O Dia Mundial da Terra é comemorado nesta segunda-feira (22) e convida à reflexão sobre como cada um pode contribuir para a proteção do meio ambiente. No que diz respeito ao consumo de roupas, o brasileiro parece estar consciente da importância disso: recentemente, uma pesquisa da Union + Webster, divulgada pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), apontou que 87% das pessoas do país preferem comprar de marcas sustentáveis.
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Algumas grifes contam com veias eco-friendly, ou seja, pensam no bem estar do meio ambiente ao fabricar peças que irão para o seu guarda-roupa. Seja com uma seleção responsável dos materiais utilizados ou escolhendo maneiras de produzir as peças que reduzam os impactos ambientais, elas são essenciais para a sustentabilidade se expandir para o mundo da moda.
Esse foi, inclusive, o mote da 57ª São Paulo Fashion Week. O tema “Sintonia” fala sobre o movimento de entrar em alinhamento com novos tempos, de acordo com Graça Cabral, cofundadora do evento. A ideia era questionar o processo de produção das roupas.
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Pensando nisso, listamos cinco grifes brasileiras que produzem suas coleções focando em políticas sustentáveis. Assim, você aproveita o mês da Mãe Terra para consumir produtos nacionais, exclusivos e que se preocupam com o nosso futuro.
Confira 5 grifes brasileiras e sustentáveis na galeria abaixo:
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Thiago Brito Catarina Mina
A grife Catarina Mina produz roupas e acessórios artesanais desde 2015, sob comando da fundadora Celina Hissa. Desde 2022, a marca conta com um núcleo responsável pela coleta de dados, números e histórias de todos os projetos, pensando em analisar o impacto das ações da Catarina Mina em comunidades do Ceará, principal conjunto de artesãs da grife. “Eu acho que, hoje em dia, todo mundo precisaria andar de mãos dadas com a sustentabilidade. A gente está chegando em um novo século no qual a mudança do mundo depende da sustentabilidade”, disse Celina em entrevista à Forbes.
A grife foca, principalmente, em duas matérias primas: a palha de carnaúba e a fira de croá. O processo de beneficiamento da palha de carnaúba é 100% manual e feito com uma matéria-prima de baixo impacto e biodegradável, sem uso de cola. Na fibra de croá, como a planta não é retirada por completo, apenas uma poda, o processo se torna não prejudicial ao meio ambiente. Além disso, essas matérias-primas, após tempos de consumo, são biodegradáveis e se voltam para a natureza de forma natural.
Além disso, entre os 450 artesãos cadastrados ao longo da história da Catarina Mina, 99% são mulheres. Em 2023, 285 artesãos foram engajados em produção ativa, sendo que, desse grupo, 94,5% eram mulheres. O investimento no artesanato, além de valorizar um saber guardado de mãe para filha como herança, também impacta nos sonhos e nas possibilidades para elas e suas futuras gerações. “Antes, eu olhava muito para o impacto que a gente causava no sentido de marcar a nossa cadeia. E hoje eu vejo que, para além disso, também é sobre marcar e inspirar outros negócios”, conclui Celina.
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Bob Wolfeson Martha Medeiros
A estilista Martha Medeiros, reconhecida por sua dedicação à renda feita à mão, resgatou e valorizou essa tradição, com grande demanda por essa técnica artesanal. “Quando começamos, as rendeiras moravam em sítios e, antes de chegarmos às rendeiras, elas vendiam a renda aos atravessadores, que passavam nos sítios e levavam até a cidade principal. Quando começamos a trabalhar, fornecemos a linha para ter a matéria-prima de qualidade e precisávamos de uma mão de obra sustentável”, conta Gélio Medeiros, CEO da grife e filho de Martha.
E continua: “Chamei o SEBRAE porque queria um selo para o trabalho com as rendeiras. Tirei todos os intermediários do caminho e fui direto às rendeiras, pois queria fazer um trabalho sustentável e acho que ter tantos intermediários e não ter um trabalho valorizado não é sustentável a longo prazo. Queria que o SEBRAE me apoiasse neste trabalho. Eles concordaram, mas disseram que eu teria que pagar o triplo do que os atravessadores pagam. Eu disse que não tinha problema, eu posicionaria meu produto como um produto de luxo. Paguei o triplo”.
Atualmente, além da moda prêt-à-porter e dos prestigiados vestidos de noiva – para os quais abriu um ateliê exclusivo em São Paulo em 2015 -, a marca de Martha Medeiros também oferece uma linha casual, com peças para o dia a dia e eventos informais, mantendo o mesmo padrão de qualidade e detalhes presentes em seus luxuosos vestidos de festa.
