Parte da intenção da moda é que os estilistas possam liberar sua criatividade, vivências e valores nas peças que vão para um manequim ou passarela. Essa liberdade poética faz com que não necessariamente as roupas apresentadas para o público sejam convencionais, intrigando o espectador que vê o espetáculo que é um desfile de moda. Foi algo que não faltou na São Paulo Fashion Week N57, em que muitas marcas se utilizaram do “fashion hacking” para transmitir as intenções do designer de moda para os trajes do evento.
Depois de viralizar na Semana de Alta-Costura de Milão em 2023, o termo “fashion hacking” ganhou os holofotes do público. Mas, para aqueles que não acompanharam a tendência, ele pode soar como mais um entre as inúmeras expressões dos amantes da moda.
A seguir, entenda o que é o fashion hacking e confira marcas que aproveitaram as passarelas da SPFW “hackeando” a moda.
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O que é fashion hacking?
Fashion hacking, também conhecido como “hacking de moda”, é uma tendência criativa que envolve a customização e modificação de roupas, acessórios e objetos relacionados à moda de maneira única e inovadora. A prática se destaca por sua abordagem não convencional, muitas vezes desafiando as normas e convenções da indústria da moda.
O termo ficou mais conhecido depois do desfile da grife Viktor&Rolf, que apresentou vestidos clássicos colocados de lado, de ponta cabeça e até atravessados no corpo das modelos. Essas são algumas das várias técnicas usadas pelos fashion hackers, que podem incluir costura, corte, colagem, tingimento e até mesmo a integração de tecnologia em suas criações.
O objetivo é transformar peças comuns em itens exclusivos, que reflitam a personalidade e estilo de quem as criou – enquanto também se quebra padrões.
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Quem entende do assunto é a marca gaúcha Fauve. “A gente pode ver muitos volumes, muitas formas…por exemplo, com materiais que não são tecidos. Garimpamos até achar o que me fornece a estrutura que eu preciso. É uma grande mistura com as peças em jeans, curadoria de botões, de lavagem…Cada peça é muito única”, diz Clara Pasqualini, estilista e diretora criativa da label.
Além de promover a individualidade e a auto expressão, o fashion hacking também pode ser uma forma sustentável de moda, já que incentiva a reutilização e a reciclagem de peças antigas ou descartadas. Essa abordagem criativa e disruptiva tem conquistado cada vez mais adeptos.
O fashion hacking na SPFW N57
Renata Buzzo mergulhou na exuberância da floresta, trazendo para suas peças elementos que remetem à natureza. A coleção apresentou apliques que imitavam heras, envolvendo delicadamente o corpo das modelos. O jacquard, em tons de verde e vinho, foi habilmente desenhado com folhas, reforçando a temática natural. Destaque também para as flores, presas de forma elegante em fitas longas que adornavam uma pelerine.
A Fauve fez sua estreia com a coleção “Prelúdio”, apresentando um desfile que evocava os primeiros passos, com modelos caminhando lentamente, em uma homenagem aos ateliês dos costureiros do passado. Clara Pasqualini explorou o contraste entre pesos, pesquisando materiais leves e pesados. O tule levíssimo contrastava com uma pelúcia mais rígida, enquanto os acessórios feitos de madeira e porcelana adicionaram uma camada adicional de rigidez à coleção.
AZ Marias apresentaram um desfile diferenciado, em seu quarto ato de uma ode aos elementos: o grand finale foi a representação do ar. Quase todos os modelos postos na passarela eram leves e com recortes soltos. Muitas blusas e saias tinham o formato e nuvens, enquanto outras traziam a representação de nebulosas nas mochilas de plástico recheadas com pelúcia. Muito jeans, retalhos e rendas foram perfeitamente unidos a um espetáculo de monólogos e danças.
A coleção de Lino Villaventura continua a destacar-se pela base de nervuras armada com arame, que confere tridimensionalidade às peças. Essa técnica é evidente em vestidos curtos e longos, jaquetas, casacos compridos e até nos looks masculinos. Além disso, a coleção apresentou várias novidades, como o vestido plissado assimétrico usado por Marina Dias, os recortes de tecido bordado com paetês em Carmelita e o trabalho de paetês multicoloridos bordados de forma a lembrar vitrais.
A marca Maria Bitu revelou uma clara inspiração na natureza, nos povos originários e nas tradições artesanais, incorporando até mesmo elementos das pedras locais em suas técnicas de criação para os vestidos e conjuntos desta temporada. O tingimento com casca de romã sobre linho transparente evoca as tonalidades do calcário laminado em amarelo, encontrado na região. Os grandes fuxicos em forma de flor são uma homenagem às plantas angiospermas, cuja descoberta na área foi marcante. Enquanto isso, os micro paetês feitos de bioplástico, utilizando glicerina, pó de café e óleo de girassol, estabelecem uma conexão única com os fósseis.