Nossa primeira participação nas feiras de arte Frieze foi na edição em Nova York de 2016, quando montamos um estande com uma exposição solo de Abraham Palatnik, que na época ainda estava vivo. A partir de 2021, decidimos também participar da Frieze Los Angeles, na Califórnia, que ocorre anualmente nesta época e é a maior e a mais importante feira de arte da costa oeste americana. Esta estratégia nos permite divulgar a Arte Brasileira nas costas leste e oeste dos Estados Unidos, país com maior número de colecionadores.
Em 2021, na nossa primeira experiência na Frieze LA, levamos a obra fotográfica de dois artistas, o francês JR e a brasileira Virgínia de Medeiros, ambos focados em temas de cunho social com conceitos bem diferenciados entre si. Na edição seguinte, apresentamos o trabalho visionário e ecológico de Amelia Toledo. No ano passado, montamos uma coletiva com um grupo de nossos artistas, entre eles, Bruno Dunley, Lucia Koch, Jaime Lauriano, Manoela Medeiros, Fabio Miguez, Vik Muniz e Amelia Toledo, em diálogo com obras de Tomie Ohtake.
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Este ano, o evento ocorre em uma grande estrutura efêmera ou pop-up, como se diz atualmente. Projetado pelo arquiteto Kulapat Yantrasast, fundador do badalado escritório WHY de Los Angeles, o pop-up gigante abriga 95 galerias top do mundo todo em um espaço desativado do Aeroporto de Santa Monica, o mais antigo de L.A., de onde voaram pioneiros da aviação norte-americana como Amelia Earhart e o milionário excêntrico Howard Hughes, que também foi cineasta na primeira metade do século 20. Nesta edição, decidimos expor uma individual somente com as pinturas em óleo sobre tela de linho da artista carioca Maria Klabin.
Uma das questões inerentes à Arte é o fato de a obra de arte exigir atenção por parte de nós, espectadores, para que, em seguida, possamos formular uma série de questionamentos e, assim, apreciar com maior profundidade seu tema, suas cores, soluções e indagações que se manifestam cromaticamente diante de nossos olhos, instigando nossa sensibilidade. Os estudiosos explicam que se trata de um impulso psicológico – e por que não, de energia espiritual? – que nos obriga naquele mágico momento de fruição a refletir sobre as relações da Arte com a Vida e da Vida com a Arte.
Esse questionamento está mesclado nas camadas de tinta de Maria Klabin. A pintura de Maria é esteticamente bela, tecnicamente impecável, cromaticamente vibrante. Para aqueles que preferem não ir além do prazer estético que sua pintura oferece, suas telas em pequeno e grande formatos apresentam uma experiência plástica de grande beleza. No entanto, aos que curtem se aprofundar e ir em busca da intenção da artista, sua pintura instiga, acima de tudo, um sentimento de intimidade, trazendo à tona um leque de emoções fluidas e uma sucessão de desejos silenciosos. “Tenho a sensação de que a pintura sabe mais de mim, do que eu dela”, ela costuma dizer.
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O processo criativo da artista brota de um voyerismo peculiar que seu olhar pratica sobre seu ambiente diário no qual medita sobre experiências pessoais transmutadas nos temas silenciosos que tingem suas telas. Maria parece até seguir o raciocínio do grande escritor russo Tolstói, que comparava o exercício da escrita à pintura, “Se queres ser universal, começa por pintar tua própria aldeia”. Ela demonstra admirável domínio do pincel ao retratar figuras femininas lânguidas, em repouso, tracejadas por cores intensas, contrastantes, que fazem pensar no cromatismo fauvista dos amigos Van Gogh e Gauguin.
Outro desafio que seu pintar enfrenta com louvor é a reprodução do fenômeno visual da translucidez que exercita em objetos como garrafas d’água PET e no vidro da mesinha de seu ateliê no Jardim Botânico, no Rio, bem como quando reproduz a transparente fluidez da água com peixinhos nadando em graciosa coreografia, agitando pequenos redemoinhos que remetem à tradicional pintura japonesa. O movimento através da dança, que ela exercita com seu próprio corpo desde muito jovem, é outra área de interesse que a pintora leva às telas. Pintar bem, sabe-se, não é uma arte fácil, pintar o movimento e a transparência, mais ainda.
Por fim, não posso deixar de mencionar suas paisagens luxuriantes, misteriosas, com árvores frondosas, folhagem abundante e flores tropicais, vermelhas, sensuais. Maria está feliz em mostrar esse novo corpo de trabalho em Los Angeles, cidade em que morou, conhece bem, e pela qual sente afinidade.
Maria Klabin / Frieze Los Angeles, California
29 de fevereiro a 3 de março de 2024
Galeria Nara Roesler / Estande C2
Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) [email protected]
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
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Instagram: @galerianararoesler
http://www.nararoesler.com.br/
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