Em sua segunda individual em nossa galeria em Nova York, Bruno Dunley apresenta um conjunto de cerca quinze telas a óleo, a maioria em grandes dimensões, além de vinte desenhos em papel. Desta vez, sua característica abstração gestual tem como principal referência a forma lúdica das nuvens, no entanto, estes elementos oníricos em suspensão na atmosfera surgem nos trabalhos mais como uma ocorrência abstrata do que uma figuração. Dunley costuma dizer que “um trabalho de arte é um ato pensante, uma linguagem que nos coloca em contato com o mundo”.
Falar sobre arte abstrata é sempre complexo, subjetivo, teórico, quando não resvala para o terreno do intangível e do metafísico. Tentarei ser objetiva. Duas questões são perceptíveis na obra de Dunley. A primeira é a importância do desenho no questionamento estético do artista e como esta incansável investigação é central à produção de suas pinturas a óleo. A outra questão é a cor.
Nos desenhos percebe-se um exercício orientado, fundamentalmente, pela busca da forma. São obras, em geral, monocromáticas, marcadas pela presença do preto, com pouco ou nenhum ponto de cor.
Nas telas, ao contrário, há uma liberdade maior no trato da cor que fica evidente na atual exposição. Percebe-se que o artista embarcou em um período de namoro com a cor e anda sentindo imenso prazer com o despertar de sua nova veia de colorista.
Por exemplo, na grande tela “A noite” (225 x 280,5 x 4 cm), uma das maiores expostas na galeria, as figuras circulares me trazem à mente uma relação com a vegetação aquática das Ninfeias de Monet, mas não com as bolinhas de Damien Hirst e muito menos com as de Yayoi Kusama.
Na tela de Dunley, sobre um azul luminoso as folhas flutuantes do mestre francês se transformaram em elementos lúdicos, multicoloridos, vibrantes. Há uma influência clara da Pop Arte acionada por um gesto livre e uma imaginação desprovida de preconceitos, como se fossem M&M’s gigantes de um guloso Gargântua observado atentamente por um Rabelais contemporâneo.
Considerado como o introdutor da arte abstrata, Wassily Kandinsky disse, em 1911, sobre as experiências cromáticas de suas primeiras telas na nova ordem que viria revolucionar a História da Arte: “A cor é uma energia que influencia diretamente a alma”.
No caso de Dunley, a razão do mergulho na cor tem dupla origem, veio puxada tanto por uma vontade da alma como por uma necessidade real, ambas surgidas na pandemia. Levados pela dificuldade de achar tintas a óleo no mercado nacional durante o lockdown e decididos a não parar de pintar, ele e o pintor Rafael Carneiro resolveram preencher a lacuna produzindo, eles mesmos, suas tintas.
Em 2020, a experiência virou empreendimento e a dupla fundou a Joules & Joules, com o curioso nome emprestado da unidade (um joule) utilizada, desde o século 19, para medir a energia mecânica, ou seja, o trabalho. (Neste caso, o toque irônico refere-se ao trabalho de dois artistas = duas unidades = dois joules).
A marca produz tinta a óleo 100% nacional, artesanal, de alta qualidade, e – importante – a preços mais acessíveis que o equivalente importado. Além desse atrativo, a Joules & Joules possui cartela com cores e nomes inspirados na cultura brasileira. Torcemos que dê muito certo!
Nascido em Petrópolis e criado no interior de São Paulo, em Caçapava, Dunley fez sua primeira individual em São Paulo em 2007. Estudou História da Arte com o renomado crítico e professor Rodrigo Naves. Entre 2004 e 2010, atuou como pesquisador e educador no Instituto Tomie Ohtake, experiência que afirma ter ampliado sua percepção da arte. Em seguida, mergulhou em um período sabático dedicado a aprofundar seus conhecimentos nos principais museus da Europa, dos Estados Unidos e do nosso país.
Em 2016, veio sua primeira individual em Nova York, “The Mirror”, na nossa galeria. Na exposição as obras faziam referência ao legado do abstracionismo norte-americano dos anos 1940 e 1950 de mestres como Jackson Pollock, Franz Kline e Willem de Kooning. Em 2018, sua obra esteve presente na 33ª Bienal de São Paulo, na comentada instalação curada pela artista plástica Sofia Borges. Hoje Dunley é uma das figuras centrais da nova geração de pintores brasileiros.
Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte [email protected]
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
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