“O negócio já nasceu sustentável, porque na hora em que passei a pagar o triplo, dei uma vida digna a essas pessoas. Comecei a mudar o ambiente socioeconômico da região. Onde você via um negócio que estava acabando, você vê as mulheres com outro gás para fazer a renda. Quando olhamos a sustentabilidade como um todo, buscamos usar fornecedores homologados que tratam os resíduos corretamente. Nossa equipe é toda CLT, com plano de saúde, seguro de vida, vale alimentação, benefícios odontológicos e cesta básica. Tudo isso é essencial para ser sustentável, e vemos isso como uma vantagem competitiva”, conta Medeiros.
Gélio acredita que a moda e a sustentabilidade podem andar de mãos dadas e conta que, quando decidiu passar a ter reuso de água em sua fábrica, a conta de água caiu 70%. “Eu vejo muitas empresas que poderiam fazer mais. Às vezes, você ajuda a ser sustentável e economicamente bom para a empresa. É uma questão de perenidade, a empresa que não for sustentável em seu DNA não vai perdurar. Não é apenas uma questão de patrocinar uma ONG para dizer que é sustentável, é algo que precisa estar na essência da empresa”, conclui.
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Pedro Loreto Lenny Niemeyer
Em 1979, Lenny Niemeyer deu início à sua trajetória como estilista, confeccionando biquínis para renomadas grifes como Fiorucci, Bee, Richards e Andrea Saletto. Dez anos mais tarde, em 1991, ela optou por empreender, lançando sua própria marca e inaugurando sua primeira loja em Ipanema, no Rio de Janeiro. As criações da estilista são fortemente influenciadas pelo estilo de vida carioca, abrangendo não apenas biquínis e maiôs, mas também moda pós-praia, englobando roupas, bolsas e calçados.
O cerne da marca reside no propósito de oferecer beachwear para uma mulher sofisticada, que almeja conforto e feminilidade, independentemente das tendências vigentes – além de se preocupar com a sustentabilidade da marca. “Cerca de 50% de nossa produção se classifica como BIOWEAR, produtos compostos de poliamida e viscose de origens certificadas. Além disso, temos uma linha de acessórios feitos com fibras naturais, a linha FEITO NO BRASIL, onde trabalhamos com artesãs de diversas partes do país. Essa linha, além de contar com a extração das fibras em escala manual, tem a sua produção ancorada com associação de mulheres, como a de Barreirinhas com a fibra do Buriti, e Cooperafis, com a fibra do Caroá”, conta Telma Azevedo, diretora de estilo da grife.
Lenny acredita que minimizar impactos na cadeia industrial é a grande preocupação da marca – não apenas pensando na obtenção das matérias-primas mais sustentáveis, e sim em toda a cadeia têxtil e setores governamentais. A grife se preocupa com melhores legislações, apoio para desenvolvimento do setor com pesquisa para evolução de novas alternativas de produção e fiscalizações mais assertivas.
Niemeyer, que também é CEO e diretora criativa da marca homônima, acredita que buscar atitudes sustentáveis e conscientes dentro da linha de produção é um caminho natural das marcas. “Na minha empresa tenho atenção a obtenção de matérias-primas certificadas, cuidado no descarte dos resíduos industriais, bem como na relação de trabalho e no bem estar dos meus colaboradores. Todos os profissionais trabalham no mesmo prédio e nas mesmas condições de trabalho, independente da área”, conclui.
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Divulgação Flavia Aranha
A grife Flavia Aranha foi fundada em 2009 com o objetivo de oferecer uma alternativa ao mercado da moda. A empresa redesenhou toda a sua cadeia produtiva, incorporando conhecimentos e lógicas ancestrais e conectando essas práticas com processos de inovação. No entanto, a empresa reconhece que não é completamente sustentável. A fundadora, que dá nome à marca, acredita que a sustentabilidade plena não é possível dentro do capitalismo, pois o principal problema, que é a desigualdade social, é o eixo de todos os sintomas que buscam solucionar.
Portanto, a empresa se considera parte de uma geração de negócios comprometida com a possibilidade de um novo desenho do sistema econômico, cujo objetivo é ser uma sociedade que se sustenta, se suporta e que garante a dignidade para todos os seres do planeta. “Nossa roupa é viva, ou seja, não usamos petróleo. Todos os materiais são naturais, a maioria orgânicos e muitos são também agroecológicos, de modo que geram impacto positivo e uma extensa cadeia de fornecedores que vão de agricultores a costureiros, passando por artesãos em todas as regiões e biomas do Brasil”, conta Flavia.
E continua: “Ainda, esse trabalho gera um impacto positivo na regeneração dos nossos solos é uma alternativa às práticas de monocultura que, obviamente, causam a morte das nossas terras. Destaco nosso trabalho com o algodão agroecológico da Paraíba em parceria com a Rede Borborema, como um caso de sucesso nesse sentido. Nosso trabalho com artesanato e corantes naturais também são muito fortes para consolidar essa alternativa para o mercado da moda.”
