José Celso Martinez Corrêa, ou apenas Zé Celso, morreu nesta quinta-feira (6), em São Paulo, aos 86 anos. Ele estava internado desde terça-feira (4) na UTI do Hospital das Clínicas por causa de ferimentos provocados por um incêndio no apartamento em que morava, na Zona Sul da capital paulista. A informação foi confirmada por meio do Instagram do Teatro Oficina, fundado pelo ator, diretor e dramaturgo, que havia sido homenageado pela lista Forbes 50 Over 50 no início deste mês.
Veja fotos de Zé Celso:
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Arquivo Nacional O ator José Wilker, ao centro, o diretor José Celso Martinez Corrêa, à direita, e elenco no ensaio da peça “O Rei da Vela”
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Bob Sousa Zé Celso e o marido, Marcelo Drummond
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Bob Sousa -
Garapa - Coletivo Multimídia/Flickr Zé Celso em 2010
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Natalia Bezerra/Flickr -
Reprodução/TV Globo Zé Celso em entrevista ao “Programa Do Bial”, em novembro de 2021
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ullstein bild via Getty Images Montagem de “Os Sertões” em Berlim, em 2005
O ator José Wilker, ao centro, o diretor José Celso Martinez Corrêa, à direita, e elenco no ensaio da peça “O Rei da Vela”
Com dezenas de prêmios no currículo, como APCA e Shell, além de ter dirigido e atuado em peças emblemáticas da dramaturgia nacional, Zé Celso era um dos maiores nomes do teatro brasileiro e o cérebro por trás do Teatro Oficina, uma das mais importantes companhias de teatro do Brasil.
Vida e obra
Zé Celso nasceu em 1937, em Araraquara, interior de São Paulo. Formou-se pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, mas não seguiu a carreira de advogado. O interesse pelas artes existia desde criança, mas foi durante a faculdade de direito que ele passou a estudar métodos de atuação, mais especificamente do russo Constantin Stanislavski, e que conheceu Renato Borghi, com quem, junto a outros colegas, fundaria em 1958 o Teatro Oficina.
A peça de estreia do teatro, “Vento Forte para Papagaio Subir”, aconteceu ainda em 1958 e foi escrita pelo próprio Zé Celso. Mas foi em 1967 que montou seu espetáculo mais emblemático: “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, que, por sua estética e crítica política, é considerado um marco na história do teatro. Foi essa peça que impulsionou o movimento tropicalista, já forte no cinema, nas artes visuais e na literatura, para os palcos. A partir de uma obra modernista, Zé Celso evocou as raízes nacionais e “regurgitou” brasilidades, rompendo com o estilo europeu para levar o jeitinho e a realidade brasileira (com os indígenas, os orixás e o que mais faz o Brasil ser Brasil) aos palcos.
Um ano depois, fez novamente história com a única montagem autorizada por Chico Buarque de “Roda Viva”, na qual instaurou a quebra da quarta parede como a conhecemos hoje. A plateia era colocada dentro do palco e o palco dentro da plateia, da forma mais experimental e disruptiva possível.
Nessa época, quando o Brasil vivia o início do regime militar, o Oficina chamou atenção por suas atuações inovadoras, de forte interação com o público e críticas sociais. Zé Celso foi censurado, preso e torturado e, em 1974, exilou-se em Portugal, onde recompôs o Oficina-Samba e apresentou espetáculos. Em seguida, foi para Moçambique, onde realizou o filme “25”, sobre a independência daquele país, e, em 1978, voltou a São Paulo. Em 1991, retornou à cena em “As Boas”, de Jean Genet. “Os Pequenos Burgueses”, “Os Sertões”, “As Bacantes”, “Na Selva das Cidades” são outras obras que marcaram a carreira do dramaturgo.
Zé Celso havia se casado em junho com Marcelo Drummond, com quem viveu por 37 anos, e, antes de morrer, planejava a adaptação do livro “A Queda do Céu”, “soprado” pelo xamã ianomâmi Davi Kopenawa ao etnólogo francês Bruce Albert.