Anna Carolina Bassi, empreendedora, criadora da grife Carol Bassi, é a convidada do sexto episódio do Forbes GX Series, uma série de entrevistas comandada por Flavia Camanho Camparini, especialista em governança familiar e estratégia de desenvolvimento humano, fundadora do Flux Institute e professora convidada dos programas do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), FBN (Family Business Network) e FIESC (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina) e apoio da PwC.
Filha dos fundadores da rede de moda feminina Guaraná Brasil, Carol Bassi cresceu vendo seus pais se dedicarem integralmente ao negócio de moda, o que a motivou a abrir o próprio negócio. Na entrevista, a empreendedora conta os bastidores do processo pelo qual passou e a inspirou a criar o próprio negócio e descreve a importância de reconhecer os talentos de um time atuando nos diferentes setores dentro de uma loja. Leia, a seguir, na íntegra:
Flavia Camanho: Quem é você e o que você faz no mundo?
Anna Carolina: Bassi: Sou Anna Carolina, mulher brasileira, empreendedora aqui no nosso país. Eu tenho a Carol Bassi, mas comecei no mundo da moda um pouco antes de fundar a grife.
FC: Carol, como foi começar a sua vida no meio de uma família empresária?
ACB: Eu comecei sem perceber que estava começando. Desde pequenininha, enxergava a minha mãe enquanto eu fazia a lição de casa no estoque das lojas que ela tinha, no chão da fábrica, no meio de rolos de tecidos. Então, a minha vida começou, de fato, no mundo da moda sem eu ter que pensar ainda no momento em que eu fosse trabalhar no futuro.
E eu via minha mãe numa luta diária, mas o tempo todo empreendendo, fazendo acontecer. Tive esse exemplo diariamente na minha casa com meu pai também. Assim como eu tenho com o meu marido, que é meu sócio, a minha mãe tinha o meu pai como sócio. E eu vi esse modelo crescer na Guaraná Brasil desde que aprendi a falar, escrever e desenhar. Então foi tudo muito orgânico. O primeiro momento, a primeira lembrança que eu tenho, é na Guaraná Brasil. No meio de vários rolos de tecido, sentada ali e a minha mãe estava enfestando ali, junto com a modelista, com o cortador do tecido. E eu parei, olhei e perguntei para ela: Mãe, o que você está fazendo? E ela começou a explicar de uma maneira muito didática porque a minha mãe é professora. Ela me explicava como aquele pedaço de pano gigante, aos poucos, se transformava em uma peça de roupa. Naquele momento, esse processo me encantou e eu comecei a prestar mais atenção nesse trabalho.
Então foi uma coisa muito orgânica, muito natural na minha vida. Eu nunca parei para pensar: quero trabalhar com moda, ou eu quero trabalhar com uma marca. As coisas foram acontecendo.
FC: Carol, como você encontrou o seu lugar no mundo?
ACB: Eu estava em um momento muito triste da minha vida. Tinha me separado, estava criando os meus dois filhos e trabalhando na empresa dos meus pais com amor e carinho. Mas eu não me sentia completa, tinha, todos os dias, um vazio. Era como se eu estivesse acordando e dormindo sem muito propósito. E eu sempre fui uma pessoa que busquei muita alegria e prazer no meu trabalho. É muito difícil você virar a página e querer mudar tudo de uma hora para outra, principalmente quando tem – e vem de – uma empresa familiar, onde tudo está naturalmente ou aparentemente muito bom. A minha família sempre foi muito unida. Minha mãe é italiana, nascida no sul da Itália, em Polignano a Mare, onde todo mundo se mete na vida de todo mundo, mas de uma maneira muito leve, muito natural. Mas eu sentia um vazio, um vácuo dentro de mim.