Aranha acredita que a sustentabilidade precisa andar de mãos dadas com todos os negócios, não apenas com a moda. A estilista acredita que toda a sociedade está interligada de alguma forma, e que a estratégia fundamental para o avanço na direção de um mundo plenamente sustentável é o investimento na pesquisa e na inovação. “Não existe planeta B. Todas as empresas e negócios deveriam estar trabalhando para o enfrentamento da crise climática e redesenho do nosso sistema econômico na direção das reduções de desigualdade e prosperidade de todos os seres. Só assim poderemos garantir a vida no planeta no longo prazo. Infelizmente a sustentabilidade ainda é vista como um “atributo” e é usada como estratégia de marketing superficial que esvazia a pauta e desestimula a transformação real”, finaliza.
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Taís Valença Reptilia
A marca Reptilia tem conquistado destaque desde 2019, quando recebeu o convite para integrar a Casa de Criadores, um dos eventos mais importantes e tradicionais da moda brasileira. A marca questiona e reflete sobre o tempo e os contrastes atuais, convidando o público a compartilhar um pouco desse processo.
Em 2018, a Reptilia recebeu o Prêmio Sesi-ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), reconhecimento concedido pela ONU a empresas destacadas por questões como desperdício zero, cuidados com o meio ambiente e a comunidade global. “Eu acredito que a preocupação com a sustentabilidade tem que fazer parte de qualquer marca no mundo hoje, independente do tamanho, setor ou segmento. O compromisso com sustentabilidade em todas as etapas têm que ser um modus operandi de todas as rotinas de uma empresa, principalmente quando se produz produtos físicos”, disse Heloisa Strobel, fundadora da Reptilia.
Na Reptilia, a produção de peças segue uma política de desperdício zero, diferenciando-se da média da indústria têxtil convencional, em que cerca de 15% da matéria-prima é descartada durante o corte. Todo resíduo é reaproveitado no design de novas peças, especialmente na linha Fragmentos, que consiste em peças criadas a partir desses restos. O design dessas peças, conhecido por sua estética única e detalhada, é premiado e requer até 10 dias para ser finalizado.
A marca é conhecida por sua abordagem proativa na utilização de tecidos inovadores, o que se reflete em suas coleções diversificadas. Cada peça é cuidadosamente pensada, desde a seleção dos materiais até a pesquisa de sua origem, visando sempre a experiência do usuário final. Um exemplo disso é a coleção Indelével, apresentada na SPFW, que destacou um jeans feito 100% com algodão reciclado, um produto inovador da Vicunha. Esse tecido é produzido a partir de sobras de algodão descartadas durante o corte em grandes indústrias, alinhando-se perfeitamente com a política de desperdício zero da Reptilia. Os retalhos são coletados, separados, desfibrados e fiados novamente, resultando em um novo tecido sustentável.
“A moda é uma cadeia muito segmentada, pois envolve desde a fiação do fio, a tecelagem, o corte, a costura, até a finalização. Em cada uma dessas etapas é preciso questionar como os processos podem ser otimizados e melhorados, como podemos reduzir os impactos de cada atividade e gerar ações benéficas com elas. O designer, o estilista, não deve se ater somente aos assuntos estéticos ou técnicos que envolvem uma peça de roupa. Ele precisa solucionar as questões de produção, de como cada etapa é feita, quais são os resíduos gerados, quais são as pessoas e os ambientes envolvidos e como a sua criação impacta em tudo isso”, finaliza Heloisa.
Catarina Mina
A grife Catarina Mina produz roupas e acessórios artesanais desde 2015, sob comando da fundadora Celina Hissa. Desde 2022, a marca conta com um núcleo responsável pela coleta de dados, números e histórias de todos os projetos, pensando em analisar o impacto das ações da Catarina Mina em comunidades do Ceará, principal conjunto de artesãs da grife. “Eu acho que, hoje em dia, todo mundo precisaria andar de mãos dadas com a sustentabilidade. A gente está chegando em um novo século no qual a mudança do mundo depende da sustentabilidade”, disse Celina em entrevista à Forbes.
A grife foca, principalmente, em duas matérias primas: a palha de carnaúba e a fira de croá. O processo de beneficiamento da palha de carnaúba é 100% manual e feito com uma matéria-prima de baixo impacto e biodegradável, sem uso de cola. Na fibra de croá, como a planta não é retirada por completo, apenas uma poda, o processo se torna não prejudicial ao meio ambiente. Além disso, essas matérias-primas, após tempos de consumo, são biodegradáveis e se voltam para a natureza de forma natural.
Além disso, entre os 450 artesãos cadastrados ao longo da história da Catarina Mina, 99% são mulheres. Em 2023, 285 artesãos foram engajados em produção ativa, sendo que, desse grupo, 94,5% eram mulheres. O investimento no artesanato, além de valorizar um saber guardado de mãe para filha como herança, também impacta nos sonhos e nas possibilidades para elas e suas futuras gerações. “Antes, eu olhava muito para o impacto que a gente causava no sentido de marcar a nossa cadeia. E hoje eu vejo que, para além disso, também é sobre marcar e inspirar outros negócios”, conclui Celina.