Nesses seis anos com a Galeria Nara Roesler em Nova York, evoluímos muito do nosso primeiro escritório na rua 28 para o segundo, em uma galeria-boutique no Upper East Side na esquina da rua 69 com a avenida Madison, até chegarmos ao terceiro endereço, o atual, cinco vezes maior, no coração do Chelsea, na mesma rua que concentra galerias icônicas como Gagosian, Barbara Gladstone e Paula Cooper. Nesse meio tempo, nossa operação em Nova York organizou vinte e nove exposições, inseriu mais de 600 obras em coleções internacionais, fomos mencionados no New York Times, Artforum e na Frieze Magazine, e desde 2021 fazemos parte da prestigiosa ADAA, a associação de galeristas dos EUA. Entramos de cabeça no projeto de mudança para o endereço atual e, enquanto a cidade estava fechada, passamos 2020 inteiro construindo nosso novo espaço, inaugurado em janeiro desse ano. Este mês celebramos a entrada de mais uma obra de nossos artistas em um grande museu americano. O Guggenheim agora tem um Carlito Carvalhosa na coleção.
Ter uma presença em Nova York sempre foi um dos nossos objetivos. Durante muito tempo o sonho pareceu impossível devido ao alto custo de vida da cidade, incompatível com nossa realidade. Nova York é a capital do mundo das artes. Tem as principais galerias do mundo, os maiores leilões, os museus mais influentes. O que acontece por ali repercute no mundo todo. Sempre acreditamos que nossos artistas mereciam reconhecimento internacional e fincar uma bandeira na Big Apple seria vital nesse processo.
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Em 2012, quando o querido Thomas Cohn (falecido em 2018) fechou sua galeria, nossa vizinha em São Paulo, ele nos ofereceu o espaço. Foi nossa primeira expansão e aconteceu da melhor maneira possível, juntamos as duas casas adjacentes mais que dobrando a área expositiva original. No entanto, antes de Nova York ainda precisávamos passar por mais um teste: ter uma galeria em outra cidade para enfrentar na prática o desafio diário de administrar espaços distintos. Assim em 2014 abrimos a galeria do Rio, somente a uma ponte aérea de distância e onde vivem e trabalham boa parte dos nossos artistas. Logo percebemos que seria possível porque a galeria é formada por um time super talentoso e comprometido.
Durante uma viagem a Nova York no ano seguinte, meu filho Daniel e eu nos reunimos com a Alex Garcia, ex-diretora da galeria de São Paulo que havia se mudado para lá com a família e estava trabalhando em uma galeria. Foi naquela ocasião que minha impulsividade incontrolável convidou a Alex para voltar ao nosso time e tocar o projeto de abrir um escritório em Manhattan. Assim começou nossa aventura multinacional, entre um passo calculado e um momento impulsivo.
Do convite à realização, foi tudo muito rápido. Escolhemos o Flower District para começar com um escritório pequeno de onde um time enxuto cuidaria do relacionamento com os nossos clientes na cidade, resultado de anos de participação em feiras de arte mundo afora. Em 2014/2015 o Chelsea, o distrito que concentra o maior número de galerias top, onde estamos agora, passou por uma transformação radical com um boom de construções, que incluiu também erguer o High Line. Com isso muitas galerias foram obrigadas a sair de seus espaços para que os construtores convertessem os galpões em novos prédios por conta da nova onda de gentrificação urbana. Com o Chelsea transformado em canteiro de obra, optamos temporariamente pelo Flower District ao constatar que várias galerias haviam migrado para a região. Nosso primeiro espaço na rua 28, ficava em um trecho histórico conhecido como Tin Pan Alley, berço da indústria fonográfica americana nos anos 1910/1920. Quando revelamos a novidade aos nossos artistas, a ideia inicial de atuar apenas como escritório de arte foi posta abaixo. A resposta foi unânime: queremos expor lá!
Finalmente em fevereiro de 2016 nossa aventura nova-iorquina foi oficializada com uma coletiva com obras de Tomie Ohtake, Antonio Dias, Alexandre Arrechea, Abraham Palatnik, Hélio Oiticica, Isaac Julien, Karin Lambrecht, Melanie Smith, Paul Ramirez Jonas e Carlito Carvalhosa. Em seguida, montamos a primeira exposição individual do Cao Guimarães em Nova York, com curadoria de Moacir dos Anjos, curador da Bienal de São Paulo de 2010. Nosso espaço tinha 82 metros quadrados, com a mesa de trabalho bem no centro da sala de exposição. A nota engraçada foi que a mostra, composta por oito filmes de Guimarães, nos obrigou a trabalhar na penumbra durante todo o mês de duração.
Em menos de um ano chegou a hora de dar o segundo passo, resolvemos partir para um espaço maior, melhor, no Upper East Side. Essa etapa acabou levando meu filho Daniel e família a se mudarem para Nova York. Nosso objetivo inicial, ter uma galeria no Chelsea, que só foi acontecer esse ano, conto em detalhe outro dia.
Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte [email protected]
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
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