Em 1982, o cineasta Francis Ford Coppola, diretor de “O Poderoso Chefão”, fez um alerta sobre a arte, disse: “You can’t be an artist and be safe.” Ou seja, impossível ser artista e permanecer no terreno da segurança. Disse ainda sobre o artista: “É uma perda de tempo não perseguir seu ideal máximo, mesmo quando se arrisca perder tudo”.
De uma certa maneira, a frase representa a filosofia da paulista Lydia Okumura (n. 1948), que nesse momento expõe “A imaterialidade em tudo”, em nosso QG na avenida Europa. Abrangendo cinquenta anos da artista em trinta obras, a mostra panorâmica está sendo apresentada simultaneamente em conjunto com a nova galeria de São Paulo, Martins&Montero, instalada em uma bonita casa no Jardim América. Ambas exibem composições abstratas em séries de pinturas, esculturas e instalações, produzidas nos anos 70 aos anos 90, deste nome estelar da Arte Brasileira, há muitos anos vivendo em Nova York, mas ainda pouco conhecido no Brasil. “Acreditamos que a obra de uma artista como Lydia Okumura pode render diálogos com os artistas de nosso programa. A parceria com a Martins&Montero surgiu da vontade em comum que temos em fazer com que a obra de Okumura alcance públicos cada vez maiores dentro e fora do Brasil”, avalia Alexandre Roesler, sócio-diretor da galeria.
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Não é exagero afirmar que as pesquisas de Lydia, que diz “quero expressar a imaterialidade de tudo” e foi assistente de Sol LeWitt (1928-2007), um dos expoentes do minimalismo conceitual, acabaram por inseri-la no restrito “clube” das teóricas da arte brasileira da geometrização abstrata, com Tomie Ohtake, Mira Schendel e as Lygias, Clark e Pape. A arte geométrica explora analogias e significados complexos, mas tem como objetivo atingir a simplificação para comprovar que tudo pode ser sintetizado. Com materiais como barbante, arame, tinta acrílica, vidro, alumínio, carvão e grafite, Lydia concebe instalações site-specific que se relacionam diretamente com a arquitetura do espaço expositivo no qual são pintadas formas que driblam a percepção visual sobre paredes, cantos e pisos, e ainda conectados por meio de fios, resultando em formas geométricas que se projetam no campo espacial e criam a ilusão de objetos tridimensionais.
Eis algumas frases de Lydia Okumura:
“De acordo com meu pai, que era calígrafo, seu espírito artístico teve um efeito cármico sobre mim. Meu minimalismo e a questão geométrica presente em minha obra definitivamente possui raízes japonesas. Está no meu DNA”.
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“Adoro viver em Nova York. Quando terminei a FAAP e ganhei o prêmio da Bienal de São de 1973, conheci o artista alemão conceitual, Klaus Rinke, que me disse que para um artista Nova York era o lugar para se viver. Obtive meu visto de estudante graças a uma bolsa do Pratt Graphics Center em Manhattan e cheguei em Nova York em maio de 1974. Eu tinha 25 anos”.
“Foi durante o período que estudei na FAAP que comecei a expressar minhas ideias sobre a geometria e o espaço, e percepção versus realidade. Eu levava meus materiais aos concursos de arte e pedia autorização para usar as paredes ou pisos. Fazendo o mínimo de intervenção e ia testando as limitações físicas do espaço. Descobri que a linguagem da geometria é uma forma de expressão, simples, objetiva, verdadeira e harmoniosa para expressar ideias conceituais. Eu queria combinar ideias sobre a questão da dimensão – de três dimensões à superfície plana – para atingir uma multi-dimensão perceptível apenas pela mente”.
SERVIÇO
Lydia Okumura: A imaterialidade em tudo
Martins&Montero e Nara Roesler, São Paulo
Até 3 de agosto de 2024
Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) [email protected]
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
[email protected]
Instagram: @galerianararoesler
http://www.nararoesler.com.br/
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