Nos últimos anos, um novo tipo de museu colocou a interação entre a obra de arte e o espectador em uma outra dimensão. São museus ao ar livre, a céu aberto, conhecidos também como “open air museums” ou “outdoor museums”. Neles, instalações e parques de escultura relacionam-se com o ambiente ao redor e promovendo uma atmosfera imersiva.
Tratam-se de instituições que reúnem obras de arte esculturais e grandes pavilhões em jardins espetaculares. Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais, aberto em 2006, é um dos mais fantásticos. Entre a exuberância da mata atlântica, alguns dos artistas contemporâneos mais renomados do Brasil têm a oportunidade de criar e produzir obras de grande escala e complexidade, com galerias e jardins temáticos entre espécies botânicas variadas.
O conceito de museu a céu aberto surgiu na Noruega, em 1867, quando um colecionador de arte decidiu transferir as construções históricas de uma fazenda a um lugar próximo à capital Oslo e abriu o local para visitação. Inspirado nesse movimento, o rei Oscar da Suécia tomou uma iniciativa parecida, criando o Museu Nórdico, Estocolmo.
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Em 1891, o primeiro grande museu a céu aberto foi fundado próximo da capital, Estocolmo, como parte do Museu Nórdico, abrigando construções rurais de toda a Escandinávia. Logo, o sucesso de Skansen virou uma espécie de benchmark pela Europa. Na França, o Chateau La Coste une arte e arquitetura, com uma super vinícola que produz um dos melhores rosés da Provence.
Atualmente, são muitos os parques de esculturas ao ar livre no mundo. Esse diálogo ganhou recentemente o livro “Arte e Natureza”, destacando os principais acervos ao redor do mundo. Com edição de Marcel Mariano e curadoria de Serena Ucelli, a obra publicada pela Editora Luste faz uma ótima seleção dos museus que estimulam a relação entre o homem e o espaço, levando em conta o respeito ao meio ambiente, a riqueza paisagística do lugar, as obras mais grandiosas no tema e na forma, além de citar os parques mais antigos e tradicionais.
“Museus a céu aberto são um portal para vislumbrar a essência do que existe em volta e a abordagem íntima do artista com o ambiente”, ressalta Serena.
Confira a seguir seis museus a céu aberto pelo mundo que valem a visita:
Chateau La Coste
Provence / França
Entre bosques e vinhedos, em um pedaço bucólico e adorável da região da Provence, está a propriedade de 200 hectares do investidor e hoteleiro irlandês Paddy McKillen. Por ali, um restaurante, um hotel de luxo, uma charmosa venda com as garrafas da vinícola francesa dividem espaço com mais de 20 pavilhões de arte e esculturas de artistas emblemáticos, como a francesa Louise Bourgeois. Há ainda uma adega de 10 metros de altura que faz lembrar um hangar em alumínio brilhante projetada por Jean Nouvel, um centro de arte minimalista em concreto bruto e vidro com piscinas refletivas imaginadas por Tadao Ando e o pavilhão de música abstrato de Frank Gehry.
Inhotim
Minas Gerais / Brasil
Idealizado entre os ricos biomas da Mata Atlântica e do Cerrado, pelo empresário mineiro Bernardo de Mello Paz, Inhotim é sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e maior centro de arte ao ar livre da América Latina, com obras de Hélio Oiticica e Lygia Pape, em meio a um jardim botânico com mais de 4 mil espécies, vindas de todas as partes do mundo. Não deixe de visitar a galeria de Adriana Varejão, uma das mais impressionantes, e as instalações perturbadoras de Tunga.
BenesseoArt Site Naoshima
Naoshima, Teshima e Inujima / Japão
Benesse nasce da união das palavras em latim, “Bene” e “Esse”, que juntas traduzem bem-estar, fazendo uma alusão à simbiose entre o homem e a natureza. Foi justamente com essa visão, que o instituto Benesse Art Site Naoshima foi fundado há mais de 30 anos, por Soichiro Fukutake, em uma região chamada de Mar Interior de Seto, que conecta o mar do Japão ao Oceano Pacífico, composta por rrês ilhas — Naoshima, Teshima e Inujima. Diversos artistas e arquitetos desenvolveram criações para o museu, com destaque para as obras de Tadao Ando, que é um dos mais premiados arquitetos do planeta.
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Kröller-Müller
Otterlo / Holanda
Apaixonada por arte, a colecionadora Helene Kröller-Müller foi umas das primeiras pessoas a reconhecer o talento do artista holandês Vicent van Gogh. Filha de uma rica família alemã ligada ao setor de mineração, Helene, ainda muito jovem, Helene tinha o sonho de criar uma “casa-museu”. O Museu Kröller-Müller foi inaugurado após 1945, exibindo a maior coleção particular de Van Goghs do mundo e compondo um jardim de esculturas, que é hoje um dos maiores da Europa.
Connells Bay Sculpture Park
Auckland/ Nova Zelândia
Ocupando uma área de 245.000 metros quadrados, o museu a céu aberto exibe uma coleção de 28 esculturas contemporâneas de grandes dimensões, sendo a maioria feitas por artistas neerlandese, sob encomenda, sem um briefing formal, porém com o propósito de se inspirar nos arredores topográficos do parque, assim como na história social local. Entre os trabalhos mais impactantes, estão os que utilizam materiais, como metal, fibra de vibro, cimento. Fazem parte dessa coleção Christine Helleyar, Julia Oram e Neil Dawson, entre outros.
NMAC Foundation
Vejer de la Frontera, Espanha
Com o propósito de oferecer uma visão da arte contemporânea em que a paisagem natural desempenha um papel essencial, a fundação traz esculturas e projetos de arquitetura em ambientes naturais, muito bem integrados e que foram especialmente criados para essa área. São os chamados site specific ou arte in situ. Na coleção permanente, estão esculturas da segunda metade do século XX e início do século XXI, com obras de Marina Abramovic, Maurizio Catellan, Olafur Eliasson, Sol Lewitt, Cristina Lucas e James Turrell, entre outros.
Reportagem publicada na edição 101, lançada em setembro de 2022