Trabalhar com pérolas é apostar no tempo da natureza. Uma aposta de sorte, sem garantias de que, ao abrir uma ostra, encontrará ali dentro uma gema linda, brilhante e redonda. Muito pelo contrário: as chances de uma unidade perfeita ser formada são muito raras. Seu processo de formação, fruto da reação natural de defesa do molusco a um objeto estranho (como pedaços de rocha, areia ou parasitas), pode demorar anos para ser concluído. Isso tudo para se ter uma única pedra – o que a faz ser tão valiosa no mercado, sinônimo de glamour e classe.
“É uma sociedade entre o ser humano e a natureza”, diz Maurício Okubo, CEO e quarta geração a administrar a joalheria artesanal Julio Okubo. A família tem um histórico de quase 100 anos trabalhando com pérolas, a começar por sua bisavó, na década de 1930, pioneira em trazê-las do Japão para o Brasil – todas importadas de Kokichi Mikimoto, o primeiro homem no mundo a conseguir cultivar as gemas.
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A empresa, que tem em seu portfólio joias com cinco tipos diferentes de pérolas – entre brancas, negras, de água doce ou salgada -, recentemente começou a apostar em coleções com a espécie mais rara (e cara) da pedra: a dourada.
Na natureza, uma em cada 1000 ostras tem traços dourados, fruto de mutações genéticas. As da Julio Okubo vêm de uma fazenda de ostras das Filipinas, uma das primeiras do mundo a investir na produção das pérolas douradas. Foram mais de dez anos de tentativas e erros em laboratório para realizar um melhoramento genético e entender suas condições ideais de formação – ou gestação, como gostam de chamar as mais de 370 etapas do processo.
Ainda assim, o processo é um tiro no escuro: da reprodução da ostra até o recolhimento da primeira gema são necessários cinco anos. Ao fim desse período, 5% das pérolas estarão em condições “perfeitas” — ou seja, redondas, com brilho intenso e com a superfície lisa —, explica o diretor-executivo da joalheria. Para se fazer uma segunda pedra da mesma ostra, já que cada uma é formada por vez, outros sete a oito anos são adicionados ao tempo de espera.
Com todas essas condições da natureza, não é à toa que as pérolas douradas são 10 vezes mais caras do que as clássicas brancas. O CEO estima que cada gema avulsa custa em torno de R$ 5.000 – para efeitos de comparação, alguns colares inteiros de pérolas de água doce podem ser encontrados por menos da metade do preço.
Nesse processo extremamente cuidadoso, a fazenda de ostras das Filipinas seleciona criteriosamente seus parceiros. “Como existe uma demanda muito maior pelas pedras do que a capacidade de produção, eles [os donos] podem escolher para quem vender e procuram empresas alinhadas com seus propósitos de sustentabilidade”, conta Maurício, que quer ter a joalheria mais sustentável do Brasil até 2025. Há dez anos, a Julio Okubo firmou uma parceria de exclusividade com o criadouro, e é a única marca autorizada a vender pérolas douradas aqui no país.
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Mesmo que o acordo tenha uma década, foi só agora que a joalheria investiu mais a fundo em criar uma coleção de peças com as gemas especiais. “Foi preciso avaliar se colheitas estavam dentro da qualidade que buscamos e, como isso depende da natureza, leva um tempo. Tivemos que alinhar nossa demanda com o volume do que eles estavam produzindo”, explica o executivo.
Uma das intenções da marca com a nova linha de joias é dar uma cara mais atual às pérolas e atrair também o público jovem. “Muitas vezes o público pensa automaticamente no tradicional colar da avó quando se fala em pérolas. Mas esta coleção, com algumas formas geométricas e toques contemporâneos, mostra que existem maneiras mais modernas de usá-las”, define a atriz Mariana Ximenes, que estampa a campanha e foi até as Filipinas junto ao CEO para conhecer a fazenda de ostras.
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No que diz respeito a valores, um pingente simples com as pérolas douradas parte de R$ 8.000 a R$ 10.000, enquanto brincos em ouro podem passar dos R$ 35.000. Segundo Maurício, uma peça única especial que mistura as pérolas das Filipinas com safiras e diamantes será lançada no final do ano por pelo menos meio milhão de reais.
Com 2025 marcando o centenário da história dos Okubo com pérolas, o bisneto quer consolidar cada vez mais a marca da família como referência no assunto no Brasil. “O principal ponto da nossa estratégia é despertar o interesse das pessoas para as pérolas, de fazê-las entender tudo que há por trás delas e que existem formas jovens de usar essas joias”.