Pense em rosa. Isso é o que muitas das famosas marcas de tequila estão propondo neste momento. Repare nos corredores das lojas de bebidas e pode ser que se depare com uma série recém-chegada cor de rosa na seção de agave (planta de origem da bebida). Ela se enquadra em uma subcategoria apelidada de “Rosa” ou tequila rosé. Confira, então, o que você precisa saber sobre esse líquido.
Embora o CRT (Conselho Regulador da Tequila, em Jalisco, no México), não ofereça uma definição formal, a maioria desses rótulos atinge sua tonalidade única por meio do envelhecimento cuidadoso em barris de vinho tinto. Claro, tequila envelhecida em barril não é uma invenção moderna. A tequila “reposada” foi cunhada como um estilo na década de 1960 e é legalmente reconhecida há quase 20 anos como qualquer tequila que descansa entre dois meses a um ano em carvalho. A Envelhecida é o que está no rótulo para uma bebida que vai de um a três anos de maturação e a Extra Envelhecida para o que for além disso.
Normalmente, esse carvalho se iguala aos barris antigos de bourbon, que conferem sua própria cor e sabor distintos ao líquido subjacente. Com barris de vinho, o resultado é algo mais suave – aos olhos e ao paladar. A família Real, de Amatitan, Jalisco (produtores da bebida), afirma ter descoberto isso por acaso, há quase 75 anos.
“Fabricamos tequila há anos, quando, no início dos anos 1950, recebemos acidentalmente barris de vinho tinto para envelhecer”, de acordo com o fabricante de tequila de terceira geração, Roberto Real. “Nos deparamos com essa linda cor rosa e de muito bom gosto, e assim nasceu a categoria Rosa para nós e para o mundo apreciar.”
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Só que o resto do mundo levou muito tempo para perceber. Parte disso se deu pela disponibilidade dos barris de envelhecimento necessários. Na sua preparação ideal, a Rosa é envelhecida em barricas de vinho jovem e fresco para garantir as suas características de assinatura: um aroma fresco e floral, notas de frutos vermelhos no palato e, claro, o seu corpo rosa vibrante. É um processo mais caro. Os barris ex-bourbon são muito mais fáceis e baratos para o produtor do que seus equivalentes de vinhos finos. Como resultado, o primeiro evoluiu para o padrão da indústria da maturação.
Agora, avance para 2017: o astro de rock vencedor do Grammy, Adam Levine, e sua esposa, a super modelo Behati Prinsloo, estavam em turnê pela região de Jalisco, quando um encontro casual com a família Real os colocou cara a cara com a tequila Rosa. Eles se apaixonaram instantaneamente pelo processo de barril de vinho e fizeram uma parceria com a família para ajudar a ampliar o status do destilado. Os frutos de seu trabalho finalmente tomaram forma em 2021, com a criação da Calirosa.
Hoje, após seu primeiro ano de existência, a marca acaba de ultrapassar 50 mil caixas vendidas. Isso foi o suficiente para torná-la, oficialmente, a tequila Rosa de crescimento mais rápido no mercado. Por isso, é justo que a família que criou a subcategoria tantos anos atrás esteja, agora, na liderança de seu reconhecimento global.
“Esperamos que no futuro a tequila Rosa seja [oficialmente] vista como uma categoria própria”, acrescenta Real. “Acreditamos nisso, desde que começamos a fabricá-la na década de 1950 e esperamos continuar a crescer na categoria por meio de nossa parceria com a Calirosa”.
Enquanto isso, há muita competição de qualidade no mercado. Celosa é o exemplo mais recente a chegar às prateleiras dos EUA. É a ideia de outra importante família do reino da produção de tequila. Jose Alonso Beckmann faz parte da 12ª geração da dinastia Jose Cuervo.
Embora o destilado corra em seu sangue, não foi por meio dela que finalmente entrou na briga – e sem a ajuda de sua famosa família. Em vez disso, Beckmann fez uma parceria com Jay Bradley, fundador da Craft Irish Whiskey Company, para abrir uma subcategoria dentro da subcategoria de Rosa.
“Temos um processo único, no qual misturamos diferentes tequilas envelhecidas na proporção certa e as maturamos em barris de vinho tinto por um determinado período de tempo”, disse Beckmann à Forbes. “Depois disso, passamos a mistura por carvão ativado para criar um ‘Cristalino’ com sabor mais suave. Em seguida, a bebida volta para barris de vinho tinto uma segunda vez para dar ao produto final seu aroma, sabor e cor característicos”.
Comercializada como um líquido ultra luxuoso – que leva uma rolha feita de obsidiana – a bebida tem sido um grande sucesso no Reino Unido, onde sai das prateleiras a um preço de varejo sugerido de 225 libras esterlinas (R$ 1.400). De volta aos Estados Unidos, vale a pena notar que a Calirosa está conquistando um sucesso monumental, posicionando-se também como um destilado super premium. Seu nível de entrada, a Rosa Blanco, é vendida por cerca de US$ 50 (R$ 250), enquanto o carro-chefe Extra Envelhecida alcança uma soma imponente de US$ 200 (R$ 1.000). O portfólio ficará completo no mês de abril, com o lançamento do selo Reposado.
Como os fãs de tequila mostram uma sede crescente por esse estilo de produto de alta qualidade, haverá uma pressão crescente para consagrar a Rosa como um estilo real – conforme definido pelo CRT. Especialmente se (quando) algumas alternativas menos engenhosas entrarem no espaço para capitalizar a tendência. Mas há muita política lenta e constante em jogo quando se trata de codificação. Não é algo que acontece da noite para o dia.
“A tequila tem tanta tradição e habilidade, que adicionar outra categoria a algo tão antigo e delicado deve ser feito com muita cautela”, acrescenta Beckmann. “No entanto, pelo processo, pelo gosto e aparência da tequila Rosa serem tão diferentes de qualquer outro, ela merece ter sua própria subcategoria.” Por enquanto, quem estiver ansioso para aproveitar o melhor que o mercado tem para oferecer, as marcas mencionadas são uma prova cabal de que a Rosa está em plena ascensão.
*Brad Japhe é jornalista especializado em alimentos, bebidas e viagens. Também é consultor de cervejas e destilados. Texto original publicado na Forbes EUA. Tradução: Giovanna Simonetti.