O sucesso da nova série queridinha da Netflix, “Bebê Rena”, desencadeou uma onda de consequências não intencionais, provocando debates sobre exploração e os limites da inspiração na vida real.
Usando detalhes da história como pistas, detetives da internet tentaram rastrear as pessoas reais que inspiraram os personagens, enquanto os temas do programa geraram conversas sobre abuso sexual e os efeitos duradouros do trauma.
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“Bebê Rena” é baseado em uma história real?
“Bebê Rena” é baseado nas experiências do criador Richard Gadd, que transformou seu aterrorizante encontro com um perseguidor em um fenômeno cultural. A série da Netflix começa com um cartão de título enquadrando o drama como uma “história real”, mas Gadd explicou, depois do lançamento, que sua intenção era capturar a “verdade emocional” de sua experiência, não um “perfil factual”.
Na série, Gadd interpreta a si mesmo como um personagem chamado Donny Dunn, que desenvolve uma amizade improvável com uma mulher mais velha, chamada “Martha”, interpretada por Jessica Gunning. Martha é retratada como obsessiva e desequilibrada, enviando a Donny mais de 41.000 e-mails e mais de 350 horas de mensagens de voz. A série mostra Donny lutando para se libertar da obsessão de Martha enquanto enfrenta seu próprio trauma, causado por repetidos abusos sexuais nas mãos de um mentor mais velho.
A série foi aclamada por explorar as nuances da situação, já que Martha não é retratada como uma vilã total, mas como uma figura equivocada e simpática que, em certa medida, se assemelha ao Donny. “Perseguição e assédio são uma forma de doença mental”, disse Gadd em uma entrevista de 2019 ao The Independent. “Seria errado pintá-la como um monstro, porque ela está doente e o sistema falhou com ela”. Na época, Gadd estava contando sua história no palco, como uma performance solo no Festival de Edimburgo.
Embora poucos pudessem prever que a série da Netflix se tornaria tão bem-sucedida, os críticos argumentaram que os esforços para proteger a identidade da “verdadeira Martha” foram insuficientes.
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Fãs de “Bebê Rena” acharam rapidamente a “verdadeira Martha”
A Netflix disse que “todas as precauções” foram tomadas para proteger a identidade da verdadeira Martha, e Gadd afirma ter “ido ao extremo para disfarçar [quem é a real Martha] que duvido que ela se reconheça no programa.” Mas detetives da internet descobriram que as peculiaridades gramaticais das postagens na rede social de Martha em “Bebê Rena” correspondem às de Fiona Harvey, uma mulher de 58 anos de Aberdeenshire, no Reino Unido.
Nem a Netflix, nem Richard Gadd, confirmam Harvey como a “verdadeira Martha”, mas a mulher se identificou publicamente após ser vítima de doxxing (a prática virtual de pesquisar e transmitir dados privados sobre um indivíduo), aparecendo no programa Piers Morgan Uncensored para contar seu lado da história. Os espectadores notaram sua semelhança impressionante com Martha e maravilharam-se com a precisão da atuação de Gunning.
Harvey admitiu sentir-se “um pouco usada” e ameaçou tomar medidas legais contra a plataforma de streaming. Os detetives da internet não se limitaram à Martha — vários homens foram acusados de serem o “verdadeiro Darrien” de “Bebê Rena”, que Gadd retrata como uma figura sênior na indústria do entretenimento que o manipulou e o estuprou.
Com um story em seu Instagram, Gadd implorou aos fãs que parassem de investigar, escrevendo: “Pessoas que amo, com quem trabalhei e admiro, incluindo Sean Foley, estão sendo injustamente envolvidas em especulações. Por favor, não especulem sobre quem poderiam ser as pessoas reais. Esse não é o objetivo do nosso programa.”
Embora a honestidade crua e implacável da escrita de Gadd seja o segredo por trás do sucesso da série, muitos se sentiram desconfortáveis com a facilidade e velocidade com que os detetives da internet rastrearam Harvey.
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O que aconteceu com a “verdadeira Martha”?
A entrevista de Piers Morgan com Fiona Harvey foi vista mais de 12 milhões de vezes no YouTube. A conversa trás uma sensação desconfortável ao assistir, Harvey estava claramente despreparada, dando respostas contraditórias às perguntas de Morgan.
Em um ponto, Harvey se gaba de sua “memória fotográfica”, mas afirma não se lembrar das notas que tirou em seu diploma de Direito ou do número exato de e-mails que enviou a Gadd.
Ela afirmou ter se encontrado com Gadd “duas ou três vezes”, mas negou firmemente persegui-lo ou ser condenada à prisão. Ela descreveu Gadd como “psicótico”, “homossexual” e “obcecado” por ela; algumas de suas citações se transformaram em memes no TikTok.
Depois da entrevista, Piers Morgan confirmou que busca uma entrevista com Richard Gadd. O ator, no entanto, parece improvável de aceitar o convite. Ele disse ao The Hollywood Reporter: “Acho que nunca comentarei sobre isso novamente”. Harvey agora foi acusada de enviar quase 300 e-mails abusivos a Sir Keir Starmer, líder do partido Trabalhista britânico, enquanto vivia em seu distrito eleitoral.
“Bebê Rena” inspirou conversas sérias
As consequências de “Bebê Rena” não foram de todas ruins. O programa também gerou discussões sérias e reflexivas sobre os efeitos duradouros do trauma, perseguição e abuso sexual.
O número de vítimas ajudadas pela National Stalking Helpline disparou desde o lançamento da série, com a oficial de política da linha de ajuda, Tallulah Belassie-Page, creditando a história pelo aumento da conscientização.
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“Programas como ‘Bebê Rena’ fazem um ótimo trabalho em aumentar a conscientização sobre o crime de perseguição, particularmente para vítimas masculinas que não se sentem empoderadas para procurar e obter apoio”, disse Tallulah ao The Mirror.
A instituição de caridade focada em agressão sexual masculina, “We Are Survivors”, registrou um aumento de 80% em “primeiros chamados”, que é quando o homem procura-os pela primeira vez para falar sobre seu trauma. A instituição de caridade postou uma captura de tela de “Bebê Rena” no Instagram e revelou que muitos que ligaram mencionaram o programa como parte de sua decisão de procurar ajuda.
Em que Richard Gadd está trabalhando agora?
Richard Gadd parece determinado a seguir em frente. O ator disse ao THR sobre suas ambições de dirigir um filme depois de terminar sua nova série de drama para a BBC, “Lions”, que aborda a vida de dois irmãos disfuncionais. Desta vez, Gadd pretende ficar fora dos holofotes.
“Quero que ‘Lions’ exista como uma peça de arte, como uma obra sem meu reconhecimento repentino atrapalhando, por isso vamos escalar outras pessoas, e não eu para os papéis principais”, disse Gadd. E completa: “Todas as coisas que fiz têm uma verdade emocional, mas isso não é baseado na minha vida de forma alguma.”