Um dos pontos altos do Rock in Rio do ano passado foi sem dúvida a “ousadia” de programar o dia de encerramento do festival, 11 de setembro, somente com artistas mulheres em seus palcos principais (Mundo, Sunset, New Dance Order e Espaço Favela). O “Dia Delas”, como foi batizado pela organização, foi recheado de grandes nomes da música mundial, como Dua Lipa, Macy Gray e Rita Ora, e também estrelas nacionais, como Liniker, Ivete Sangalo, Majur, Mart’nália, Gaby Amarantos e Larissa Luz, além de DJs como Eli Iwasa, ANNA, Mary Olivetti, entre outras.
No início do texto, as aspas no termo “ousadia” são propositais. Você há de se perguntar: por que um line-up composto somente por nomes femininos seria algo fora da curva e considerado ousado, se no mercado nacional e internacional há tantas artistas incríveis? A resposta é simplesmente a seguinte: um line-up somente de mulheres num evento tão grande era algo inédito.
No Brasil, vivemos um momento de ouro para as mulheres da música. Eventos em que artistas e profissionais têm protagonismo, como os realizados pela plataforma WME, da qual sou uma das fundadoras, comprovam a fertilidade desse mercado.
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Pensando nessa abundância de talentos, a ForbesLife Fashion me passou a tarefa de compilar 10 nomes femininos emergentes da música brasileira, com base em criatividade e inventividade; um garimpo mirando nas novidades e em artistas que (ainda) não estouraram nas listas de mais ouvidas das plataformas digitais. Vamos a elas:
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Divulgação UANA
@uanamahinMisturando referências de artistas internacionais como Beyoncé com sons nacionais como o bregapop, a pernambucana Uana vem conquistando cada vez mais seu espaço ao sol. Desde que lançou o primeiro álbum, “Pantera” (2019), Uana vem mostrando novas facetas de sua multiplicidade como artista. Consciente de seu objetivo, que é transformar o brega recifense em algo mainstream, a exemplo do que Anitta fez com o funk, Uana vem desenhando uma estratégia que inclui participações especiais, como a colaboração com FBC e Vhoor na música “Quando o DJ Toca”, sua gravação mais ouvida nas plataformas digitais.
Também atriz, compositora e percussionista, a artista carrega forte influência do pop americano, e é essa mistura com ritmos regionais brasileiros que faz seu som ser tão interessante. A partir de influências de sua adolescência, que vão de Cordel do Fogo Encantando a Destiny’s Child, vem a inspiração para compor a sua música. Exemplo dessa mistura é seu EP mais recente, “Vidro Fumê”, no qual a faixa-título parece um mix de Duda Beat com Rihanna. E olha que dá match.
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Victor Pollack DUDA BRACK
@dudabrackGaúcha que flerta com música latina, pop e experimental, Duda Brack vem desbravando audiências desde 2015, quando lançou seu primeiro álbum, “É”, que teve produção de Bruno Giorgi, filho de Lenine. Desde então, ela vem virando mentes na indústria da música, como a do ex-Titãs Charles Gavin, que, em 2017, a convidou para gravar um álbum em homenagem aos Secos & Molhados, juntamente com outros artistas. Essa conexão foi coroada em 2021, quando Duda lançou seu segundo álbum, o potente “Caco de Vidro”, com participação do próprio Ney Matogrosso – além de nomes como Baiana System, Bixiga 70 e Nação Zumbi.
Em março de 2022, ela chegou aos palcos para divulgar o álbum. Ainda no ano passado, além dos mais atentos fãs de música, Duda impressionou os noveleiros por sua participação em “Além da Ilusão”, folhetim das 18h da Globo, no qual encarnou a personagem Iolanda. Sua adoração por encenar e pelo audiovisual não é novidade para quem acompanha seus clipes no YouTube. São verdadeiros curta-metragens, como o mais recente, o belo e sexy “Man”.
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Divulgação JULIANA LINHARES
@xulianalinharesCantora, compositora e atriz, Juliana Linhares lançou seu primeiro álbum em março de 2021. “Nordeste Ficção” foi composto no formato de um roteiro de teatro, com trechos de romance e documentário. Nas 11 faixas do álbum, o trabalho lembra nomes clássicos como Elba Ramalho, Amelinha, Cátia de França, Belchior, Alceu Valença e Terezinha de Jesus. Sua estreia causa estranhamento, mas também tem momentos de ternura, além da releitura de uma joia da música nordestina, “Tareco e Mariola”, de Petrúcio Amorim.
