Pela primeira vez, a Chanel desfilou sua coleção Métiers d’art 2022-23 na África, em Dacar, no Senegal. É uma coleção de casacos compridos justos, golas dos anos setenta, sapatos de plataforma, calças largas justas e moletons grandes. Motivos de plantas são adornados em silhuetas e lantejoulas, pingentes adicionam brilho e laços dão um toque elegante às peças.
“Indo além do desfile, é o evento como um todo que eu levei em consideração”, afirmou a diretora criativa Virginie Viard em nota. “Estamos pensando nisso há três anos. Eu queria que acontecesse de forma suave, durante vários dias de diálogo profundo e respeitoso.”
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Desenhada no estúdio de criação da Chanel em Paris e em Porte d’Aubervilliers, onde estão localizadas 11 das Maison’s d’art, a coleção é a cara da marca.
Viard aproveitou a era do pop-soul-funk-disco dos anos setenta. “Evocar os anos 1970 é como pedir a tudo o que gera sua pulsação que traga ritmo às nossas vidas hoje”. Ela queria que a energia daquela década representasse a mulher Chanel e sua vitalidade.
Os motivos florais estão representados nos bordados. Camélias, pérolas entrelaçadas, florestas em botões de pedraria, rendas plissadas em preto ou branco exalam energia feminina.
Para contar a história da Métiers d’art 2022-23, Viard trabalhou com a escola de dança École des Sables e o coreógrafo Dimitri Chamblas em Dakar. Os convidados participaram da dança e da música.
A DJ sul-africana DBN Gogo tocou a música final. O desfile foi realizado no antigo Palais de Justice, um local com propósito. “O antigo Palais de Justice em Dakar, onde não só foi o desfile, mas também grande parte do programa artístico que o acompanhou, é um dos locais mais bonitos em que já apresentamos uma coleção. Foi uma escolha óbvia, e também tem sido uma fonte de inspiração”, diz Viard.
O estilista britânico e editor-chefe da Vogue Reino Unido, Edward Enniful, postou sobre o desfile em sua conta no Instagram. “Chanel fez história como a primeira marca de luxo europeia a mostrar sua coleção na África Subsariana”.
Algumas das celebridades que marcaram presença foram o cantor e embaixador da Chanel, Pharrell Williams, e sua esposa Helen, a supermodelo Naomi Campbell, a estilista senegalesa Adama Ndiaye, a modelo francesa Caroline de Maigret, a atriz Isabelle Béké e o cantor Obree Daman.
Uma coleção de vídeos antes do desfile
Trabalhando com o cineasta Ladj Ly e alunos da escola Kourtrajmé em Montfermeil, Viard queria produzir uma série de documentários sobre o desfile da coleção.
O primeiro episódio revela os preparativos finais para a coleção, incluindo imagens de Dacar em que o coreógrafo Dimitri Chamblas e os dançarinos da L’École des Sables ensaiam enquanto Viard assiste.
A escola foi aberta em 1994 por Kim Chapiron, Toumani Sangaré e Romain Gavras, Kourtrajmé. Criada por um coletivo de artistas que trabalham com audiovisual, está presente em Montfermeil, Madri, Marselha e Dakar, dando treinamentos gratuitos. A escola de Dacar ajuda jovens diretores e roteiristas senegaleses, dando a formação artística e técnica de que necessitam para chegar onde pretendem chegar. Essa oportunidade também oferece espaços para se relacionar, fazer networking e expandir seu círculo.
O Dakar Fashion Week foi na última semana, de 2 a 4 de dezembro, que há vinte anos leva moda para a capital do Senegal. É a semana de moda mais longeva da África. Marcas como Collé Sow Ardo, Diarrablu e Adam Ndiaye (fundador da Adama Paris e organizadores da semana de moda) foram algumas das que desfilaram.
A coleção Métiers d’art foi filmada em Dacar e no estúdio Chanel Creation na Rue Cambon, em Paris. Feito em quatro vídeos, o show real aconteceu no antigo Palais de Justice. “A ideia desse projeto é construir uma ponte entre a escola de Montfermeil e a de Dakar. É uma troca muito real. O lema de Kourtrajmé sempre foi liberdade total. Explicamos o projeto aos alunos, demos uma visão e depois eles sugeriram coisas com a sua própria identidade artística, ao mesmo tempo se mantendo fiéis ao mundo da Chanel.”
“Diálogos reais, alimentados a longo prazo, é essa dimensão humana e calorosa que motiva o meu trabalho. Eu coloquei toda a minha alma nisso. Esses encontros maravilhosos dos quais nascem aventuras artísticas como está, é isso que me move.”