Nos 15 anos de um dos maiores museus de arte a céu aberto do mundo, completados em 2021, Douglas de Freitas, curador do Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG), indica 15 nomes para um roteiro entre 560 obras de 60 artistas de 38 países, espalhadas por um Jardim Botânico com 4.300 espécies raras.
1 Lygia Pape
“Inaugurada em 2012, a galeria foi projetada pelo Rizoma Arquitetura para abrigar a obra Ttéia 1 C (2002), de Lygia Pape. A instalação é o resultado das experiências que a artista iniciou em 1977 com seus alunos no Parque Laje, no Rio de Janeiro, a partir da observação das teias de aranha na natureza, e de como a estrutura desaparecia e reaparecia com a incidência de luz. Fios dourados desenham uma série de elementos que lembram colunas distorcidas, que, com o efeito da linha e da luz, se deixam ver ou se ocultam enquanto caminhamos ao seu redor.”
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2 Chris Burden
“Beam Drop Inhotim (2008) é a recriação de uma obra realizada pelo artista em 1984, no Art Park (um parque de esculturas no estado de Nova York), e destruída três anos depois. Na versão de Inhotim, ao longo de 12 horas, 71 vigas coletadas em ferros-velhos próximos de Belo Horizonte foram içadas por um guindaste a 45 metros de altura. Do alto, elas eram soltas em uma piscina de concreto fresco, que, ao endurecer, manteve as peças eretas. O vídeo que documenta a ação pode ser visto no site do Inhotim.”
3 Matthew Barney
“Inaugurada em 2009, a galeria abriga a obra De Lama Lâmina (2009), último desdobramento do projeto de Matthew Barney em parceria com o músico Arto Lindsay, realizado no carnaval de Salvador, em 2004. Feita especialmente para o Instituto Inhotim, a instalação reafirma o interesse do artista por narrativas mitológicas, encontrando, no sincretismo afro-brasileiro, um campo fértil para explorar a natureza dialética das coisas. No domo geodésico de aço e vidro, está o trator que sustenta uma árvore, utilizado na performance na Bahia.”
4 Cildo Meireles
“A Galeria Cildo Meireles foi inaugurada em 2004 e recebe três instalações do artista: Através (1983-89), Desvio para o Vermelho: Impregnação; Entorno; Desvio (1967-1984) e Glove Trotter (1991). Em Através, por exemplo, o artista parte de objetos e materiais corriqueiros para o uso de construção de barreiras (grades, cercas e arames) para que, através de um jogo formal de elementos, o visitante caminhe por esse labirinto, cujo chão forrado por cacos de vidro introduz o som como instaurador da atmosfera do trabalho.”
5 Adriana Varejão
“Com projeto do arquiteto Rodrigo Cerviño, a galeria Adriana Varejão (2008) é uma grande caixa de concreto suspensa sobre um espelho d’água, que reflete e amplia a natureza ao redor, propondo um diálogo entre arquitetura e paisagem. A Galeria apresenta um conjunto de obras da artista, como O Colecionador (2008), no qual a pintura evoca uma falsa arquitetura, estabelecendo forte relação com a arquitetura da galeria, não só pela sua escala que mimetiza e dá continuidade ao ambiente interno da galeria, mas, também, pela sobreposição dos planos.
6 Hélio Oiticica
“Invenção da Cor, Penetrável Magic Square #5, De Luxe (1977) foi construída postumamente, a partir das instruções deixadas por Hélio Oiticica em textos, plantas, maquetes e amostras. O uso do termo square, que traduzido para português pode significar tanto ‘praça’ quanto ‘quadrado’, revela elementos fundamentais para o pensamento do artista: o interesse pelo espaço público como lugar de encontro e a herança da tradição geométrica em sua formação. A cor atinge a escala ambiental. A presença da luz natural completa a obra, modificando-a a cada instante.”
7 Yayoi Kusama
“Esta obra é uma versão da escultura apresentada pela primeira vez na 33ª Bienal de Veneza (1966). Nesta ocasião, Yayoi Kusama, clandestinamente, colocou à venda 1.500 esferas distribuídas ao lado do pavilhão Itália com duas placas com os dizeres: ‘Seu narcisismo à venda’ e ‘Narcissus Garden, Kusama’. Narcissus Garden Inhotim (2009) reúne 750 esferas de aço inoxidável sobre um espelho d’água. Nas palavras da artista, a obra se comporta como ‘um tapete cinético’, dada a ação do vento, que cria diferentes agrupamentos das esferas em meio à vegetação aquática.”
