Por mais que Sofia Vergara tenha tido enorme sucesso na série de comédia Modern Family, a atriz colombiana estava decidida a um dia assumir o papel da implacável traficante de drogas da Colômbia, Griselda Blanco Restrepo.
Mais de 15 anos se passariam até que Vergara tivesse a chance de provar seu talento para o papel. Esta hora chegou agora em janeiro, quando a atriz estrela a minissérie de seis episódios da Netflix, “Griselda” – e é difícil acreditar que este seja seu primeiro papel dramático como atriz.
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“Griselda” é produzida e criada pelo showrunner de “Narcos” e “Narcos: México”, Eric Newman, e abrange a vida da traficante no submundo de Miami nas décadas de 1970 e 80, quando ela ascendeu ao topo da indústria do tráfico dominada por homens.
Em uma entrevista recente à Forbes, Vergara falou sobre como conheceu Blanco em 2006, assistindo a um documentário, quando ainda estava nos primeiros dias de fama com “Modern Family”. Ela conta que se conectou à história por motivos pessoais. “Cresci entre os anos 70 e 90, quando o tráfico estava em ascensão na Colômbia. Eu era parte disso, meu irmão era parte disso. Ele foi morto nos anos 90”, relembra, emocionada, a perda. “Aí ouvi o nome de uma mulher e achei exagero. Nunca tínhamos ouvido falar de uma mulher fazendo parte disso.”
Na época, no entanto, Vergara era classificada apenas como uma atriz na categoria de comédia – extremamente bem-sucedida, inclusive com inúmeras indicações a prêmios e um aumento salarial que a catapultou para o topo da elite de Hollywood. Apesar de seu sucesso, ela ansiava por desafiar suas habilidades de atuação.
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Alguns anos se passaram e a história de Blanco chamou novamente a atenção de Vergara ao ler sobre ela em uma revista, durante um voo. A atriz arrancou as páginas e guardou o artigo, relendo-o várias vezes. Foi então que ela começou a pesquisar sobre Blanco, examinando registros públicos e conversando com pessoas que a conheciam. Ela ficou fascinada.
À Forbes, Vergara disse que teve que encontrar uma maneira de entender Blanco para interpretar esse papel. “Eu estava muito curiosa sobre como alguém se torna assim como mulher.”
Ela também percebeu que podia se identificar com Blanco de algumas maneiras: “Eu sou colombiana como ela. Sou mãe como ela… uma imigrante. Eu faria qualquer coisa pela minha família. Então, havia muitas coisas que no início eu podia entender. Comecei a me identificar com ela, mas tive que me conter e dizer, ‘Espere, não esqueça que essa mulher se tornou um monstro.’ Então, havia coisas que eu admirava nela… coisas que ela fez sozinha ao criar quatro filhos. Ela não tinha educação, fugiu do abuso, de uma infância horrível. Era impossível naquela época. Esse negócio era apenas para homens”.
Foram essas características que deixaram Vergara interessada em Griselda. Mas com um porém: “Eu sabia que não poderíamos romantizá-la ou torná-la uma heroína porque ela não era. No final, Griselda Blanco acabou fazendo coisas horríveis e prejudicando sua família, seus filhos, e tudo ao seu redor.”
Blanco era uma hábil empresária acusada de realizar coisas deploráveis. Seus inimigos não viviam muito tempo após cruzar seu caminho. Ela supostamente matou centenas de pessoas durante seu tempo como senhora do tráfico e ganhou alguns apelidos: “A Madrinha da Cocaína” e “A Viúva Negra”.
Também uma empresária perspicaz, Vergara sabia que precisava se unir às pessoas certas para contar essa história. Ela pensou em Newman. Sentado ao lado da atriz em conversa com a Forbes, ele relembra sobre a primeira reunião deles há quase uma década, em sua casa: “Saí daquela primeira reunião em 2015 acreditando que não apenas ela poderia fazer isso, mas que ela tinha que fazer”, disse Newman.
“Ela estava determinada. Esse é sempre o melhor ponto de partida quando alguém vai assumir um risco criativo como esse, porque, claro, é um risco. Quando você é conhecido por uma coisa e ousa fazer algo diferente, sempre há o risco de que não vá funcionar.”
Além de enfrentar o drama em vez da comédia, Vergara teve que acertar o visual. Ela passou mais de três horas se preparando a cada dia de filmagem. A chefe do departamento de maquiagem, Angela Nogaro, e sua equipe tiveram muito trabalho. Próteses faciais, perucas e maquiagem foram necessários para deixá-la pronta para entrar no personagem.
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Dentes falsos eram parte da rotina, o que Vergara disse ser uma das coisas mais difíceis de se acostumar. Ela decidiu abraçar o desafio. “Foram um milhão de coisas: o cabelo, o nariz, as sobrancelhas. Tive que esconder meu corpo com pano para não parecer exatamente comigo ou Gloria Pritchett, minha personagem de Modern Family que todo mundo viu por 11 anos. Eu estava tentando desaparecer e me tornar essa mulher. Foi muito trabalho, foi desconfortável, mas valeu a pena. Eu ia para o set todos os dias cansada, mas animada.”
“A comédia é tão difícil, e pessoas que são ótimas nisso como Sofía fazem parecer fácil”, afirma Newton. “Fiquei emocionado que ela me escolheu e foi uma honra fazer parte dessa incrível transformação que vai surpreender as pessoas. Nunca tive uma única dúvida de que ela poderia fazer isso.”
“Eu tive!”, ela ri. Quando perguntada sobre a trajetória de sua carreira no futuro, Vergara diz que está aberta. “Eu tento não planejar muito à frente. Gosto de ir jogando conforme as coisas acontecem.”