Com parcerias com Letrux, Zeca Baleiro, Mestrinho e Jéssica Caitano o disco abre espaço para questionamentos sobre como é a vivência nordestina hoje em dia. Juliana nasceu em Natal (RN) e se mudou para o Rio de Janeiro em 2010. Essa mudança fez com que ela pudesse observar de um lugar privilegiado os clichês que o resto do Brasil enxerga no Nordeste. Apesar de novata na carreira solo, ela é vocalista da banda Pietá desde 2012 e também integra o grupo Iara Ira, ao lado das cantoras Júlia Vargas e Duda Brack
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Divulgação BIXARTE
@bixarteTraduzir o trabalho da poetisa, cantora, rapper, compositora e atriz natural de João Pessoa (PB) numa só palavra é tarefa fácil: potência! A artista Bia Manicongo, conhecida como Bixarte, traz sua verdade para o palco em forma de rimas que alertam, chocam, emocionam e transformam o público que tem acesso à sua arte, pontuada por temas como homofobia, gordofobia, religião e crítica social. O invólucro de sua música é o rap, um gênero conhecido por ser machista e, muitas vezes, homofóbico. Por isso, somente a existência de Bixarte nesse meio já é uma conquista.
Ela não apenas existe, mas é craque nas rimas, sagrada duas vezes campeã estadual do Slam da Paraíba, cantando suas rimas autorais. Seu primeiro EP, “Revolução”, foi lançado em 2019, quando ela tinha 17 anos. No ano seguinte, Bixarte lançou o seu primeiro álbum, Faces, enquanto se compreendia como uma pessoa trans não binária. Gravado ao vivo em 2021, o álbum “Bixarte no Estúdio Showlivre Colmeia 22” traz as poderosas “Assiste Meu Sucesso”, “Black Bitch Travesti” e “Travas Formadas”
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Hick Duarte/Divulgação ANA FRANGO ELÉTRICO
@anafrangoeletricoMesmo tendo sido indicada a um Grammy Latino – na categoria melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa, em 2019 – e levado para casa o prêmio de Revelação do Ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) naquele mesmo ano, a carioca Ana Frango Elétrico não caiu na mira das grandes audiências. Não é à toa: seu som pode ser considerado muita coisa, menos convencional. Aliás, uma boa tag para categorizar a música criada pela artista pode ser “pós-MPB”, como ela prefere.
Além de cantar e compor, Ana pinta e escreve poesias. A carreira na música veio meio por acaso, já que ela chegou a prestar vestibular para pintura. Talvez tenhamos perdido uma grande pintora, mas ganhamos uma cantora e compositora de personalidade ímpar. Seu primeiro álbum, “Mormaço Queima” (2018), já apresentava traços fortes do que viria a se consolidar como suas marcas registradas: letras inteligentes, estranhas e engraçadas, e um som muito difícil de classificar, bebendo de influências de artistas como Novos Baianos, Gilberto Gil e… Hannah Montana.
Sua história com a música vem de pequena. Filha de um artista plástico e de uma psicóloga, Ana entrou numa escola de música aos 6 anos. Aos 7, já sabia ler partitura e tocava piano clássico em recitais. Aos dez anos, passou na prova de admissão da escola de música Villa Lobos e, aos 16, começou a compor as primeiras músicas que entraram para seu primeiro álbum. Em 2019, lançou o segundo disco, Little “Electric Chicken Heart”, que traz pérolas como “Promessas e Previsões”, que parece uma balada de bossa-nova filtrada por boas doses de LSD. Ana Frango fez parte do estrelado elenco do festival Primavera Sound SP.
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Zarella Neto/Divulgação SOPHIA ARDESSORE
@sophiaardessoreUm som chique e uma voz que demonstra muito mais do que os 20 anos da cantora e compositora Sophia Ardessore fazem dela uma aposta certa para quem gosta do encontro do jazz com MPB. Ela lançou no ano passado o primeiro álbum, “Porto de Paz”, já com tarimba de uma veterana. Influenciada por seu avô trompetista, Sophia Ardessore iniciou os estudos musicais aos 7 anos. Aos 11, começou aulas de piano, canto e violão. Seis anos depois, em 2017, foi a Boston estudar na Berklee College of Music, uma das escolas de música mais prestigiadas do mundo.
Seus estudos se intensificaram na volta ao Brasil, e ela teve aulas com mestres como Muari Vieira e Mônica Elizetche. Seu disco, lançado em junho, ganhou produção musical e arranjos do baixista Fi Maróstica e traz muitas camadas instrumentais. Aliado à voz segura de Sophia, o disco é uma joia para ouvidos que buscam o conforto de um sambajazz bem acabado.
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Divulgação KAÊ GUAJAJARA
@kaekaekaeÉ impossível não ter reações múltiplas diante da música da multiartista indígena Kaê Guajajara. A força de suas rimas traz verdades sobre injustiças impostas aos povos originários ao mesmo tempo em que a produção musical se apresenta madura e poética, criando um produto final que encanta e incomoda.
Nascida em Mirinzal (MA) e pertencente à etnia Guajajara, Kaê se mudou para o complexo de favelas da Maré (RJ) ainda criança e teve sua vida marcada por preconceitos e racismo por causa de seus traços e de sua origem. Mais do que uma expressão artística, ela vê na música uma forma de resistir e de se manifestar contra o silenciamento dos povos originários.
O álbum “Kwarahy Tazyr”, novo trabalho da cantora, rapper, compositora, escritora, atriz, arte-educadora e ativista, é uma oportunidade de mais pessoas indígenas se reconhecerem fora da identidade estereotipada e também oferece aos brasileiros um caminho para a empatia com os povos originários. Nas letras, Kaê não se coloca como vítima do sistema, mas como parte de uma luta por mudanças.