8 Lucia Koch
“Inaugurada em agosto de 2021, Propaganda é uma obra composta por intervenções em outdoors, que trazem fotografias de caixas e embalagens vazias que a artista Lucia Koch coletou em Brumadinho e Belo Horizonte. Essas imagens são apresentadas em estruturas já existentes na cidade de Brumadinho — painéis nos quais são habitualmente exibidos anúncios publicitários — e em outdoors instalados no Instituto Inhotim, criando um percurso que conecta os dois lugares, em uma reflexão sobre o lugar da arte e a lógica das manobras de propagação das informações.”
9 Rommulo Vieira Conceição
“Inaugurada também em agosto de 2021, o site specific O Espaço Físico Pode Ser um Lugar Abstrato, Complexo e em Construção, do artista Rommulo Vieira Conceição, foi criado com base em uma pesquisa de campo realizada pelo artista em cidades mineiras. Nela, percebemos a justaposição de arcos, cúpulas, paredes, grades, andaimes, quartinhas e frontões, de modo a expressar valores sobre a história da Arte e da Arquitetura. Aqui, fragmentos de arquitetura sacra se mesclam a uma arquitetura escolar seccionada e juntos suscitam a ideia de fé no conhecimento e na construção conjunta da humanidade.”
10 Tunga
“Tunga tem presença fundamental no Inhotim. É do artista a primeira galeria construída no Instituto, a True Rouge (2002). Dez anos depois, em 2012, é inaugurada a Galeria Psicoativa, com projeto assinado pelo Rizoma Arquitetura, uma das maiores galerias do Instituto Inhotim, abrigando um amplo panorama da produção de Tunga, incluindo o filme-instalação Ão, de 1981, uma das obras fundamentais do artista, exposta pela primeira vez na 16ª Bienal de São Paulo.”
11 Janet Cardiff
“A instalação Forty Part Motet (2001) fica em uma das salas da Galeria Praça, logo na entrada do Inhotim. Nela, a artista Janet Cardiff reúne oito conjuntos de cinco caixas de som, que formam um semicírculo. Cada caixa reproduz a voz de um integrante do coral da catedral de Salisbury (Reino Unido), captada por microfones individuais, antes do início da música e durante sua execução. À medida que percorre a instalação, o espectador pode se aproximar e se afastar das caixas para ouvir as diversas vozes e perceber as diferentes combinações e harmonias entre elas.”
12 Rivane Neuenschwander
“A galeria Rivane Neuenschwander contrasta com outras construídas no entorno, assim como o seu paisagismo, que nos remete a um jardim doméstico. Datada de 1874, ela é a construção mais antiga da instituição, remanescente da fazenda que existia no terreno. Em 2009 essa construção passou por uma adequação para receber Continente/Nuvem (2008). Olhando para o teto translúcido, observa-se o movimento contínuo e aleatório de bolinhas de isopor, em associações possíveis com o passar das nuvens, uma revoada ou mesmo deslocamentos geográficos.”
13 Doug Aitken
“A Galeria Doug Aitken é o resultado de um processo de cinco anos entre pesquisa, projeto e construção da obra Sonic Pavilion, desenvolvida a partir da experiência do artista no Instituto Inhotim. No centro do espaço, há um orifício de 202 metros de profundidade, por onde passam um conjunto de microfones que captam os sons da terra. Transmitidos em tempo real, os ruídos emitidos ocupam todo o ambiente. Os vidros da galeria são revestidos de um filtro que torna a paisagem – de vales a montanhas – nítida quando vista de frente, e difusa quando observada a partir de qualquer outro ângulo.”
14 Doris Salcedo
“Em sua trajetória, Doris Salcedo lida com estruturas de poder e como elas interferem na vida das pessoas. Sua produção gira em torno de relatos da violência, especialmente a política, e de seus desdobramentos, como o desaparecimento, o esquecimento, o luto e a memória. Na Galeria do Inhotim, essa discussão se dá em uma intervenção no espaço, tendo como referência histórica a arquitetura dos campos de concentração. Observamos uma grande sala branca sem janelas, com paredes penetradas por grades, expondo a tensão entre espaço externo e interno, segurança e aprisionamento.”
15 Claudia Andujar
“A Galeria Claudia Andujar reúne mais de 400 obras da fotógrafa suíça radicada no Brasil, que, de 1950 a 2010, fez registros do universo Yanomami, no norte da floresta amazônica. Dividida em três módulos expositivos – A Terra; O Homem; e O Conflito. Em 2019, o espaço recebeu a instalação Yano-a, da artista em parceria com a dupla Gisela Motta e Leandro Lima. Em referência ao revestimento de tijolos que cobre a Galeria, os Yanomami, na época de sua abertura, a nomearam de Maxita Yano (casa de terra).”
Reportagem publicada na edição 91, lançada em novembro de 2021.