Do quarto andar ao térreo do Centro Cultural Banco do Brasil, no centro de São Paulo, próximo à praça da Sé, você tem uma viagem marcada pela obra de um artista italiano que nunca gostou de viajar: Giorgio Morandi (1890-1964). Pintor de naturezas-mortas, com foco em um conjunto de garrafas, potes e vasinhos sempre concentrados em um espaço reduzido, Morandi ia longe nas possibilidades das cores e das sutilezas que marcam o andar da luz ao longo do dia.
Com curadoria de Alberto Salvadori e Gianfranco Maraniello, a mostra que começou esta semana e vai até 22 de novembro traz 34 trabalhos vindos do Museu Morandi, em Bolonha, berço do artista que recebeu o Grande Prêmio de pintura na 4ª Bienal de São Paulo, em 1957 (Morandi também está presente na atual Bienal, a 34ª, com seis telas).
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Ao todo, entre pinturas, fotos, colagem e instalação, são 57 obras, já que a exposição O Legado de Morandi joga luz ainda em 23 trabalhos de artistas que beberam na fonte do homenageado, como o alemão Joser Albers (1888-1976), a inglesa Rachel Whiteread, de 58 anos, o italiano Franco Vimercati (1940-2001) e o australiano Lawrence Carroll (1954-2019).
Natureza morta, flor e paisagem
“O percurso expositivo apresenta os temas examinados por Morandi desde os primórdios até a maturidade: naturezas mortas, flores e paisagens, os temas privilegiados da sua contínua pesquisa de novas modalidades representativas e objetos de uma indagação extremamente atual sobre a linguagem pictórica e gráfica e sobre as infinitas relações possíveis entre volumes, espaço, luz e cor”, disse Gianfranco Maraniello.
Aos 20 anos, nos idos de 1910, em suas primeiras pinturas, Morandi dedica atenção aos impressionistas franceses (Cézanne principalmente). É a partir da década de 1920 que coloca sua produção sobre um tripé principal de temas: naturezas mortas, paisagens e flores – a figura humana nunca está presente.
Durante a Segunda Guerra, em 1943, troca Bolonha por Grizzana, onde fica até o ano seguinte dando cores a diversas paisagens. Em 1948, ganha o Primeiro Prêmio de Pintura na 24ª Bienal de Veneza. Cinco anos mais tarde, participa da 2ª Bienal de São Paulo com 25 águas-fortes e recebe o Primeiro Prêmio de gravura. Em 1957, de novo na Bienal paulistana, é a vez de levar o Grande Prêmio de pintura.
‘Pintura quase sem ar’
“Penso que Morandi oferece um universo suspenso no tempo. Sua composição não permite que se saiba qualquer coisa sobre onde ou quando foi feita”, comenta a crítica de arte Sylvia Werneck para a Forbes. “É uma pintura quase sem ar, econômica nas cores e com pouca variação, quase um exercício introspectivo, meditativo.”
Sylvia contextualizou a chegada da exposição às circunstâncias que estamos vivendo. “Ver sua obra neste momento pandêmico pode causar certa identificação, já que muitos de nós vivenciamos esta ‘suspensão’ da vida. Melhor será se puder nos inspirar a refletir sobre o que estamos fazendo e como estamos vivendo.”
Após passar pelas salas dos andares do CCBB e pela exibição de um vídeo no qual se aprende que o artista andava com duas castanhas no bolso para não ficar resfriado, e que gostava de fumar na janela de casa, volta-se ao térreo. Ali, em meio a três grandes painéis, uma reprodução fotográfica de Luigi Ghirri recria o ateliê de Morandi e abraça o visitante. Tudo estático e quieto. Parece que o artista vai retornar a qualquer momento, no fim de tarde frio e ventoso do início da primavera paulistana.
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