Era como se no meu interior eu tivesse um grito prestes a explodir a qualquer momento. Eu acho que na vida, muitas vezes, a gente precisa de alguém que nos coloque em uma situação de risco, no sentido de “é o teu momento”. Vai e arrisca. E aí, nós arriscamos. Resolvi montar a Carol Bassi, sentei com a minha família, pra falar tudo isso. E não é fácil. Não é como se eu, de repente, descobrisse que queria ser arquiteta ou fotógrafa e iria navegar em outro oceano. Era o mesmo oceano. O mesmo trabalho, mas eu queria ter a minha marca. Eu sentia essa necessidade. O Caio (Campos, marido de Carol) chegou um dia para mim e falou: “Por que não? Uma marca com o teu nome, uma marca com o teu DNA, com o teu espírito,com a tua alma, com a tua luz, com aquilo que você sabe fazer e com aquilo que você pode dividir com o mundo”. E aí nós montamos a Carol Bassi no fundo de uma das lojas dos meus pais, na Alameda Lorena. Eu tinha quatro araras, uma mesa no meio e muita vontade de trabalhar. Uma coleção de 40, 50 itens. E as coisas foram acontecendo de uma maneira tão orgânica ali, tão natural.
As pessoas não sabiam o meu nome. Atravessavam, pois não tinha vitrine. Eu não tinha um nome escrito na porta. Elas atravessavam a loja dos meus pais e procuravam: cadê aquela moça que faz uns casaquinhos, cadê aquela moça que faz um jeans. Era muito boca a boca. As coisas foram acontecendo e de repente eu me olhei e me vi em uma única loja com um faturamento muito maior que uma rede inteira dos meus pais; os meus pais transbordando de orgulho por essa conquista minha. Nunca vou esquecer o domingo em família que meu pai virou para mim e disse: “olha, está na hora de eu te entregar a chave da loja, tirar o meu time de campo e passar o bastão para você, porque de fato, você vai começar o seu próprio legado, com a Carol Bassi”. Eu fui fazer isso com 40 anos. Acho que não existe hora para você virar a direção quando você não está feliz. Com 40 anos eu mudei a direção e comecei de fato a viver uma vida nova, muito mais feliz profissionalmente, com uma segurança que foi para todos os lados. A segurança profissional transborda para o teu lado pessoal, pro teu lado maternal. Hoje eu enxergo os meus se inspirando muito na minha trajetória. Ainda que eles façam coisas totalmente diferentes de mim. Nunca é tarde para mudar quando você, de verdade, sente essa necessidade.
FC: Carol, com essa história, qual seria o conselho que você daria para membros de famílias empresárias?
ACB: É muito importante a gente ter a consciência de que não vai fazer tudo bem feito. Ninguém é bom em tudo. Eu acho que ter como aliado pessoas competentes em coisas que você não é tão bom é algo muito inteligente, e é tão sublime porque é assim: tem tantas coisas dentro da Carol Bassi que eu não sei fazer! Valorizo quem faz, mas eu não sei fazer, mas eu consigo colocar pessoas que possam desempenhar esse papel de uma maneira muito melhor do que eu. Então, é trabalhar mesmo olhando no todo. Valorizar cada pessoa, cada membro de sua equipe. Seja alguém da sua família, quando se trata de uma empresa familiar, ou de um parceiro de trabalho. Olhar de forma global ao entender o teu processo ali de maneira uniforme, de forma macro. Não ficar naquele teu mundinho fechado achando que o seu problema é maior do que o outro; que o teu sucesso é merecido porque você faz mais do que o outro. É do humano competir, olhar muito mais para si, mas quando a gente consegue abrir a cabeça, olhar o outro e trazer isso como benefício, a gente sai ganhando, a empresa sai ganhando e no final do dia é o que conta.
FC: Carol, qual é a marca que você quer deixar no mundo?
ACB: Eu sinto muita vontade de deixar uma onda de amor, uma onda realmente de luz. Eu falo que quando você passa amor, você passa luz, você deixa esses sentimentos na cabeça das pessoas, no ambiente que você vai. E esse é um trabalho, e essa é uma busca que não é difícil. O primeiro passo é você querer. Você tirar a tua capa, às vezes, do medo, às vezes a capa do julgamento. O ser humano tem muito medo de ser julgado, né? E a gente prejulga as pessoas o tempo todo, de ser aceito. Então, ao longo da minha vida eu venho trabalhando a minha autoestima e a minha segurança de ser quem eu sou e passar para as pessoas coisas boas e luz. Então, eu busco a luz no outro. E eu procuro deixar a luz para o outro.