O título do disco significa “filha do Sol” em zeeg’ete, língua do povo Guajajara, e traz uma ligação com a espiritualidade e a personalidade da artista. É uma música contemporânea indígena que perpassa todos os estilos com elementos originários (maracá, flauta e línguas).
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Divulgação RACHEL REIS
@rachelreiscBaiana de Feira de Santana, a cantora Rachel Reis, de 25 anos, imprime em sua música a mistura de MPB e música africana pela qual tantos artistas de seu estado ficaram conhecidos. Sua estreia nas plataformas digitais se deu com um hit. “Maresia” é dessas músicas que você escuta pela primeira vez e tem certeza de que já ouviu antes. O poder de fundir música baiana, brega e pop é tão forte que, em 2022, ela foi indicada como Artista Revelação do Prêmio Multishow e foi uma das três vencedoras do Pitch WME. Seu novo tiro é “Lovezinho”, com forte influência afro e um belo videoclipe.
Sua história com a música foi herdada da mãe, cantora de seresta famosa em sua cidade. Rachel chegou a cursar faculdade de direito e depois trocou por publicidade, mas a música falou mais alto e, em 2016, ela decidiu que queria cantar. Largou um emprego de recepcionista num posto de saúde e, em 2020, revelou o seu lado compositora com “Ventilador” e “Saudade”, seus primeiros singles.
Em 2021, lançou o EP “Encosta”, em parceria com os produtores musicais Zamba e Cuper, com o intuito de homenagear a Bahia por meio dos ritmos. O projeto ganhou um EP visual que já conta com mais de 2 milhões de plays no Spotify. A cada novo single, é como se avançasse anos de carreira. O sucesso mainstream parece ser apenas questão de tempo.
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Divulgação BRUNA MENDEZ
@brunamendezBruna Mendez é um dos segredinhos da música alternativa de Goiânia mais bem guardados até hoje. Atuante desde 2014, quando lançou “Pra Ela”, seu EP de estreia, Bruna tem tudo o que precisa para estourar como a próxima voz doce do cenário pop. Com dois álbuns lançados, “O Mesmo Mar Que Nega a Terra Cede à Sua Calma” e “Corpo Possível”, a artista tem repertório, presença e uma voz encantadora e marcante, o que fez com que ela fosse convidada a fazer um especial para a belíssima série “Colors”, um importante canal de divulgação de novos talentos. O som de Bruna mistura batidas eletrônicas com melodias aveludadas, construindo a cama perfeita para sua voz sussurrada, quase que cochichada ao pé do ouvido. “Corpo Possível”, em especial, é um disco para ter em casa e degustar com calma.
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Divulgação BEBÉ
@bebesalvegoAos 18 anos, Bebé Salvego, ou simplesmente Bebé, é um dos talentos emergentes da nova geração da música brasileira. Nascida em Piracicaba numa família de músicos e artistas, ela vem se destacando por suas composições e timbre de voz único – já chegou a ser comparada a divas do jazz como Billie Holiday e Sarah Vaughan. Em 2016, sua paixão pelo jazz a levou a interpretar, a convite do maestro Jamil Maluf, canções de Billie Holiday, acompanhada da Orquestra Sinfônica de Piracicaba e a participar do The Voice Kids Brasil.
Em 2019, Bebé se apresentou na Sala São Paulo com a Brasil Jazz Sinfônica e participou de um grande show no Ibirapuera em homenagem às mulheres ao lado de Roberta Sá, Fafá de Belém, Leila Pinheiro, AnaVitória, entre outras. Seu primeiro álbum, “Bebé”, foi lançado em 2021 com a ajuda do Proac, chamando a atenção de veículos como a CNN, que a considerou uma das 10 cantoras que irão mudar o cenário musical no Brasil. No ano passado, Bebé assinou contrato com o selo Balaclava, um dos termômetros da nova música alternativa no país, e também se apresentou no festival Primavera Sound São Paulo.
UANA
@uanamahin
Misturando referências de artistas internacionais como Beyoncé com sons nacionais como o bregapop, a pernambucana Uana vem conquistando cada vez mais seu espaço ao sol. Desde que lançou o primeiro álbum, “Pantera” (2019), Uana vem mostrando novas facetas de sua multiplicidade como artista. Consciente de seu objetivo, que é transformar o brega recifense em algo mainstream, a exemplo do que Anitta fez com o funk, Uana vem desenhando uma estratégia que inclui participações especiais, como a colaboração com FBC e Vhoor na música “Quando o DJ Toca”, sua gravação mais ouvida nas plataformas digitais.
Também atriz, compositora e percussionista, a artista carrega forte influência do pop americano, e é essa mistura com ritmos regionais brasileiros que faz seu som ser tão interessante. A partir de influências de sua adolescência, que vão de Cordel do Fogo Encantando a Destiny’s Child, vem a inspiração para compor a sua música. Exemplo dessa mistura é seu EP mais recente, “Vidro Fumê”, no qual a faixa-título parece um mix de Duda Beat com Rihanna. E olha que dá match.
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