Somente o caldeirão cultural do terceiro milênio poderia gerar alguém como JR, o fotógrafo e street artist que virou um fenômeno da arte social global. Respeitado nas estratosferas, alta e baixa, e conhecido por todo lado por seu pseudônimo de duas iniciais, JR se autodenomina “um ativista urbano”.
Esse francês destemido peita o sistema dos países com sua câmera fotográfica, criando mega intervenções com papel e cola nos lugares mais inusitados do planeta: de prisão de alto risco, na Califórnia, à pirâmide do Louvre, em Paris, ao polêmico muro na fronteira México-EUA, à favela carioca no Morro da Providência. Suas imagens coladas nas mais diversas superfícies criam ilusão de ótica em grande escala para divulgar sua forte mensagem social de justiça aos injustiçados. “A arte não tem obrigação de mudar as coisas, mas ela oferece uma porta para abrir nossas mentes e mudar como enxergamos o mundo”, diz ele.
Fiquei muito feliz quando esse nome de ponta da arte multidisciplinar contemporânea passou a integrar o portfólio da galeria. Neste sábado (25), JR estará presente em sua primeira individual em São Paulo, em nossa galeria, para inaugurar “O papel da mão”, com curadoria de Marcello Dantas, em exibição até 20 de maio. A mostra é constituída de uma série inédita de colagens fotográficas em que a mão – metáfora do fazer – é a principal protagonista. A série também faz referência à mão espalmada de nossos ancestrais das cavernas, considerada o primeiro grafite criado pelo Homo sapiens.
Além disso, serão apresentadas obras fotográficas de mega intervenções icônicas do artista em diferentes partes do mundo. Filho de imigrante tunisiana, o “Cartier-Bresson do século 21”, como alguns chamam esse expoente da arte de rua, começou como muitos jovens: tagueando o conjunto habitacional onde vivia, enquanto reservava as noites para navegar sobre os telhados de Paris munido de sua lata de spray e deixar seu tag. Foi assim até o dia em que achou uma câmera fotográfica, ainda em funcionamento, jogada no chão do metrô.
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A partir daí deu os primeiros passos na fotografia, retratando a turma de amigos em imagens em preto e branco de grande expressividade. Ao tomar conhecimento que um conjunto habitacional do bairro de Montfermeil iria ser posto abaixo, deslocando as famílias de vários de seus amigos, veio a ideia de imprimir as imagens daqueles rostos, representativos de uma massa de jovens ao redor do mundo, em grandes folhas de papel e colá-las, em protesto, na surdina da noite, nas paredes do prédio semidestruído pela ganância imobiliária. A intervenção, graficamente muito forte, emplacou a capa de vários jornais franceses e o resto entrou para os anais da revolucionária história da arte de rua do terceiro milênio.
De lá para cá suas colagens fotográficas gigantescas intervêm em grandes espaços públicos. Entre muitos projetos, realizou Inside Out no Highline Park, em Nova York, em 2011, fincou instalações em diversos pontos de Paris, sua cidade natal, como, a intervenção Les Falaises, diante da Torre Eiffel, e talvez a mais famosa delas, a que fez na Pirâmide do Louvre, em 2019, onde criou uma mega ilusão de ótica utilizando a fotografia sobre papel colado para revelar as históricas fundações desse marco da cultura mundial.
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Cortesia do artista e da Galeria Nara Roesler JR, Ballerina in containers, Holding tight, Le Havre, França, 2021, ed PA 1, 103 x 153 x 6,5 cm.
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Cortesia do artista e da Galeria Nara Roesler JR, Hand # 7, 2022, tinta sobre madeira, edição única, 215 x 94 x 3 cm.
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Cortesia do artista e da Galeria Nara Roesler JR au Louvre et le Secret de la Grande Pyramide, 30 de Março 2019, 6h21 © Paris, France, 185,5 x 271 x 6,5 cm.
JR, Ballerina in containers, Holding tight, Le Havre, França, 2021, ed PA 1, 103 x 153 x 6,5 cm.
Certamente, pioneiros da ilusão de ótica ou trompe l’oeil, como Masaccio, Escher, Dalí, Fornasetti, Magritte e Vasarely, aprovariam. Durante o período da exposição, além das 32 obras em exibição, programamos outro evento inédito na galeria. Pela primeira vez no país será exibido “Paper and Glue”, documentário premiado, dirigido pelo próprio artista e produzido pelo oscarizado produtor/diretor americano Ron Howard.
A trajetória de JR é mostrada desde seus primeiros vídeos nos telhados de Paris, quando o grafite ainda era sua única plataforma de protesto, a suas intervenções em grande escala em vários pontos do planeta.
Serviço:
“O papel da mão”
Galeria Nara Roesler, São Paulo
Até 20 de maio de 2023
Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte premiada pela Associação
Paulista de Críticos de Arte (APCA). [email protected].
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
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