A Universidade de Edimburgo, onde Peter Higgs ocupou uma cadeira de professor por muitos anos, disse que ele faleceu pacificamente em casa nesta segunda-feira (8).
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“Peter Higgs foi uma pessoa notável, um cientista verdadeiramente talentoso cuja visão e imaginação enriqueceram o conhecimento sobre o mundo que nos cerca”, disse o Professor Sir Peter Mathieson, reitor e vice-chanceler da Universidade.
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Higgs se descreveu como “incompetente” no laboratório de física em que estudava e inicialmente preferia matemática e química. Mas inspirado pelo físico quântico Paul Dirac, que frequentou a mesma instituição, ele passou a se especializar em física teórica. Posteriormente, o que ficou conhecido como o “bóson de Higgs” (ou “partícula de Deus) resolveria o enigma de onde várias partículas fundamentais obtêm sua massa: interagindo com o “campo invisível”que permeia o espaço.
Essa interação, conhecida como o mecanismo “Brout-Englert-Higgs”, rendeu a Higgs e ao belga François Englert o Prêmio Nobel de Física em 2013. O colaborador de Englert, Robert Brout, faleceu em 2011. “Para mim, pessoalmente, é apenas a confirmação de algo que fiz há 48 anos, e é muito satisfatório ser provado certo de alguma forma”, disse o cientista britânico à Reuters na época. “No começo, não tinha expectativa de estar vivo quando isso acontecesse.”
“Uma coisa incrível”
Em 1964, o primeiro artigo de Higgs sobre o modelo foi rejeitado por uma revista acadêmica de física no CERN por ser “sem relevância para a física”. Seu artigo revisado, embora publicado semanas após o de Englert e Brout, foi o primeiro a prever explicitamente a existência de uma nova partícula.
“Durante um fim de semana, gradualmente percebi que sabia de duas coisas que tinham que ser reunidas”, ele afirmou. “Eu tive que voltar ao meu escritório na segunda-feira e verificar se não tinha cometido um erro sobre isso.”
A visão tentadora prometia preencher uma lacuna no “Modelo Padrão” – a estrutura teórica básica da física – se apenas a existência da partícula pudesse ser comprovada. Por quase três décadas, físicos do CERN e do Fermilab em Chicago replicaram o “Big Bang” colidindo partículas, esperando vislumbrar o bóson de Higgs nas miniexplosões resultantes. O grande Colisor de Hádrons do CERN finalmente se mostrou o martelo necessário para quebrar a casca e, em 2012, dois experimentos lá encontraram independentemente o bóson de Higgs.
Englert e Higgs estavam na sala de conferências lotada do CERN para ouvir o anúncio da descoberta, enquanto centenas de milhares assistiam online. “Alcançamos um marco em nossa compreensão da natureza”, disse o diretor-geral do CERN, Rolf Heuer, sob aplausos. Higgs, claramente emocionado, com os olhos marejados, disse aos seus colegas pesquisadores: “É uma coisa incrível.”
“Que prêmio”
O bóson de Higgs completou o Modelo Padrão, mas compreendê-lo totalmente é um trabalho em progresso. Sua descoberta permitiu que teóricos voltassem sua atenção para a vasta parte do universo que permanecia inexplicável, bem como ideias esotéricas como a possibilidade de universos paralelos. Ateu, Higgs detestava o apelido “a partícula de Deus”, que os redatores frequentemente atribuíam ao bóson que levava seu nome.
Em 1962, Higgs se casou com Jody Williamson, uma linguista americana e ativista pelo desarmamento nuclear, que faleceu em 2008. Eles tiveram dois filhos. Higgs era modesto sobre suas conquistas e tímido diante da mídia. Em uma entrevista no site do Prêmio Nobel, ele contou como, na manhã em que o anúncio do Prêmio Nobel de 2013 estava previsto, ele havia antecipado a atenção da mídia e tomado medidas para evitá-la. Ele saiu de casa em Edimburgo, onde era professor emérito na universidade, e foi dar um passeio pelo porto e depois almoçar e visitar uma exposição de arte. A caminho de casa, um antigo vizinho o parabenizou pelo prêmio. “Eu disse: ‘Que prêmio?'” ele lembrou, rindo.