioso” ou “imensamente otimista”, no sentido de “como eles podem fazer isso”.
O futuro do Jaguar está incerto há algum tempo, à medida que seus sedãs antigos afundaram no mundo pós-SUV. A nova linha de SUVs F-Pace e E-Pace, seguidas pelo J-Pace, canibalizou as vendas da Land Rover, a especialista em SUV. O novo CEO, Thierry Bollore, disse que no futuro a Land Rover será a fabricante de SUVs e a Jaguar será diferente dos SUVs. A pergunta que fica é: como a Jaguar será posicionada no mercado?
Os cínicos podem dizer que isso significa que a Jaguar será capaz de se concentrar em crossovers, mas esse foi um termo inventado para fingir que os SUVs, odiados pelos defensores do meio ambiente não eram SUVs, quando na verdade é exatamente isso o que são.
A Jaguar, para evitar roubar vendas da Land Rover, está sendo incentivada a direcionar seu mercado para concorrer com a Bentley ou ao território da Rolls Royce, que significaria vendas menores, mas lucros maiores. Não está claro exatamente qual a gama de veículos contemplada. Alguns dizem que a Jaguar deveria desistir de competir com carros como BMW, Audi e Mercedes. Outros, que este é o único caminho para a salvação. A JLR deveria estar preparando a Jaguar para uma venda, talvez para um pretendente chinês, com o sucesso da combinação Volvo-Geely em mente. Ou, alternativamente, o único caminho para o sucesso da JLR é buscar abrigo em uma aliança estreita com um fabricante maior, como a BMW, que contribuiu com seu único produto elétrico até agora, o I-Pace SUV.
“O plano é extremamente otimista”, disse Peter Wells, professor de negócios e sustentabilidade do Center for Automotive Industry Research da Cardiff Business School. “Eles querem fazer tudo de uma vez já que o mercado não está tão ruim há anos e sua própria posição é muito frágil”, disse Well.
Em seu terceiro trimestre encerrado em 31 de dezembro, apoiado pelas vendas do novo Defender e melhores vendas na China, a JLR relatou um lucro de £ 439 milhões (US$ 617 milhões), £ 121 milhões a mais do que no mesmo período anterior e £ 374 milhões a mais do que nos três meses anteriores. No ano fiscal anterior, a JLR perdeu £ 422 milhões sobre vendas de £ 23 bilhões (US$ 32 bilhões). A Fitch Ratings rebaixou a JLR duas vezes no ano passado, após o balanço patrimonial ter se deteriorado significativamente durante a pandemia. As finanças da empresa já estavam fracas antes da Covid-19, principalmente pelos altos custos relativos às vendas, afirmou a Fitch Ratings.
LEIA TAMBÉM: Mercedes-Benz confirma investimento de R$ 2,4 bi no Brasil até 2022
Wells aprova a decisão da JLR de tornar o Jaguar totalmente elétrico.
“Parece que para a Jaguar é agora ou nunca. Esta é uma tentativa bastante radical de reconstruir o negócio. Se não funcionar, não há para onde ir. Minha principal preocupação é se eles podem fazer todas as coisas que desejam dentro do prazo. Eu tenho minhas dúvidas. O I-Pace elétrico não tem sido um sucesso estrondoso, não há nada de muito empolgante em comparação aos concorrentes e é muito caro. Isso aponta para um de seus problemas sobre como manter o diferencial neste futuro totalmente elétrico ”, disse Wells.
Wells disse que o plano de usar uma plataforma de engenharia para o Jaguar elétrico e outra para a Land Rover faz sentido. “A Jaguar pode fazer veículos muito distintos, mas isso custará vários bilhões de libras e se eles estivessem ganhando muito dinheiro, isso poderia funcionar, mas o mundo mudou e é difícil ver como eles podem fazer isso”, completa.
O professor observa que a meta de longo prazo da JLR de 1 milhão de vendas por ano foi descartada. 500 mil seria uma meta sensata. Ele disse que a experiência da Tata Motors em processamento de dados e tecnologia de comunicação pode ser uma vantagem crucial para a empresa no novo mundo de mudança na propriedade de veículos e geração de dados.
O professor Ferdinand Dudenhoeffer, diretor do Centro de Pesquisa Automotiva (CAR) da Alemanha, disse que o maior problema da JLR é a Jaguar, que é muito pequena e tem volume mais parecido com a Rolls Royce e não com seus principais concorrentes Mercedes, BMW, Porsche ou Tesla. A Jaguar da JLR precisa de uma nova abordagem concentrada em sedãs, mas buscando uma posição de mercado diferente de empresas como a Mercedes. A JLR, que chegou a 426 mil vendas no ano passado, tem 15 modelos em comparação à Tesla que atingiu 500 mil vendas, mas menos opções.
Dudenhoeffer avalia que a JLR precisa de um parceiro forte, como a BMW, por exemplo, ou da capacidade de usar tecnologia elétrica desenvolvida por empresas como a VW ou a GM. A Ford tem um acordo com a VW que lhe permite construir carros elétricos para o mercado europeu usando a tecnologia elétrica básica da marca alemã.
A Ford Motor comprou a Jaguar em 1999 e a Land Rover em 2000, antes de vendê-los para a Tata em 2008.
Felipe Munoz, analista automotivo global da JATO Dynamics, quer que a Jaguar suba radicalmente no mercado. “Acho que eles deveriam se concentrar em SUVs, e a Land Rover deveria ser persuadida a deixar algum espaço para a Jaguar para que ela pudesse cumprir o papel de luxo elétrico, deixando a especialidade off-road para a Land Rover, com exceção do Range Rover. Caso contrário, não consigo ver uma posição para a Jaguar. Não adianta lutar contra os alemães no segmento de sedãs, que não está mais crescendo. É interessante manter o carro esporte tipo F, que funcionará como um carro aspiracional que todo mundo quer, mas ninguém compra”, afirma Munoz.
VEJA MAIS: Disruptivos e sustentáveis, carros elétricos se consagram entre montadoras e consumidores
Onde a JLR estará em 5 anos?
“Se a Tata quiser que a Land Rover aumente o volume, ela deve expandir o mercado com SUVs menores para vender ao grande público, mas acho que mais cedo ou mais tarde a marca se tornará um participante de nicho e isso não é uma coisa ruim. Não se trata de volume, mas de lucratividade. Se eles conseguirem obter uma posição sólida em um mercado pequeno, será melhor do que vender milhões”, disse Munoz.
O professor David Bailey, da Birmingham Business School, gosta do plano geral, mas quer detalhes. “No geral, este é um movimento de eletrificação muito bem-vindo da JLR, mas não se pode esquecer que a empresa está tentando recuperar o atraso. O objetivo dela agora está claro, mas ainda não se sabe como a empresa os alcançará. Na verdade, grandes questões permanecem. Que modelos vão produzir? Quantos carros pretendem fabricar? Quanta mão de obra será necessária? E a empresa pode mudar para um futuro elétrico por conta própria ou precisará de um parceiro?”
“O que está claro é que a empresa tem como objetivo fabricar menos carros. Qualidade em vez de volume e com menos gente, redimensionando a operação. Isso significa perder empregos, mas não se sabe quantos. Enquanto isso, a empresa abandonou sua meta anterior de produzir um milhão de carros por ano”, analisa Bailey.
Outras questões vêm do banco de investimento UBS, que se pergunta como todas essas ambições serão alcançadas por uma empresa com um desempenho financeiro fraco, uma crescente intensidade competitiva e volumes muito menores do que a maioria das rivais.
“Embora a gestão tenha destacado metas ambiciosas de lucratividade, com volumes limitados e sem compartilhamento de plataforma, não está claro para nós como a JLR conseguirá tudo isso”, declara um relatório do UBS.
Wells da Cardiff Business School afirma que “é um plano fantasticamente ambicioso, mas será muito difícil realizá-lo nas atuais circunstâncias. Estou ansioso para provar que estou errado.”
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.